Desejado pelo Sport, onde nasceu para o futebol, idolatrado no Lyon por ter projetado o clube internacionalmente, e rei em São Januário por tudo o que conquistou com o Vasco. Juninho Pernambucano ganhou tudo isso usando muito mais do que a qualidade técnica. Ele se tornou ídolo por onde passou por ter construído uma imagem de profissional irretocável. Hoje, prestes a completar 37 anos, o meio-campo renovou seu contrato com o Vasco, por mais seis meses. Mesmo com o curto período, ele ainda não fala em parar. Sabe apenas que está próximo.
Passando férias no Recife, Juninho Pernambucano recebeu a equipe do GLOBOESPORTE.COM/PE para uma conversa. Durante mais de duas horas o “Reizinho da Colina” falou sobre seu novo contrato, sua identificação com o clube carioca e revelou ser apaixonado pelo Sport, equipe onde surgiu para o futebol. No entanto, a grande surpresa ficou para um detalhe que poucos sabem: Juninho já vestiu a camisa do Santa Cruz e, por pouco, não defendeu as cores do Náutico.
É verdade que no início da carreira você quase começou em um dos rivais do Sport?
JUNINHO PERNAMBUCANO: Eu passei por muitos testes antes de começar. Fiz um teste no infantil do Náutico e passei, mas a estrutura era muito fraca. Aí voltei para o salão. Depois eu fiz um teste no Santa Cruz. Cheguei a jogar pelo Santa contra o Íbis e mais uma vez fui aprovado. Teria que voltar no ano seguinte para me apresentar, mas o lado torcedor falou mais alto, além disso era muito longe. Aí fiz um teste nos juniores do Náutico e fui aprovado também. Só faltando a minha documentação para ser federado pelo Náutico. Naquela época se você fosse federado por um clube, não poderia mais sair. Aí minha irmã arrumou um teste no Sport e eu acabei passando, e nesse meio tempo, o Sport foi mais rápido agilizou a documentação e eu acabei ficando lá.
Por falar em Sport, sua família torce pelo clube. Você também é rubro-negro ou só torce pelo Vasco?
Sempre fui Sport. A Ilha do Retiro foi o primeiro estádio que eu entrei. Sempre torci pelo Sport, estava lá no titulo de 87, vi o gol de Marco Antônio, de cabeça, e sempre acompanhei, me formei aqui. Lógico que eu também tenho uma identificação forte com o Vasco. Sempre escuto as pessoas falarem que existe uma rivalidade entre Vasco e Sport por conta disso, mas uma coisa não impede a outra. Eu me formei no Sport e tenho uma ligação muito forte com o Vasco.
A passagem pelo Sport foi curta, mas a torcida também lhe considera ídolo. Ainda pensa em defender as cores do Leão?
Pelo Sport eu fui campeão Pernambucano e da Copa Nordeste, mas só atuei um ano e meio. Minha passagem como jogador foi no Vasco. Até mesmo minha formação eu terminei no Vasco. Foi o clube que conquistei meus títulos, cheguei à Seleção. Eu acho que existem outros jogadores que são mais importantes no Sport. Já no Vasco eu faço parte da história. Em todas as escalações de melhor time a torcida me coloca. A minha identificação com o Vasco é muito forte. Mas continuo sendo Sport também. É lógico que passou na minha cabeça se poderia ainda jogar pelo Sport. Mas a cobrança seria maior que a recompensa. Talvez eu faça um jogo pelo Sport ou algo assim. Mas minha intenção é encerrar no Vasco.
Falando em encerrar a carreira, hoje você está prestes a completar 37 anos, já deu várias declarações que não sabe por quanto tempo continuará jogando e renovou com o Vasco só por seis meses. A Libertadores marca a sua despedida?
Ainda não defini isso. Eu sei que está muito próximo o momento de parar. Eu vi que o Marcos parou, ele é praticamente da minha geração. É difícil aceitar, mas eu sei que o fim da minha carreira está chegando. Ainda me sinto muito bem jogando, mas eu não me sinto confortável para assinar por grandes projetos, até porque não sei se aguentaria até o fim. Então, eu prefiro seis meses. Isso ajuda até no fator psicológico, porque sei que é um tiro curto onde eu posso me dedicar. Até porque me cobro muito e quero estar sempre no meu melhor, então seis meses é mais fácil.
Por falar em Marcos, o que você achou da aposentadoria dele?
A carreira do Marcos foi brilhante. Ele foi um dos melhores goleiros do Brasil. Foi penta, ganhou tudo pelo Palmeiras. É duro, mas a realidade é essa. É igual a envelhecer. Lógico que tentamos adiar isso, mas não tem como. Se ele escolheu parar é porque era o momento certo. Meus parabéns para ele que foi um dos melhores do país.
