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CBF institui jogos deste fim de semana como 'Rodada contra Racismo'
Quinta-feira, 24/11/2011 - 18:08
Um basta à discriminação e à intolerância. No momento em que a prática do racismo no futebol ganha novamente repercussão no cenário do debate em todo o mundo, com o surgimento de demonstrações recentes, como foi o caso do jogador brasileiro Edimar, no Campeonato Grego, a CBF entra em campo para promover uma campanha de repúdio que vai se materializar na 37ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série A 2011, a "Rodada contra o Racismo".
A mensagem que a entidade vai passar nos jogos da "Rodada contra Racismo", a penúltima do Campeonato Brasileiro da Série A neste ano, é de protesto contra a intolerância que tem hostilizado muitos jogadores em gramados de vários países, e que deveria merecer a mais veemente condenação de todo o universo do futebol, como alerta o presidente Ricardo Teixeira.
- Racismo não se resolve com aperto de mão e nem quem sofre esquece no dia seguinte. Não é justificável pelo calor de uma partida, não pode ser interpretado como gesto de torcedor. É algo intolerável, que não condiz com o esporte. O futebol, como catalisador de transformações no mundo e fenômeno capaz até de interromper guerras, deve ter um papel primordial na busca de soluções para essa prática - diz o presidente.
A CBF, a confederação que tem o maior número de jogadores vítimas de preconceito, se vê na obrigação de promover uma ampla campanha contra o racismo no futebol e chamar a atenção para essa prática inaceitável para o convívio social.
- As pessoas que não entenderem que o futebol é para todos e não apenas para uma raça devem ser banidas definitivamente do esporte. Não adianta utilizar dinheiro para fazer campanhas hipócritas que não produzem efeito algum. Devemos mergulhar de cabeça nesta questão e punir exemplarmente quem comete esse tipo de intolerância. Nosso desejo é envolver os jogadores, técnicos, dirigentes e torcedores em um movimento capaz de mudar essa situação - ressaltou.
A campanha da entidade de dar um basta ao racismo recebeu nesta quinta-feira duas adesões imediatas. O técnico da Seleção Brasileira Mano Menezes mostrou-se incisivo na condenação do preconceito, uma prática que, para ele, não pode ser tratada com condescendência e com tentativas hipócritas de pedido de desculpas, mas sim com o rigor que a grave situação merece.
- O racismo no futebol não pode ser tratado e não admite meio termo. Tem de ser resolvido de maneira forte. É muito cômodo uma pessoa apertar a mão da outra depois do jogo para pedir desculpa por uma ofensa ao que ele tem de mais sagrado e significativo. A solução é buscar nos mecanismos legais que já existem a forma de haver uma punição muito rígida.
O coordenador das Seleções de base da CBF Ney Franco também condenou com veemência o racismo no futebol. Ele vivenciou recentemente, no Sul-Americano Sub-20 do Peru, em janeiro, um caso que o deixou sensibilizado e ao mesmo tempo incrédulo com o que acabara de testemunhar.
- Custei a acreditar que aquilo estivesse acontecendo. No Peru, em um jogo contra a Bolívia, na cidade de Moquegua, uma parte dos torcedores insultou o Diego Maurício com ofensas racistas. Foi chocante e muito triste.
Ney não tem dúvida sobre o que tem der feito para banir o racismo nos estádios.
- A FIFA tem de fazer uma campanha para punir com rigor todos que pratiquem o racismo. Claro que não basta um aperto de mão ou um pedido de desculpa, é preciso haver punição.
Além dos dois técnicos, o ex-jogador Ronaldo, ídolo do futebol mundial, também comentou os recentes casos de discriminação que tem acontecido no esporte.
- Racismo é crime, vários companheiros meus já viveram isso de perto e é muito triste. Isso já deveria ter sido banido do planeta faz tempo - disse o Fenômeno.
O atacante Neymar, do Santos e da Seleção Brasileira, foi outro que se posicionou na questão do racismo no futebol.
- Acho uma coisa muito triste. Infelizmente ainda acontece no futebol e os jogadores deveriam se unir mais contra isso. Dentro e fora de campo todo mundo é igual.
Os casos de racismo nos gramados são múltiplos e acontecem em vários estádios do mundo. Confira abaixo alguns deles:
. Em 2005, o lateral-esquerdo Roberto Carlos, que na época era jogador do Real Madrid, foi alvo de racismo por parte de torcedores rivais, que imitavam macacos quando ele tocava na bola.
. Em 2007 foi a vez de Welliton sofrer com a intolerância racial. Em sua estreia pelo Spartak de Moscou, da Rússia, o ex-atacante do Goiás vestiu a camisa 11, que antes era de um ídolo da torcida. Ele foi obrigado a ouvir "macaco, volte para casa" dos torcedores de seu próprio clube.
. Em 2010, Daniel Alves viveu a triste situação de sofrer com o racismo. Em partida válida pelo Campeonato Espanhol, contra o Espanyol, sempre que tocava na bola ele era insultado pela torcida adversária.
. 2011 está batendo todos os recordes de intolerância racial nos gramados. Gilberto Silva, à época no Panathinaikos da Grécia, Marcelo, do Real Madrid e Diego Mauricio sofreram com torcidas rivais agindo de maneira discriminatória. Com Alan, do Braga de Portugal, foi diferente. Foi xingado dentro de campo por Javí García, do Benfica. Neymar, pela Seleção, e Roberto Carlos, pelo Anzhi, receberam bananas de "presente". E o mais recente deles aconteceu com Edimar, do Skoda Xanthi, da Grécia. Sempre que pegava na bola, em partida contra o PAS Giannina, a torcida adversária imitava o som de macacos.
Toda essa demonstração de intolerância é entendida pelo presidente Ricardo Teixeira como motivo suficiente e natural para levar dirigentes, jornalistas, torcedores, enfim, todo o mundo futebolístico, a repudiar definitivamente o racismo no futebol.
- Temos todos de estar engajados nessa campanha. Quem não tiver esse entendimento, aquele que não se posicionar, claramente, contra o racismo não pode fazer parte da família do futebol, como de resto merece também o repúdio de toda a sociedade.
Fonte: CBF