No dia 17 de julho de 1994, enquanto o Brasil lutava pelo tetracampeonato contra a Itália, Maria Aparecida Barbosa vivia a emoção de uma final de Copa do Mundo particular. Ela entrara em trabalho de parto durante o jogo e, enquanto Romário e cia. levantavam a taça, Maria comemorava com o marido, Manoel Francisco, o nascimento do filho. Naquele momento, soou natural que escolhessem para a criança o nome do herói do tetra: Romário. O que eles não podiam imaginar é que, 18 anos depois, veriam o filho também trilhar o caminho do futebol. Destino similar ao de dezenas de jovens que atendem por esse nome e este ano, ao mesmo tempo que atingem a maioridade, começam a aparecer para o futebol.
Há Romários da safra 1993/ 94 por todo o Brasil. Eles se fazem presentes em clubes pelos quatro cantos do país, de $ão Paulo ao Rio Grande do Norte. No Rio, há pelo menos 12. Cinco deles estão nos quatro grandes. O Vasco, clube que lançou o Baixinho, tem dois: Romário Correa de Souza, e Romarinho, o filho do tetracampeão, que não se sente o primeiro desta geração de homônimos só por carregar o DNA do craque.
— Não tem isso, não. Romário é meu pai. Eu sou o Romarinho. E eles (os demais jogadores) têm esse nome por causa da história dele.
O Romário de Manoel e Maria é atacante do time de juniores do Flamengo. Antes de chegar lá, passou por CFZ e Grêmio. E não é baixinho. Aliás, não tem semelhanças $quem serviu de inspiração para seu nome. Assim como a maioria dos jogadores de sua geração, usa um enorme relógio dourado, cordão e pulseira prateados, brincos brilhantes e cabelo moicano. Apesar de ser admirador do craque tetracampeão, fala com mais entusiasmo de Ronaldinho Gaúcho, com quem conviveu durante a pré-temporada do Flamengo em 2011.
— Ele foi muito legal comigo. Até me deu umas dicas de como tocar na bola — contou o jovem atacante, que no Flamengo veste a 32.
O Romário rubro-negro tem um amigo em comum com Ronaldinho Gaúcho, por isso a aproximação entre os dois em 2011. Mas enquanto passava duas semanas com os profissionais em Londrina, seus companheiros de juniores foram campeões na Copa São Paulo e ganharam destaque.
— Se eu tivesse disputado a Copa São Paulo, talvez ganhasse outra chance com os profissionais ao longo do ano.
Ser um Romário no meio do futebol não é fácil. Exige paciência para aguentar as perguntas sobre o nome e, sobretudo, autoestima elevada para lidar com as comparações com o Baixinho. Romarinho, o filho do craque, que o diga. Há dez dias, ele brilhou ao marcar um dos gols da vitória do Vasco na Copinha. E $á veio a chuva de comparações. Mas ele diz que não se importa. Usando um discurso comum ao de seus xarás, garante que o nome é um orgulho e não uma maldição.
— De que adianta mudar de nome? Mesmo sem ele eu iria sofrer com a pressão por ser filho do Romário. Então eu gosto dele, sim.
O Romário que tentou não ser Romário
Curiosamente, o mais bem sucedido dos Romários até o momento é aquele que tenta esconder o nome. Romário Leiria de Moura é zagueiro do time principal do Internacional e capitão da seleção brasileira sub-20. Embora seja conhecido pela torcida colorada pelo primeiro nome, durante os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México, ele pediu para jogar com a inscrição R. Leiria nas costas da Amarelinha.
— Eu já não aguentava mais todo mundo me perguntando sobre meu nome. Daí pedi para colocarem R. Leiria — afirmou o jogador, através da assessoria de imprensa do clube gaúcho.
Em seu Twitter, o zagueiro também se identificou como @R_Leiria. Mas ele garante que a medida foi apenas por precaução e que gosta do nome escolhido pelo pai.
— Ele é um fã do Romário e decidiu me dar esse nome. Eu gosto e tenho muito orgulho dele.
Tafarel e Roberto Baggio: outros homônimos da geração 1994
Inspirar pais de Norte a Sul na escolha do nome dos filhos não é privilégio de Romário. Outros personagens da Copa de 1994 também deixaram seus nomes em jogadores que agora começam a lutar por um lugar ao sol. São os casos do meia Raí e do goleiro Taffarel, que, ironicamente, tem um xará que atua como atacante no Paulista, de Jundiaí-SP.
— Meu pai gostava bastante dele. Aí ele deu a ideia e minha mãe gostou – contou Tafarel (com um só efe), que nasceu em Oswaldo Cruz, interior paulista, e nunca se arriscou a jogar debaixo da trave. — Não dá. Ser goleiro não é a minha praia. Gosto de jogar como meia-atacante mesmo.
E não foi nem preciso ser campeão da Copa dos Estados Unidos para servir de inspiração aos pais. O italiano Roberto Baggio, vilão da edição de 1994, também tem um homônimo jogando no Brasil: o atacante do Americano-MA, de 17 anos.
— Eu estava prestes a nascer. Meu pai estava assistindo à final da Copa do Mundo e prometeu que, se o Roberto Baggio errasse o pênalti, ele botaria esse nome em mim — contou o atleta.
Prece atendida, promessa cumprida. O que o jovem maranhense não esperava era que, além do nome, ele também herdaria a falta de sorte do italiano nas cobranças de pênalti. Em partida válida pela segunda rodada da Copa São Paulo, Roberto Baggio perdeu um pênalti no empate com o São José.
Fonte: Extra Online