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Dedé se diverte ao lembrar que superou fama inicial de 'trapalhão'


Terça-feira, 13/12/2011 - 12:38

Com um sorriso fixo no rosto, Dedé apareceu na TV Gazeta para receber mais um prêmio que o colocava como melhor zagueiro do Brasileiro. Além do Troféu Mesa Redonda, já havia ficado com a Bola de Prata, da revista Placar, e o Craque do Brasileirão, da CBF. Mas algo além do desempenho em campo do defensor do Vasco desperta admiração.

Para descobrir, basta passar alguns minutos com o jogador. Nas partidas, seu jeito desengonçado de correr confunde até adversários, já que a velocidade e garra o levaram até à Seleção Brasileira, com direito a sonho de estar no Maracanã para erguer o troféu na Copa do Mundo de 2014. Sua iniciativa "louca" - como ele mesmo já definiu - de ir ao ataque ainda lhe rendeu 14 gols na temporada.

Pelo que faz em campo, seria um erro confundi-lo com o humorista Dedé Santana, conhecido nacionalmente por suas confusões e risos de lamentações ao exercer seu papel no grupo "Os Trapalhões". Seria, porque até o próprio zagueiro se divertiu ao divulgar uma foto em que aparece no lugar do 'xará' ao lado de Didi Mocó, Mussum e Zacarias.

É o perfil fora das quatro linhas que conquistou vascaínos e torcedores de clubes rivais. Uma "simplicidade engraçada", como disse o atleta em conversa de dez minutos com a Gazeta Esportiva.Net. Teoria comprovada na sua ansiedade de, após entrevistar, não só voltar ao Rio de Janeiro, mas conseguir os mesmos jogos de celular que um de seus empresários.




Você conquistou os principais prêmios de melhor zagueiro do Brasileiro. Para quem já tinha sido destaque no ano passado, 2011 serviu para se consolidar entre os melhores do País?

Sim, foi e está sendo um ano muito bom e positivo. Estou feliz, feliz demais pelas premiações. Tenho que comemorar mesmo. Este prêmio da TV Gazeta [o Troféu Mesa Redonda] é o último, mas muito importante. Estão todos me dando moral, me elogiando. Agradeço a todos.

Dá para explicar essa empatia com a torcida do Vasco e até de outras torcidas? Você já disse que é um jogador louco, vai bastante ao ataque... Pode ser por isso?

Minha batalha, garra e vontade de vencer e ajudar comovem toda a torcida vascaína. Isso é o que o torcedor quer ver e os tocou.

As torcidas rivais não pegam no seu pé?

Não, eles gostam. Tiro fotos direto com torcedores dos outros clubes. Se alguém não gosta de mim, também não ligo, deixo para lá. É melhor do que discutir e bater boca com um cara que fez uma piada contra você. Se ele faz isso, trato o cara até bem e ele se surpreende, passa a gostar de mim.

O pessoal brinca muito falando que você é dos Trapalhões?

Eles fazem isso direto. (gargalhadas) Acho uma brincadeira boa, sadia... Publiquei uma vez no Facebook e no Twitter uma foto dos Trapalhões em que tinham me colocado no lugar do Dedé. Não ligo para essas coisas, acho muito legal. Se levam na maldade, vão se arrepender, porque considero uma brincadeira sadia.

E você se acha um trapalhão em campo?

(risos) Graças a Deus, as coisas estão acontecendo bem, estou fazendo as coisas sem trapalhada.

O excesso de vontade não o atrapalhou em algum momento por passar do ponto ou "atropelar" um adversário?

Há horas em que excedo na vontade, mas, graças a Deus, até hoje não me atrapalhou, só me ajudou. Estou um cara mais experiente e tranquilo para fazer as coisas, mais maduro. Estou sabendo a hora certa de dar o combate.

Mas, no ano passado, o seu contrato estava para acabar e você acabou machucando o Carlos Alberto com uma dividida durante um treino...

São coisas que acontecem no futebol, fatos bobos. Eu tinha contrato de um ano com o Vasco e, faltando 28 dias para acabar, tive uma oportunidade de jogar e fui mantido até hoje. Antes disso, tive esse contato com o Carlos Alberto e falaram muitas coisas pesadas sobre mim. Mas acontece e está totalmente superado.

Quais coisas pesadas?

Houve desconfiança geral, e isso é bastante pesado para um jogador. Mas com ele ficou tudo tranquilo. Perdemos contato porque ele foi jogar no Bahia, ficamos mais distantes e é difícil nos falarmos, mas não tem mágoa de nenhum dos dois. Isso foi no começo de 2010 e jogamos o ano inteiro depois. Conversei com ele, foi só do momento.

