Se, para a Libertadores 2012, o Vasco tem um “mito” na zaga, em 1998 o clube tinha nesse setor uma verdadeira lenda. Ele é uma lenda viva na galeria de heróis do Vasco da Gama. Mauro Geraldo Galvão, o eterno Capitão Mauro Galvão, é o nosso personagem para falar da estreia do Vasco na disputa da competição.
Zagueiro legendário de uma safra onde a técnica e a visão de jogo, aliadas a um vigor físico exuberante, distinguiam os bons e os melhores, Mauro foi o líder inconteste do escrete vascaíno no final dos anos 90.
Marca registrada do único grande clube a conquistar títulos ao completar 100 anos de existência, Mauro foi capitão do Centenário do Vasco e também “capitão das Américas”. Os olhos negros do zagueiro ainda brilham quando ele, em entrevista exclusiva para o SuperVasco.com, lembra das conquistas e do momento que o time atravessava naquela temporada:
“O Vasco vinha de um bom Brasileiro, fez uma boa campanha em 1997, e manteve praticamente todo o time. Só saíram o Evair e o Edmundo, que foram muito bem substituídos por Donizete e o Luizão. Então, o time era praticamente o mesmo, tinha o mesmo treinador e isso foi muito importante. É um fator que eu considero fundamental porque o entrosamento era bom e com o passar do tempo foi melhorando. Isso foi fundamental para nós” – comenta Mauro, encontrando, nesse fato, um elo de ligação entre a disputa daquela Libertadores e a disputa da taça de 2012:
“Acho que nesse sentido é muito parecido com o que aconteceu com o Vasco neste ano. O Vasco também conseguiu manter o time e isso é muito importante. É um ponto positivo, porque no futebol o entrosamento é fundamental” – opina, com o conhecimento de causa de quem viveu uma longa trajetória de sucesso nos gramados.
Mauro lembra que a competição é muito dura, e que, em 1998, as coisas pareciam não caminhar tão bem a princípio, não obstante a força do elenco e o afinco da equipe em sua preparação:
“Tivemos um começo muito difícil. Perdemos as duas primeiras partidas. Tínhamos três partidas para fazer fora de casa, perdemos duas e a terceira partida nós empatamos lá no México, contra o América. Aí jogamos em São Januário e ganhamos as três partidas. O time ganhou moral naquele momento e sentiu que em casa, com o apoio do nosso torcedor, jamais perderíamos algum jogo. Foi uma demonstração de força do grupo do Vasco. Jogar em casa para nós era muito bom, era um ponto positivo. Ao mesmo tempo, fora de casa, o nosso time jogava muito fechado, sabia se fechar. Isso era motivo de confiança também. As outras partidas foram importantes, tanto passar pelo Grêmio, que é um time que tem tradição na Libertadores, pelo Cruzeiro, que havia sido campeão um ano antes, e pelo River Plate, que era considerado o melhor time das Américas. Eram só adversários fortes, adversários difíceis, mas conseguimos nesses jogos passar e isso foi importantíssimo, porque chegamos à final com uma experiência” – lembra o vultoso capitão.
O ano de 1998 representava dois marcos históricos para o clube de São Januário: além do aniversário de 100 anos do Gigante da Colina, faziam 50 anos da conquista invicta do titulo Sul-Americano de 1948, feito glorioso do memorável Expresso da Vitória. O clima festivo aumentava o orgulho e as pretensões vascaínas naquela disputa, como bem lembra Galvão:
“Era o ano do centenário do Vasco e existia a expectativa de se fazer uma temporada boa. Naquele momento o Vasco não vinha disputando títulos. Foi a partir dali - a partir do Brasileiro de 1997 e das conquistas do Estadual e da Libertadores em 1998 - que o Vasco começou a lutar por todos os títulos possíveis no Brasil. Acho que foi ali que o Vasco deu um salto. É normal, pressão faz parte do futebol.
A emoção de erguer, como capitão, a taça mais cobiçada das Américas também permaneceu intacta na lembrança do eterno zagueiro vascaíno:
“Foi muito legal, porque era um título que eu queria muito. Além de ter um desejo pessoal, de eu querer ter um título como a Libertadores, eu já havia disputado uma final quando estava no Inter e acabei perdendo para o Nacional do Uruguai. Então ali era outra oportunidade que apareceu e não queria deixar escapar. Nós tínhamos um grupo muito unido, que trabalhava bastante, que era determinado e era importante coroar esse trabalho com o título e colocar o Vasco entre os campeões da Libertadores. Era fundamental e nós trabalhos para isso. Foi muito importante para todos, é claro que para mim particularmente, por ser o capitão da equipe, foi emocionante poder levantar a taça com o Vasco num ano tão importante como foi o ano do centenário”.
