Há três dias, Wendel, de 14 anos, chegou ao Vasco para fazer testes no clube. Veio indicado pelo ex-lateral-direito Marco Aurélio Ayupe, que mantém escolinha de futebol e trabalha na secretaria de Esportes de São João Nepomuceno. Na noite anterior à morte no campo de Itaguaí, o garoto não entrou em São Januário para jantar. Segundo o pai de um outro menino da base do Vasco, há uma lista com nomes de jogadores que impediu o garoto de se alimentar dentro do clube.
— Ele não entrou por causa do jogo, da lista na porta e veio ver o jogo do Vasco na nossa casa. Ficamos arrasados — disse o pai, que não se identificou.
Segundo relatos de meninos que treinam no clube, a comida fornecida pelo Vasco — que já foi pior — ainda é muito ruim. De volta ao alojamento, que fica numa ladeira em frente à sede de São Januário, na rua Ferreira de Araújo, o garoto comeu bife com macarrão antes de dormir. Às 7h15, horário de apresentação no Vasco, chegou ao clube para pegar o ônibus que ia para Itaguaí, a 70 km do Rio. Em estado precário, os ônibus que levam a garotada todos os dias para o treino, numa viagem de até duas horas, enguiça no meio do caminho.
Quando a reportagem do Jogo Extra chegou ao local onde Wendel morou por três dias, dois funcionários do Vasco, que não quiseram falar, levavam as roupas do garoto embora da vila onde meninos, geralmente, em testes moram.
— O meu filho nunca se alimentou pelo Vasco. Só em dia de jogo que dão café mais reforçado, mas ele sai de casa com um copão de vitamina, porque sei que lá a coisa é feia — disse a mãe de outro menino.
O anonimato é comum dentro do departamento amador de futebol do Vasco. Há tempos, pais reclamam das condições de alimentação, do atendimento médico, de moradia e, inclusive, denunciam corrupção nas categorias de base.
— Para mim, isso não é novidade nenhuma. Paguei do meu bolso uma artroscopia do meu filho — disse outro pai de garoto.
O vice-presidente jurídico do Vasco, Aníbal Rouxinol, negou as más condições aos garotos. Ele disse que o clube não vai fugir da responsabilidade no caso.
— A responsabilidade é de todos. Não vamos fugir. Mas agora é desagradável falar nisso. Depois nós vamos ver o porquê, as causas, onde está a falha — disse.
Fonte: Extra online