Você tem uma velocidade rara em zagueiros e vai muito para a frente. Já foi atacante?

Nunca fui atacante. Desde novo, eu tinha essa velocidade boa e procurei trabalhar com isso. Hoje, tenho facilidade com a velocidade. Mas sempre fui zagueiro.

Em quem você se espelha?

Hoje, no Thiago Silva. Mas também sou fã de Juan e Júnior Baiano, grandes zagueiros que apareceram no futebol brasileiro.

E você jogou com o Júnior Baiano no Volta Redonda. Como foi essa experiência?

Joguei com ele em 2009 e foi um bom aprendizado. Cresci muito com o Júnior Baiano. Foi um cara que me tranquilizou neste meu jeito afobado, me ensinou bastante.

Você acha que tem um pouco do estilo dele? Ele também tinha fama de ser "louco" por ir ao ataque e fazer muitos gols...

Sou mais tranquilo. O Júnior Baiano era mais agressivo para tentar roubar a bola. Pode ser que sejamos parecidos na bola área, porque ele era excelente nesta parte. É um cara em quem me espelhei e que me ajuda no futebol até hoje, em vídeos e com palavras. Nós ainda conversamos e ele me fala para ter tranquilidade, humildade. São coisas que escuto e levo para campo.

Para a torcida, você é, na verdade, o Dedéckenbauer.

(risos) Que nada, sou simplesmente o Dedé.

Além de você ser comparado ao Beckenbauer, a torcida do Vasco também diz que Pelé teve sorte por não tê-lo enfrentado. Como você recebe estes elogios?

Isso é humor, não tem nem comparação a o que o Pelé fez. É uma brincadeira sadia, besta, todos sabem a história do Pelé. Não tem nem que citar meu nome perto do dele.

Você se sente um jogador folclórico que estava faltando no futebol?

A torcida gosta do meu jeito de ser. Sou simples e atendo todos. Sou um cara que faço de tudo para ajudar a minha equipe e a torcida reconhece isso. Mas a minha simplicidade chega a ser engraçada. Por isso que o pessoal gosta de mim.

Você fez muitos gols neste ano. É possível estipular uma meta para 2012?

(risos) Lógico que não, tive um pouco de sorte neste ano. Fiz 14 gols, isso não é normal. Foi um ano muito bem coroado e a confiança me ajudou bastante.

Não dá para buscar os números do seu amigo Neymar no ano que vem?

Não. O Neymar é um jogador diferenciado e joga no ataque. Estou na defesa, se sobrar um golzinho ali já é lucro. Ele tem a obrigação de fazer, é normal que tenha me ultrapassado. Meu objetivo é defender.

O Ricardo Gomes e o Cristovão Borges não pegam no seu pé por você subir demais?

Não. Todos os meus técnicos só me pediram para ser consciente. Se estou cansado, dou uma evitada para descansar e depois poder ir bem ao ataque.

E você teve sorte de atacante no primeiro de seus dois gols contra o Universitario na vitória por 5 a 2 em São Januário. Tentou cruzar rasteiro e forte da lateral e a bola passou por baixo do goleiro, entrando direto no gol...

Aquilo foi muita sorte. Foi sorte até de lateral. Uma jogada de lateral que deu muito certo. Foi show de bola.

Foi naquele jogo que você disse que seria um jogador "louco". Como você é na preleção ou na saída do vestiário, antes de entrar? Costuma falar bastante?

Não, sou um cara tranquilo. Faço o possível para motivar a equipe e fazê-la entrar atenta. Falo o simples para que a equipe possa entrar consciente do que fazer. Tento ajudar de uma forma ou outra.

Por um ano você não tem idade olímpica. Ou seja, seu foco só pode ser a Seleção principal?

Não. O que vier para mim é lucro pensando em Seleção. Não tenho idade olímpica, mas, se eu tiver a oportunidade, podem convocar três fora da idade. Se quiserem, podem me levar.

E a Copa do Mundo de 2014?

Este é meu maior objetivo. Meu pensamento é chegar a esta Copa, ter a oportunidade de estar no grupo.

Você imagina o Dedé, idolatrado como é, em uma final de Copa no Maracanã?

É... (pensativo) Seria muito bom. Vou trabalhar e, se Deus quiser, chegar a esta Copa aí.

Como foram seus jogos no Maracanã?

Já joguei lá muitas vezes, mas nunca ganhei lá. Pelo Volta Redonda, perdi do Fluminense e, pelo Vasco, empatei com Flamengo e Fluminense. Tomara que pela Seleção eu tenha muitas vitórias lá.




Fonte: Gazeta Esportiva