Um sonho virou tragédia em menos de três dias em São Januário. O garoto Wendel Junio Venâncio da Silva, de 14 anos, morreu ontem no campo do centro de treinamento do Vasco, em Itaguaí, após passar mal. Sem atendimento médico no CT, o menino foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itaguaí, aonde chegou sem vida. O jovem atacante veio de São João Nepomuceno (MG) indicado pelo ex-jogador do Vasco Marco Aurélio Ayupe. Ele caiu no gramado depois de 12 minutos de treino no CT do empresário Pedrinho Vicençote, que o Vasco usa desde setembro de 2010.
A causa da morte não foi revelada pelo Instituto Médico Legal de Campo Grande, para onde o corpo foi encaminhado. Ao chegar à UPA, ele tinha aspecto de ter sofrido convulsão. Segundo amigos que faziam teste com ele, Wendel não tinha se alimentado no dia. Num primeiro momento, o Vasco negou a ausência de médico no CT. Para o Jogo Extra, pais de garotos afirmaram que atendimento médico só está disponível em dias de jogos.
- Havia médico sim, havia tudo - disse Manoel Moutinho, vice-presidente do departamento médico do clube, que só chegou ao hospital quatro horas depois do garoto chegar à UPA.
O presidente Roberto Dinamite não foi ao IML. Somente às 21h30m, o dirigente se manifestou por nota.
- O atleta apresentou, como de praxe, e obrigatório, atestado de seu médico assistente dando-o como hígido, saudável e apto à prática esportiva. Todos os atletas em teste são respaldados pelo referido atestado de seu médico assistente. No caso específico desse atleta, o atestado foi emitido em 3 de fevereiro de 2012 - dizia a nota.
A caseira do CT, identificada como Dionísia, disse que, devido a obras "nada disso (departamento médico) funcionava" no local de treinamento.
- Tem vestiários. Por enquanto mais nada, porque não estão alojados. Não fica ninguém. Só quem está na obra somos eu e meu marido — disse ela.
Quem levou o garoto ao hospital foi o ex-lateral Cássio, técnico do sub-15. Ele disparou em direção ao seu próprio carro e seguiu para a UPA. A equipe médica ainda tentou reanimá-lo, entubando-o, mas não houve resposta. Segundo relatos de enfermeiros, o menino apresentava marcas de lágrimas descendo dos olhos, como se chorasse de dor antes de morrer.
Amparado por Ayupe, pelo vice-presidente médico do Vasco, Manoel Moutinho, e pelo médico do clube Clóvis Munhoz, o pai do menino, seu Carlos, foi impedido de falar sobre a morte do filho.
- Sempre tem pessoas, como os preparadores físicos, que podem agir como socorristas. Não estamos tentando esconder nada. Tudo será esclarecido — afirmou o diretor de futebol amador Manoel Moreira.