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Humberto Rocha e Leonardo Gonçalves falam sobre a base do Vasco
Quarta-feira, 21/12/2011 - 01:15
O Vasco teve, em 2011, seu ano mais glorioso em uma década. Apenas dois anos após disputar a Série B, o time profissional se reconstruiu, conquistou a Copa do Brasil e foi vice-campeão brasileiro. Mesmo assim, o ano terminou com um surpreendente pedido de demissão de Rodrigo Caetano, diretor executivo de futebol do clube. Os motivos não são falados abertamente, mas pessoas ligadas ao Vasco afirmam que o foco do atrito estava longe do time profissional. O problema era uma divergência crescente entre o dirigente e Humberto Rocha, coordenador das categorias de base cruzmaltinas.
Quando chegou a São Januário, em 2009, Caetano estabeleceu como meta formar um elenco com 40% de jogadores vindos da base. Hoje, o time não passa nem perto disso. Entre os jogadores mais usados no Campeonato Brasileiro, apenas Allan foi revelado no clube e Rômulo teve uma passagem pelos juniores, além de Felipe, que subiu para os profissionais há 15 anos. O executivo estava insatisfeito com a falta de talentos que a base oferecia. De acordo com uma pessoa com trânsito no Vasco, Caetano queria assumir também a formação de jogadores. “Ele queria se aproximar da base porque não acreditava no trabalho realizado”, comentou.
Isso o colocou em choque com o atual coordenador da base vascaína, amigo pessoal de Roberto Dinamite. Para o executivo, o trabalho na formação de jogadores não evoluiu nos últimos anos. Sua visão é semelhante à que o presidente do clube tinha quanto assumiu, em 2008. Na época, Roberto demitiu todos os técnicos de base do clube – a maioria por telefone -, e o então recém-eleito presidente trouxe para a base outros conhecidos para os cargos de técnico, como Wilsinho, o “Xodó da Vovó”, e Tornado, que atuaram com ele no Vasco. Desde então, a base vascaína voltou a conquistar títulos, como o Campeonato Carioca Sub-20 de 2010, quando o clube quebrou um jejum de nove anos sem conquistas na categoria. No entanto, poucos jogadores dessa geração se afirmaram no time profissional.
Leonardo Gonçalves, ex-diretor das categorias de base do Vasco, concorda com a avaliação de Caetano. “Ele é um cara competente. Não vejo motivos de ele querer mais trabalho para si mesmo, a não ser que ele percebesse que a base do clube não estava funcionando, como de fato não está”, afirma. Gonçalves, que concorreu com Dinamite na eleição para presidente em 2011 e faz parte da Cruzada Vascaína (grupo de oposição a Roberto, mas não alinhado com o ex-presidente Eurico Miranda), propôs uma sindicância na base vascaína em reunião do conselho deliberativo do clube.
Humberto Rocha não concorda com a avaliação de Caetano e de Gonçalves. e considera que as equipes inferiores ainda estão em fase ascendente. “Colocamos cinco jogadores no profissional, número que está na média. Além disso, temos o Allan, campeão mundial sub-20, e o Guilherme, campeão sul-americano sub-17. No sub-15, tivemos cinco titulares da seleção brasileira, número inédito na história da categoria”, afirma o atual coordenador da base cruzmaltina. Ele também menciona o CT em construção em Maricá, litoral do Estado do Rio de Janeiro. “Nosso trabalho é silencioso, mas não fazemos nada às escondidas, como já foi insinuado”, finalizou, sem mencionar nomes.
O novo centro de treinamento é especialmente importante por resolver um problema que a base vascaína enfrenta há anos. Quando assumiu como diretor executivo, em 2009, Caetano colocou o time adulto no Vasco-Barra, deixando a base desalojada e sem estrutura própria para trabalho. “Quando se reclamava que a base estava ao relento, a resposta era a mesma: ‘Todos os esforços estão voltados para que o Vasco saia da Série B’”, relata Anníbal Canízio, que durante três anos manteve um blog sobre as categorias de base do clube.
Outro atrito entre o comando do futebol profissional e as equipes inferiores é na política de contratações do clube. Nos últimos anos, o Vasco optou por comprar jogadores baratos e jovens em outras equipes, como Fagner, Dedé, Bernardo, Felipe Bastos e o próprio Rômulo, trazido do Porto-PE. Com exceção de Allan e Rômulo, ninguém teve oportunidades de mostrar serviço. Garotos como Max, Jomar e Jonathan tiveram poucas chances na temporada. Outros, como Lipe, Genílson e Lucas Covolan, foram para a base.
Segundo Cannízio, esse excesso de atletas criou um inchaço, especialmente no sub-20, que chegou a ter mais de 50 jogadores no elenco. Como o ônibus da equipe tinha apenas 45 lugares, alguns deles ficavam de fora dos treinos. Perguntado sobre o assunto, Rocha tergiversou: “O número alto de jogadores é normal. Poucos chegam ao profissional e eles passam o tempo inteiro por um processo de avaliação”.
Esse inchaço persiste em 2011, mesmo com as melhorias que houve a partir da definição de um local fixo para treinar. As equipes de base têm treinado e mandado os jogos em um CT com seis campos e um miniestádio em Itaguaí, a 70 km do Rio de Janeiro. As instalações pertencem a Pedrinho Vicençote, ex-lateral e atualmente sócio do Vasco e empresário. Os detalhes da parceria não foram divulgados.
O convívio entre Rodrigo Caetano e as categorias de base do Vasco – e, em última análise, com a direção do clube – estava difícil de sustentar. Ainda assim, as partes usaram evasivas para explicar o pedido de demissão do executivo. “Não houve uma pessoa ou outra. Imagine você trabalhando três anos com muito comprometimento. Aumenta o nível de estresse. Divergências sempre há, mas nada que não pudesse ser arranjado”, afirmou ao portal UOL no dia seguinte à sua saída. “O Rodrigo fez um bom trabalho, mas também ganhou projeção. A saída dele é ruim, mas também não é o fim do mundo”, comentou Roberto Dinamite ao jornal “Marca Brasil”.
A Trivela procurou Caetano e Dinamite para comentar as informações desta reportagem, mas ambos não foram localizados.
Fonte: Trivela