Nos próximos seis meses você e o Vasco voltarão a disputar uma Libertadores, competição onde você marcou um gol que originou uma música que a torcida dedicou a você. A volta ao torneio foi fator determinante para você seguir no clube?
Não. Mesmo que o Vasco não estivesse na Libertadores eu teria continuado. O que me motiva é esse reconhecimento do torcedor do Vasco, que é algo muito forte. Em 18 anos de futebol eu nunca vivi isso em lugar algum. Eles me receberam de braços abertos. Eu sinto a paciência e o carinho que eles têm comigo, até mesmo quando eu erro. Por isso voltei e decidi ficar.
Quem ficou na bronca com sua renovação foi a torcida do Sport, que ainda tinha esperanças de ver você na Ilha do Retiro, o que você acha disso?
No fundo, o torcedor do Sport tem todo direito de ficar magoado. Fui formado aqui, torço pelo Sport, minha família é Sport. Então isso pode fazer eles pensarem que eu deveria voltar. Torcedor é paixão e não razão. Vejo isso dentro da minha casa. Mas, prefiro ficar com a imagem de campeão pernambucano de 1994, e representar o Sport por onde eu passo.
E o que você espera do Vasco na próxima temporada. Mesmo sem muitos reforços o clube pode fazer bonito?
Como sempre teremos uma temporada duríssima. Muitos jogos e muitas competições, mas o Vasco manteve a base e podemos fazer uma boa temporada. A Libertadores é uma competição duríssima e não existe mais aquela vantagem dos times brasileiros para os outros. Vamos tentar entrar forte, para superar a fase de grupos que é a mais difícil. E, quem sabe, beliscar mais um título.
A saída do Rodrigo Caetano poderá atrapalhar o grupo?
O Vasco não poderia se dar ao luxo de perder o Rodrigo Caetano no período que o clube esta recuperando o seu prestigio. Os jogadores receberam isso de uma forma negativa, ele era uma pessoa que exercia uma influência positiva na equipe e todos nós ficamos preocupados. Eu me sinto à vontade para falar disso, pois sou o capitão da equipe. Mas como o Roberto Dinamite falou, o Vasco é maior que todos nós. Além do que, o clube tem três supervisores que são muito atuantes, o Fabiano, o Daniel e o Bruno e seria mais fácil esse trio fazer um trabalho em conjunto. Acho que dará certo uma solução interna.
Diferente de alguns jogadores você costuma treinar até nas férias. Essa dedicação é algo imprescindível ou é um pouco de exagero?
Eu peguei a mudança no futebol, quando o físico passou a fazer toda a diferença. Então, eu vi que teria que me dedicar aos treinamentos para conseguir manter um alto nível. Eu percebi isso e muitos não. Eu prefiro ter uma carreira sólida a cometer excessos. Nas férias, claro que curto mais do que treino. No entanto, qualquer atleta de alto nível não pode se dar o luxo de parar de treinar. Tirando os fora de série: os Ronaldos, Romário, Edmundo, o resto não pode parar. Não precisa exagerar, temos tempo para tudo. O dia tem 24 horas e podemos treinar, curtir, viver a família e descansar.
Você acredita que falta essa consciência profissional aos jogadores brasileiros?
Passei dez anos fora e quando voltei vi que não mudou muito a cabeça do atleta. Temos o talento, mas falta o profissionalismo. Os jogadores pensam que resolvem no campo. Muitos falam do Barcelona, mas a grande qualidade deles é a mentalidade dos seus jogadores. Jogam em conjunto, trabalham um pelo outro e treinam duro o tempo todo. O que me chamou atenção na derrota do Santos não foi o placar, foi a forma do jogo. Eles jogam no ápice da forma. Porque se o treinador coloca um que não está 100% atrapalha o conjunto. Temos que mudar. Os jogadores devem mudar assim como o treinador, que deve cobrar mais e não se preocupar tanto com o emprego. Só voltaremos a ter o domínio do futebol se tivermos disciplina.
Hoje em dia, é comum alguns ídolos exercerem cargos na diretoria ou até mesmo chegar a ser presidente. Você tem uma identificação única com a torcida do Vasco, já pensou em presidir o clube?
Por que não? Confesso que já pensei sim, em chegar a comandar um clube, que poderia ser o Vasco ou o Lyon, mas hoje não tenho preparação para isso. Até porque ainda sou jogador de futebol e, para assumir um clube, você precisa ter condições para isso. O que, atualmente, não é o caso. Mas, dentre vários outros pensamentos, isso foi algo que já pensei, sim. Quero fazer algo tão bem como faço dentro do campo.
Juninho Pernambucano
Fonte: GloboEsporte.com