Seguindo a ideia de apresentar edições especiais das redações de veículos de comunicação, o "Redação SporTV" esteve em maio deste ano no jornal "O Globo", no Rio de Janeiro. Foi uma maneira de mostrar para o assinante do Canal Campeão como o diário é feito. A presença de profissionais da publicação carioca no programa é constante. Caso do editor do caderno de esportes, Toninho Nascimento, que depois de sua última participação em 2011, no final de novembro, conversou com o SporTV.com.
Carioca de 51 anos, Toninho iniciou a carreira de jornalista na televisão. Chegou em "O Globo" em 1986, como redator de esportes. Em 1991 assumiu o cargo de editor do caderno internacional. Deixou o jornal por quatro anos até voltar em 1996, já como editor de esportes. Sempre da redação comandou as coberturas de quatro Copas do Mundo e quatro Olimpíadas.
- Fico sempre na redação. Eu brinco que eu sou o cara de Houston, não vou aos lugares. Eu fico em Houston controlando para não dar nenhum problema, fico pilotando daqui – disse.
No bate-papo, Toninho falou sobre as mudanças editoriais no caderno de esportes e contou como a internet mudou a abordagem das matérias do jornal impresso. Ele não está certo se, mesmo com a Copa do Mundo e da Olimpíada no Brasil, o mercado de trabalho para jornalistas vá crescer nas redações. Por fim, falou sobre o rodízio de repórteres nos clubes, para evitar vínculos, e comentou sobre a chamada "Fla-Press", a crítica de torcedores de Fluminense, Vasco e Botafogo sobre o espaço maior dado ao Flamengo na imprensa carioca.
Como é a redação de esportes de "O Globo"? Quantos jornalistas você comanda?
- "O Globo" tem 21 jornalistas online e papel, que agora é tudo uma coisa só. São mais ou menos dois terços de futebol. Não tem como, por mais que a gente tente mudar isso. Uma coisa que mudou é trazer o comportamento para dentro do jornal. Porque na visão antiga esporte era só competição. A gente trouxe o "Radicais", "Pulso", MMA, "A pelada como ela é". Numa cidade como o Rio de Janeiro, que ganhou Olimpíada e a Copa, que tem milhares de pessoas que correm na Lagoa (Rodrigo de Freitas), não como competição, mas como saúde, você precisava incorporá-las dentro do jornal.
Como a abordagem do jornal mudou com a internet?
- A internet facilitou o papel. Cada vez mais a gente tem tentado radicalizar isso. Tudo o que for o 'rame-rame' dos clubes, os treinos, vai para o online. No papel são matérias mais pensadas. Para isso, o online é maravilhoso. Tem repórteres que trabalham mais o texto, outros são mais opinativos. Na Copa do Mundo da África do Sul eu não dava coletiva no papel. Não precisava. Deixava no online. Isso facilita muito.
E esse papo de que a internet vai acabar com o jornal impresso?
- Não, a internet veio ajudar e ser complementar. O papel é mais analítico, mais profundo, tem mais credibilidade. Não que a internet não tenha credibilidade. A internet trabalha mais com notícias rápidas. Se bem que "O Globo" passa por um processo interessante de trazer a credibilidade do papel para a internet. Parar de dar 400 coisas, fazer coisas mais aprofundadas. Dar de manhã uma notícia e ir elaborando durante o dia. Não trabalhar só com o varejo.
Dá para sentir uma diferença entre o leitor da internet e do papel?
- São completamente diferentes. No caso de "O Globo", 15% dos leitores da internet são os mesmos do papel. Se você fizer alguma coisa mais diferente, não tem problema. O leitor do papel é mais reflexivo, e o da internet quer saber a notícia mais rapidamente.
Como é essa questão da imprensa carioca ser acusada por torcedores de Fluminense, Vasco e Botafogo de dar mais espaço para o Flamengo, a chamada "Fla-Press"?
- Isso não vai morrer nunca, porque o Flamengo tem a maior torcida. O Flamengo ganhou tanto nos últimos anos. Não é "Fla-press", é "Fla-Futebol". Não tem jeito.
Acha que tem um pouco de chororô da "torcida arco-íris"?
- Acho que sim, porque o Flamengo é o time de maior torcida. É normal. No tempo do Eurico Miranda (ex-presidente do Vasco) tinha uma coisa conspirativa contra o Vasco. Agora isso mudou. Se você pegar esse ano, tem mais capa do Vasco. Mas é difícil mudar a opinião das pessoas.
Como é a questão da paixão clubística dos jornalistas? Alguém tem que se segurar um pouco ou o pessoal se controla?
- Estou tão acostumado com isso. Tem que ser profissional, pode ser apaixonado e gritar, mas na hora do pega pra capar não dá para ser clubístico. Fica muito evidente. De vez em quando você tem que dar uma seguradinha para o cara não ir na crítica além da conta. Como eu rodo todo ano os repórteres, eu vou controlando, não tem muito problema não.
Em "O Globo" existe essa rotatividade entre os repórteres nos clubes, não é?
- Eu propus essa prática para não criar vínculo excessivo com os clubes. Hoje em dia nem tanto porque profissionalizou muito. Mas antigamente era uma coisa meio preocupante, porque tinha aqueles dirigentes, que você só conseguia notícias através deles. Mas a ideia é ir mudando mesmo para o repórter não se acomodar.
O que a Copa do Mundo e a Olimpíada podem mudar no Rio?
- Está mudando muito. Tem a parte financeira, porque os patrocínios são muito maiores. Tem o boom da cidade, que já mudou a minha vida. Moro no (bairro do) Grajaú e veio a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Morro dos Macacos. Tem reflexo na minha vida pessoal e profissional. O lado mais legal é que esse é o grande momento do esporte, de estar no lugar certo e no momento certo. Está um boom de esportes maravilhoso.
Você acha que isso vai refletir no mercado de trabalho?
- Espero que sim. Não tenho certeza. Mas acho que vai refletir de alguma maneira porque o COB e a CBF vão contratar gente. Não sei se no mercado de comunicação terá mais emprego. Temo que não. Seria uma desgraça. Pelo menos, por enquanto isso não aconteceu. Aconteceu sim, de se ganhar mais dinheiro, de ter mais assessoria. Não sei se no mercado de televisão e de jornais vai ter alguma coisa. Acho que sim, espero que sim.
Toninho Nascimento com o caderno de esportes de "O Globo"
Fonte: Sportv.com