Pelo segundo jogo consecutivo, o elenco do Vasco decidiu não concentrar como forma de mostrar a insatisfação com os salários atrasados. Jogador que recentemente renovou contrato com o clube estipulando ganhos por produtividade, Juninho Pernambucano garantiu que concorda e apoia a atitude dos companheiros. Mas após dez anos atuando fora do Brasil – oito na França e dois no Qatar –, o meio-campo tem a certeza de que a reclusão num hotel não está nem perto de decidir uma partida. Além disso, lamentou que a cultura do futebol do país não esteja preparada para aceitar o fim deste regime.
- Se fala muito de concentração no Brasil e está chegando ao ponto de que ela tem dado o resultado inverso do que se espera. Porque está se prendendo o jogador demais, e o jogador está dando um jeito de fazer o que acha que tem que fazer mesmo na concentração. É preciso haver mais consciência de atletas e treinadores. Se há jogo amanhã, nao dá para passar o dia e a noite de hoje fazendo algo que gaste energia. Mas, no fundo, no futebol a gente não acredita em planejamento ou trabalho. Somente em resultado, jogando bem ou mal. Infelizmente é assim, e eu torço para que um dia a mentalidade mude, porque é disso que o futebol brasileiro está precisando.
Juninho repetiu as palavras do companheiro Felipe na última sexta-feira e reforçou que a prioridade do Vasco deve ser quitar os atrasados com os funcionários que recebem menos. O jogador de 37 também lembrou que a atitude de não concentrar é uma forma de marcar posição sem que o andamento do trabalho diário seja afetado.
- Isso nada mais é do que um protesto e acho que essa foi a maneira menos prejudicial ao clube. O que os jogadores podem fazer numa situação como essa? Fica todo mundo emburrado, chateado, mas muito pior seria se tivesse falta de treino ou dedicação. Jogador de futebol fica sem opção de protestar. Então, acho que o grupo foi muito inteligente ao fazer isso. De qualquer maneira, nós entendemos que essa situação não é nada que o clube queira. Todo mundo sabe que o passado do Vasco complica. São vários ex-atletas que merecidamente têm o direito de receber e isso acaba prejudicando a geração de agora.
O camisa 8 também não preferiu confirmar se o procedimento será repetido para o jogo da próxima quarta-feira, contra o Nacional de Montevidéu, que marca a volta do Vasco à Libertadores após 11 anos. Dificilmente o clube resolverá a situação dos salários até esta data, já que a verba de patrocínio da Eletrobras continua retido pela Justiça e deve ser analizado pelo juiz responsável apenas nesta terça. Para o meio-campo, apesar de o duelo contra o time uruguaio ser tratado como de extrema importância por clube e torcida, os jogadores encaram todos os compromissos da mesma maneira.
- O grupo ainda não conversou sobre quarta, mas eu respeito o Friburguense como respeito a Seleção Brasileira. Seja qual dia, hora e adversário, jogar pelo Vasco é sempre importante. Esse tem que ser o pensamento de todos os jogadores. Não é porque vamos jogar uma competição que para todo mundo e para a historia é mais imporante que deixamos de respeitar os outros adversários. Até quarta a gente espera. O que vale é a opinião da maioria. Estamos tentando isso sem expor ninguem. O que espero que a torcida entenda é que todo mundo tem o direito a fazer seu protesto de alguma forma. É algo bacana, que não prejudica o clube e nem a atuação de ninguém.
No entanto, Juninho admitiu que, ao adotarem esse comportamento, os jogadores assumem uma responsabilidade que vai ao encontro das cobranças sofridas por qualquer clube do Brasil.
- Temos um grupo maduro e com o qual não tenho preocupação alguma. Se os resultados não acontecerem, alguém sempre vai falar que é porque não houve concentração. Espero que o time continue vencendo, e nós torcemos para que o Vasco em breve regularize tudo, pois é muito importante para todos.
Fonte: GloboEsporte.com