O experiente líder vascaíno, conhecedor dos atalhos nobres do gramado, dono de uma alma de rara sintonia com os ares cruzmaltinos e sempre presente no coração dos torcedores da Colina, faz suas apostas no clube para 2012 e acredita em uma nova conquista:
“O Vasco tem tradição, tem camisa, tem torcida e time para fazer uma boa Libertadores. É muito difícil com certeza, mas para os outros também é. Os times brasileiros que disputarão a competição são todos grandes, todos com tradição e vai ser uma competição muito dura. Por conta disso, o Vasco vai ter que saber jogar. Tem bons jogadores, um elenco e jogadores experientes, mas precisará também um pouco de sorte, principalmente poder contar com todos os jogadores, não perder nenhum jogador é fundamental” – afirma.
Para tanto, evidencia alguns elementos que julga fundamental para reiterar essa expectativa:
“É um time que tem boa qualidade, que tem boa técnica, que mistura juventude com experiência e que está jogando há mais de um ano junto, o que é muito bom. Isso é importante porque os jogadores se conhecem. Existe um bom ambiente, a gente sabe porque acompanha. Isso é importante para que o Vasco possa superar os jogos e passar. Vai depender muito do desenrolar da competição, a primeira fase é fundamental. Tem que classificar e ver a partir daí quais são os times que vão ser os próximos adversários. Então, vai depender muito desse organograma do campeonato para ver tabela e quais serão os adversários. Eu acho que os adversários mais difíceis nesse momento são os brasileiros. Falo porque a Universidad de Chile e a LaU perderam alguns jogadores e acho que dificilmente repetirão o mesmo desempenho” – observa.
Doutor no assunto “zaga”, Mauro também analisou o atual setor da equipe vascaína, onde o “Mito” Dedé reina soberano, agora acompanhado pelo recém-contratado Rodolfo:
“O Dedé vem numa fase muito boa e o Renato Silva vinha atuando bem ao seu lado. O Rodolfo chegou agora e vai ter que demonstrar o seu valor e a sua condição atual. A gente sabe que é um bom jogador, mas não tenho acompanhado ultimamente, porque ele sofreu uma lesão no Grêmio e acabou não jogando tanto. Então, nós vamos conhecer agora como está o Rodolfo, a sua situação atual”.
Da mesma forma, Mauro destaca a importância de Juninho e Felipe como líderes e maestros da equipe na competição.
“Eles possuem essa condição de fazer a diferença. Já jogaram a Libertadores e são jogadores que têm uma importância muito grande. Eles vão ter que ajudar o elenco nessa competição, passando tranqüilidade, passando confiança e mostrando os perigos que existem nesses jogos, principalmente fora de casa. É preciso manter a calma, a tranqüilidade. Tem o Fernando Prass também, que é um jogador fundamental para o Vasco por sua postura, pela referência e por ser um goleiro muito tranquilo e que aparece bem nos momentos de dificuldade. Acho que esses jogadores, junto com o Alecsandro, que tem experiência e já vinha disputando Libertadores pelo Internacional, podem dar aquela palavra importante e ter uma participação fundamental nesse desenvolvimento do time dentro da Libertadores”.
Mauro comentou sobre as notícias de que teria sido sondado para assumir as categorias de base do Vasco.
“Não existe nada de concreto, mas eu não posso te dizer que não existe uma possibilidade. Tudo é possível, mas eu prefiro esperar porque as coisas na minha vida acontecem no tempo certo. Se tiver que acontecer, vai acontecer, vamos ver. No momento eu estou aqui no Rio e, caso aconteça alguma coisa, a gente pode conversar e isso realmente pode acontecer, ser concretizado. No momento não tem nada, pois o que vale na realidade é quando as coisas estão no preto e no branco” – afirmou, reiterando seu interesse em assumir essa função no clube.
Ao fim da conversa, Mauro abriu o coração e deixou escapar um pouco do que o Vasco representou em sua vida e em sua carreira:
“O Vasco representa muito. É um clube pelo qual eu tenho um carinho muito grande. Já no final da minha carreira, eu tive a possibilidade de jogar pelo Vasco, foram quase quatro anos, de 1997 a 2000. Realmente foi muito bom e eu sou muito grato ao Vasco por ter me recebido tão bem e pela torcida me tratar assim de uma forma tão carinhosa. Eu vejo o Vasco parte da minha vida, da minha carreira e certamente é uma lembrança que vai ficar para sempre na minha memória”.
E aproveitou para deixar uma mensagem afetuosa aos leitores do SUPERVASCO:
“O que desejo é que o Vasco tenha um bom ano. Esse ano vai ser muito intenso, muito disputado e o Vasco tem essa competição que é fundamental, que é a Libertadores. A gente sabe da importância que tem e estaremos torcendo para que esse grupo consiga repetir o que aconteceu em 1998. Se conseguirem será um grande presente para todos os vascaínos. Um abraço a todos e um bom ano”.
Que assim seja. Com as bênçãos de São Mauro Capitão Campeão Galvão!