Pivô da mais recente polêmica envolvendo a arbitragem brasileira, o ex-árbitro Gutemberg de Paula Fonseca conta com um dossiê formado basicamente por material recolhido da internet para sustentar as acusações feitas por ele contra a Comissão de Arbitragem da CBF.
Em contato com a Folha por telefone, Gutemberg se recusou a enviar os documentos que diz serem suficientes para incriminar o presidente da comissão, Sérgio Corrêa, a quem acusa de ser corrupto e de pressioná-lo antes de um jogo do Corinthians no Campeonato Brasileiro-2010.
O ex-árbitro permitiu que um fotógrafo da Folha fosse a seu escritório para fotografar os documentos reunidos em dossiê, que, segundo ele, tem mais de 1.000 páginas.
E o que se viu foi uma compilação de reproduções de reportagens publicadas em sites sobre casos que envolveram Corrêa e outro membro da comissão de arbitragem.
Todos eles amplamente divulgados à época e que foram arquivados por Ministério Público ou STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).
"Eu mostrei o dossiê todo, mas tem certos documentos que eu não podia abrir porque estão sob segredo de justiça", declarou Gutemberg.
"Eles [os acusados] não sabem a quantidade de coisas que eu tenho, e eles esperam que eu comece a botar para fora. Gostaria de colocar tudo isso na mesa e mostrar para a opinião pública", disse.
Gutemberg diz que não tornou as provas públicas para que os acusados não se articulem para descaracterizar o material que ele diz ter.
Ele afirma que só irá mostrar os documentos quando forem solicitados pela Justiça ou pela Fifa, que pretende acompanhar o caso.
Entre os papeis que Gutemberg mostrou à Folha estão reportagens sobre denúncias feitas a partir de 2007, ano
em que Corrêa assumiu a Arbitragem da CBF.
Uma delas, retirada de um clipping com notícias de jornais preparado pelo Ministério Público de Pernambuco, é sobre a denúncia feita em 2007 pelo ex-presidente do Santa Cruz, Edson Nogueira, de um suposto esquema de manipulação na Série B.
O caso envolveria Paulo Jorge Alves, então membro da comissão de arbitragem.
Outra, retirada do site do "Zero Hora", é sobre a acusação feita pelo chefe de arbitragem da federação do Rio, Jorge Rabello, de que Corrêa teria oferecido dinheiro para que juízes aceitassem ser excluídos do quadro da Fifa.
Ambas terminaram sem punições, tanto na Justiça comum como na desportiva.
Alves é um dos alvos de Gutemberg. Em 2007, o ex-juiz acusou o árbitro Pablo Alves, filho do dirigente, de reunir dados que demonstravam que Gutemberg tinha dívidas pendentes e entregá-los a um jornal na tentativa de prejudicar o colega, que ainda não portava o brasão da Fifa.
Segundo as regras da comissão, um juiz só entra na escala se não tiver débitos. O caso também foi arquivado.
Segundo Gutemberg, foi nessa época que ele passou a ser perseguido. "Eu buscava uma vaga da Fifa, e o Pablo era concorrente", disse. "Mais cedo ou mais tarde a verdade vai aparecer."
Fonte: Folha de São Paulo