Herói em 98, Donizete admite que sentiu pressão em substituir Edmundo

Quarta-feira, 08/02/2012 - 16:38

Ele tem grande identificação com o Botafogo, mas foi com a camisa do Vasco que Donizete conquistou o maior título de sua carreira. Com quatro gols na competição, dois deles marcados nas finais, o Pantera foi eleito o melhor jogador da decisão da Libertadores de 1998, conquistada pelo Gigante da Colina, e não se esquece daquela época. Muito menos o desafio que teve de substituir Edmundo, ídolo da torcida que acabara de se tornar o maior goleador da História de uma edição do Brasileiro e partira em busca de novos desafios para o futebol europeu.

Nesta entrevista exclusiva realizada na Granja Comary, em Teresópolis, o ex-jogador fala com carinho do tempo que esteve em São Januário, confirma sua presença na Colina no jogo desta quarta-feira para torcer por Juninho e Felipe e diz qual é o seu próximo objetivo: ser treinador de futebol.

Donizete relembra os tempos de 'Pantera' no Vasco


O que tem feito desde que pendurou as chuteiras?

Desde que parei de jogar, em 2006, penso na possibilidade de me tornar técnico. Por isso, me inscrevi no Curso de Aperfeiçoamento para Treinadores da CBF. Minha principal meta hoje é essa. No entanto, quero começar devagar, comandando times nas divisões de base para pegar experiência. Só depois que estiver calejado pretendo trabalhar nos profissionais. Acredito que assim vou ter mais estrutura para seguir o meu caminho.

Fale mais um pouco sobre esse curso.

O curso tem 30 alunos e carga horária de 460 horas. Não sou o único ex-jogador aqui. Tem o Fábio Luciano, o Paulo Isidoro e o Wellerson, goleiro do Fluminense na década de 90. Tem sido muito legal e até mesmo o Mano Menezes já veio dar uma aula para a gente.

O que você lembra da época no Vasco?

Tenho uma lembrança magnífica daquela época. No Rio, só tinha atuado no Botafogo, onde fui campeão carioca e Brasileiro. Por isso, a proposta do Vasco me pegou de surpresa. Cheguei ao clube indicado pelo Edmundo, que havia sido o cara em 1997, acabado de se tornar o maior goleador do Brasileirão e se transferido para a Fiorentina. Minha responsabilidade era enorme. Mas, graças a Deus, o Vasco tinha um grupo excelente dentro e fora de campo. Eu, que cheguei para o lugar do Edmundo, e Luizão, que substituiu o Evair, outro que estava em excelente fase, nos encaixamos rapidamente. Por tudo isso, me orgulho de ter sido considerado o melhor jogador daquela Libertadores.

Você falou que foi indicado pelo Edmundo. Como foi substituir o Animal em São Januário?

Confesso que no início foi complicado para mim. Senti demais a pressão de substituir o Edmundo no ano do centenário do clube. Me tremia todo, a barriga gemia antes dos jogos (risos). Uma sensação que jamais havia acontecido comigo. Não era fácil estar no lugar de um dos maiores ídolos do Vasco. Mas, desde o início, procurei corresponder às expectativas com muito empenho e dedicação durante os jogos e, assim, pude mostrar o meu valor. Me senti especial, pois foi um momento único na minha carreira. Fui campeão pelo Botafogo, no México, no Japão, pelo Corinthians, mas o título de maior expressão da minha carreira conquistei com a camisa do Vasco. E ainda marquei gols nas duas finais.

O que você sente ao ver Juninho e Felipe, seus companheiros naquela época, no Vasco de novo?

Vou fazer questão de ir ao estádio ver o jogo entre o Vasco e o Nacional, que é muito bom. E um dos principais motivos para eu ir a São Januário é poder ver Juninho e Felipe atuando juntos de novo. É muito legal ver um companheiro seu ainda em atividade atuando em alto nível. Se a parte física não é a mesma, sobra qualidade aos dois. Eles querem o bicampeonato e têm condições. Vai bater uma nostalgia bacana. Mas acredito que não serei o único do time de 1998 a torcer. Todos vão vibrar pelos dois e pelo Vasco.

Na sua opinião, o Vasco é favorito este ano?

Acho que o Vasco tem totais condições de ser campeão da Libertadores. Estreia na competição como um dos favoritos. O clube se planejou antecipadamente, se estruturou e tem um grupo qualificado. Tem ótimos zagueiros, talvez a melhor dupla do futebol brasileiro no momento. Um lateral-direito que está voando, outro jogador pelo lado esquerdo que tem ido bem. O meio de campo com Eduardo Costa, Juninho, Felipe e Bernardo é fantástico e tem atacantes com faro de gol. Diego Souza está melhor atuando mais na frente e Alecsandro é artilheiro nato. Além do mais, o treinador já estipulou seu método de trabalhar e é muito querido. Por tudo isso, dá para chegar novamente. Nem mesmo o atraso nos salários deve atrapalhar, pois, nessa hora, a vontade de ser campeão fala mais alto.

O que tem a dizer sobre o Alecsandro?

O Alecsandro é um atacante versátil, que tem muita presença de área. Particularmente, gosto muito do estilo dele. É um centroavante que sabe como poucos a arte de marcar gols, é experiente por já ter sido campeão da Libertadores pelo Internacional e poderá ajudar o Vasco agora. Em 1998, o time tinha a pantera em campo, agora torço para que tenha muitas caretas do Alecsandro nas comemorações (risos).

O que foi determinante para o Vasco ganhar a Libertadores em 1998?

Quando lembro daquela Libertadores, penso na dificuldade que tivemos na primeira fase. Não começamos bem, perdemos os dois primeiros jogos e empatamos o terceiro. Só começamos a ganhar quando a situação já estava preta. A virada começou nos jogos de volta, e o primeiro adversário foi o Grêmio. Marquei um dos gols na vitória por 3 a 0. Acabamos nos classificando para a fase de mata-mata.

Para você, qual foi o momento mais marcante naquela competição?

Dois momentos ficaram marcados para mim: o jogo contra o River Plate, com o gol do Juninho já no fim, e o segundo jogo da final. Tem uma história muito engraçada daquela decisão em Guaiaquil. Quando chegamos ao hotel, a gente tinha certeza de que não ia conseguir dormir nos quartos por causa dos torcedores do Barcelona, que ameaçavam o nosso time. Falei para o Juninho e para o Pedrinho que o jeito era ficar na cozinha, escondido. E lá ficamos por um tempo até o clima melhorar (risos).

E o gol mais importante na competição?

Aquele primeiro gol contra o Barcelona de Guaiaquil, em São Januário, até hoje dá o que falar (risos). Pedrinho foi virar o jogo e ninguém acreditou que a bola ia passar pelo zagueiro. Quando dominei a bola, consegui ver os torcedores com as mãos na cabeça desesperados para eu não chutar a bola, pois estava livre e poderia avançar até dentro da área. Decidi a finalização de longe, mas sabia que seria perseguido para sempre se errasse (risos). Foi uma emoção grande na hora. Mas tudo deu certo. A bola foi no ângulo e todos comemoraram.

Você ainda mantém contato com alguém daquele time?

Ainda consigo ter contato com muita gente. O grupo tinha o mesmo objetivo: ser campeão da Libertadores no ano do centenário do clube. Estou sempre com o Mauro Galvão, com Luisinho, Odvan e Luizão. Ainda tenho contato também com o Pedrinho, com Carlos Germano, Felipe e Juninho. Sempre que a gente se reúne é uma festa. É bom para matar a saudade.

Fonte: O Dia online