Faz sol e calor na manhã da Rua Bariri, região da Leopoldina, Zona Norte do Rio. Arquibancadas vazias, nenhuma câmera de TV apontada para o campo onde treina o Olaria. O campeonato começou e agora é oficial: o reinício de carreira é bem diferente de tudo a que Pedrinho se acostumou. Naquele ambiente, é duro imaginar que um jogador de 34 anos, habituado a clubes grandes e a disputar títulos, se prepare para entrar em campo numa sexta-feira às 17h, num Engenhão provavelmente vazio e para enfrentar os reservas do Flamengo com o espírito de quem joga uma final.
Só que, para Pedrinho, é diferente. Aos seis anos, pôs os pés no Vasco pela primeira vez para jogar futsal. Durante 17 anos seguidos, cresceu ouvindo que o rival era o Flamengo, que vencer o Flamengo era o tal "campeonato à parte". O coração de torcedor se deixou levar. Parecia se transformar nos clássicos contra o rubro-negro. E pegou uma época em que os rivais faziam decisões seguidas. Até hoje lembra que, em 1998, no 0 a 0 que deu ao Vasco o título da Taça Guanabara, aplicou drible desconcertante em Marcos Assunção. Não esquece o gol de 1999, que decidiu o duelo pelo Brasileiro. Mas nada é tão marcante quanto a embaixadinha que fez nos minutos finais da humilhante goleada de 5 x 1 de 2000, pelo Estadual. Para os rubro-negros, uma provocação gratuita.
- Em 1999, eu estava operado e vi a final do Estadual numa cabine. Perdemos com o gol do Rodrigo Mendes e torcedores do Flamengo me ofenderam. Eu disse a mim mesmo que daria a vida no clássico seguinte. Quando fiz o quinto gol, fiz um gesto para a torcida ficar calada. Ali, sim, foi desabafo. A embaixadinha não. Fiz em progressão. Dominei e a bola subiu. Se o Juan não me desse uma voadora, não teria tido tanta confusão e o jogo seguiria. Mas foi um dos jogos especiais - recorda.
A vida num pequeno
A cultura da rivalidade é tão enraizada que ele não tem qualquer hesitação ao falar da expectativa para o duelo desta sexta-feira. Ainda que, agora, vista a camisa do Olaria.
- Olha, vai ser como se eu vestisse a camisa do Vasco contra o Flamengo. Vai ter um sabor especial e vou querer vencer. A motivação é a mesma - avisa Pedrinho. - Desde criança no Vasco, desde o fraldinha, você aprende a colocar na cabeça que o grande rival é o Flamengo. Ficou marcado.
Motivação não lhe falta. Mas é fato que Pedrinho vive um desafio muito mais mental do que técnico no Olaria. Todo dia, precisa lembrar a si próprio que a realidade é outra:
- A questão é que eu penso em título o tempo todo. Você sempre cria esperança, imagina que o clube pode pegar uma semifinal de turno, jogar uma decisão. Isso é o que motiva. Mas às vezes é preciso entender a realidade do clube, ir com calma. É tudo totalmente diferente: não tem tanta pressão, cobrança externa, não tem imprensa.
A falta de pressão até ajudou Pedrinho. Após uma carreira às voltas com lesões, em dado momento ele treinava pensando apenas em não se machucar. Desde que chegou ao Olaria, em outubro, não teve contusões. Nos testes físicos, destacou-se:
- Minha cabeça não diz que estou velho. E é mais difícil jogar aos 34 anos tendo ficado por dois anos parado. Olha na Europa e repara quantos jogadores mais velhos do que eu estão em times de ponta. E eu me cobro muito, cobro resultado, mesmo $Olaria. É isso que preciso controlar às vezes, ter o discernimento que as dificuldades em time pequeno são maiores. Mas estou feliz. Estou treinando, me dedicando, ajudando uma garotada de potencial que tem aqui.
Fla mantém os reservas
Pedrinho evita os planos para o futuro. Afinal, estava de malas prontas para ir à Disney com a família quando surgiu o Olaria.
- Não vim para ser mais um. Mas também não fico planejando. Voltar a um time grande, então, só se eu fizer um campeonato espetacular, que faça as pessoas falarem: "nossa, que desempenho, que condicionamento". Roubar nunca foi do meu feitio.
O Flamengo fará seu terceiro jogo no Estadual com reservas. Com a saída de Antônio Lopes Júnior, que era auxiliar de Vanderlei Luxemburgo, Jaime de Almeida comandará a equipe.
Fonte: Yahoo