Ricardo Gomes pretende voltar à função de treinador após ter sofrido AVC hemorrágico em agosto do ano passado. O clube carioca não fixou data para a volta, mas acredita que o treinador deva retornar às atividades em até 60 dias. O recomeço ao futebol é visto com ressalvas por médicos neurocirurgiões e neurologistas consultados pelo UOL Esporte.
As recomendações médicas são distintas, se dividindo entre os que afirmam ser temerário o retorno e os que aprovam a volta após recuperação do AVC.
O médico neurocirurgião Luiz Pascuzzi alerta para o trabalho estressante em que é submetido um técnico de futebol. Ele considera arriscado o retorno de Gomes ao cargo devido à forte cobrança por vitórias e títulos.
A sobrecarga emocional pode trazer efeitos negativos a um indivíduo com histórico de problema vascular, salienta.
“Não posso comentar de forma aprofundada, pois não foi um caso em que acompanhei de perto, mas uma pessoa que teve AVC precisa ter uma série de cuidados. Uma vez controlado, não tem problema nenhum. Agora, trabalho sob pressão é bem negativo para uma pessoa com histórico de acidente vascular. A saúde dele é boa, foi atleta, mas a saúde vascular dele é fragilizada. Posso dizer que é uma pessoa de risco potencial”, declarou Luiz Pascuzzi.
Ricardo Gomes foi submetido em agosto a uma cirurgia para drenagem de um coágulo formado no lado direito do cérebro após um acidente vascular cerebral (interrupção da irrigação sanguínea de alguma região do sistema nervoso) com hemorragia.
O neurocirurgião Fernando Campos Pinto, do Hospital das Clínicas, em São Paulo, se diz favorável à volta de Ricardo Gomes e o aconselha a praticar meditação, sugerindo a ioga. A atividade, segundo ele, “reforça” o cérebro, aumentando o controle em situações de explosão emocional.
“A meditação e a ioga são técnicas de ‘gerenciamento do pensamento’, aumentam o controle emocional e são indicadas a pessoas como o Ricardo Gomes. Sou favorável ao retorno dele ao futebol, porque o afastamento poderia gerar uma pessoa angustiada e deprimida, o que é pior”, declarou Fernando Campos Pinto.
“Eu pensaria que ele não poderia ser um piloto de aeronave ou um motorista de ônibus, onde os fatores de riscos são maiores”, complementa.
O neurologista Álvaro Pentagna, do Hospital São Luiz, em São Paulo, entende que Ricardo Gomes tem plenas condições de retornar ao futebol e reforça o discurso de que o treinador precisará de monitoramento médico intenso quando reassumir o comando.
“Ter um AVC não significa que ele vá ser um inválido. Tive pacientes muito mais graves, mas que voltaram e se adaptaram ao trabalho”.
Fonte: UOL