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A lista de apelidos é farta: mito, monstro, Dedeckenbauer. Unanimidade no Vasco e representante cruz-maltino na eleição para Craque da Galera do Brasileirão 2011, Dedé é um dos expoentes do momento mágico que a equipe vem vivendo desde a conquista da Copa do Brasil. Após ser rebaixado para a Série B em 2008, o Vasco, renascido, pode fechar 2011 com três títulos de expressão. E Dedé, após um início difícil em São Januário, onde sua permanência chegou a ser colocada em xeque, se tornou referência no campo e nas arquibancadas. O zagueiro de 23 anos entrou para o grupo de ídolos, formado por nomes consagrados como Juninho Pernambucano e Felipe. O assédio da Europa se tornou uma realidade, mas ele garante que nem pensa nisso. A exemplo de Neymar, quer permanecer por muito tempo no futebol brasileiro.

O futebol de Dedé rompeu as barreiras de São Januário. Hoje, assim como o santista é o melhor atacante e jogador do futebol brasileiro, não há quem não aponte o camisa 26 como melhor zagueiro. Integrante da seleção do Brasileirão do ano passado, o grandalhão de 1,92m foi convocado pelo técnico da Seleção, Mano Menezes, para os jogos contra Alemanha, Gana, Argentina e México. Hoje, não seria loucura apostar que esse carioca de Volta Redonda poderá ser o xerife da defesa na Copa de 2014.

Porém, o sucesso não mudou em nada o jeito de Dedé pensar. Fala mansa, sorriso no rosto, brincadeiras o tempo todo. Em entrevista exclusiva concedida ao GLOBOESPORTE.COM, ele falou de tudo: das dificuldades do início, do atual momento, da idolatria da torcida, dos planos para o futuro. E lembrou com detalhes do pavor que viveu quando o técnico Ricardo Gomes sofreu um AVC no clássico contra o Flamengo. Aliás, como um dos líderes do elenco, o defensor não tem dúvidas em apontar o treinador como o grande responsável pelo crescimento do Vasco.

- O Vasco é o que é hoje por causa do Ricardo – afirmou.

Confira a entrevista abaixo

Você chegou ao Vasco em 2009, época em que o time estava na Série B. Pouco mais de dois anos depois, o clube vira referência no futebol brasileiro. Como foi conviver com os dois lados da moeda?

Sem dúvida, foi essencial. Quando você passa por momentos difíceis, como passamos em 2009, se esforça mais, trabalha mais porque sabe que não quer enfrentar aquilo de novo. Disputar a Série B foi difícil, mas foi importante demais para o Vasco voltar a crescer. Em 2010, tivemos o que pode ser chamado de ano de transição e, agora em 2011, estamos colhendo os frutos. Você aprende a crescer como jogador e como homem nas dificuldades.

O Vasco chega ao fim do ano campeão da Copa do Brasil, brigando pelo título do Campeonato Brasileiro e da Copa Sul-Americana. No começo do ano, certamente ninguém pensava que isso podia acontecer, afinal o time não foi bem na Taça Guanabara. O que mudou?

O início de ano não foi nada fácil, perdemos quatro jogos seguidos. Nosso começo foi um desastre, quase teve invasão em São Januário. Quem transformou o Vasco foi o Ricardo Gomes. Ele foi inteligente, soube conduzir as dificuldades. Teve atenção especial comigo, me ensinou coisas demais. Hoje, o Vasco é o que é por causa do Ricardo.

Falando sobre o seu desempenho, você tinha média de dois gols por temporada e, em 2011, cresceu muito de rendimento. Até agora, já balançou 14 vezes as redes adversárias. Qual é o segredo?

Ganhei mais liberdade para atacar e, principalmente, estou mais confiante. E jogador quando está com confiança é outra coisa. Vou ao ataque, consigo criar jogadas. No segundo gol contra o Botafogo, iniciei um contra-ataque pelo meio e fui para o ataque para marcar. Mas o mérito é do grupo, não conseguiria nada sozinho. O Fellipe Bastos fez um belo cruzamento. Mas acho que é a confiança é que faz toda a diferença.

Como é ser ídolo da torcida?

É sempre bom ser respeitado pelo torcedor, mas procuro tirar esse peso das minhas costas. No Vasco, o grupo todo tem muita qualidade. Além do mais, ainda não me considero ídolo. Para isso, falta muita coisa, preciso conquistar outros títulos e permanecer por mais tempo. Ídolo é o Felipe, é o Juninho, que fizeram história, saíram e voltaram. São meus ídolos também.

Sua liderança impressiona em campo...

Acho que tenho uma grande vantagem que é entrar em campo sempre tranquilo. É difícil um jogo mexer comigo, me deixar nervoso a ponto de perder o foco. Procuro fazer poucas faltas e jogar simples. É claro que, quando é preciso dar uma bronca, a gente chega junto no companheiro, mas sempre procurando ajudar, dar força para reagir. Somos todos amigos no Vasco.

Qual apelido que você mais gosta?

Mito é muito forte, acho que é complicado chamar alguém assim. Monstro ninguém gosta de ser (risos). Já Dedeckenbauer eu acho maneiro. Não vi o Beckenbauer jogar, mas todos falam que foi um dos melhores zagueiros do mundo.

Aproveitando o exemplo de Neymar, você disse que gostaria de permanecer no Brasil até a Copa do Mundo de 2014. Por que você acha que os atletas estão mudando de postura? Antes, todos falavam que a Europa era uma obsessão.

Acho que o jogador se sente melhor perto dos amigos e da família. E, claro, a situação econômica do Brasil melhorou demais. A minha situação é a mesma do Neymar, quero ficar, sou novo e tenho muito a fazer pelo Vasco. Todos sabem que é essa a minha ideia. Agora cabe ao Vasco apresentar um projeto e viabilizar a minha permanência.

Como melhor zagueiro do futebol brasileiro, quem é o jogador mais difícil de marcar que você já enfrentou?

Sem dúvida nenhuma o Neymar. Ele é o melhor atacante do Brasil disparado. Eu tiro o chapéu para esse garoto. Ele é craque e é ótima pessoa. Eu o conheci em uma pelada do Madson em Volta Redonda no ano passado. Disputamos dois jogos, um jogamos juntos e no outro, fomos adversários. É complicado pará-lo (risos). Mas na Seleção criamos uma amizade, ele ficava o tempo todo no meu quarto. Hoje somos amigos, estamos sempre nos falando no telefone. Desejo todo sucesso do mundo a ele.

Hoje você é ídolo da torcida do Vasco, mas já passou por outro grande do Rio...

Joguei sete meses nas categorias de base do Fluminense. Só tenho a agradecer o carinho que tiveram comigo. Eu não fiquei porque não me comportei como um atleta profissional. Cansei de chegar atrasado aos treinos, principalmente às segundas-feiras, quando voltava da folga em Volta Redonda. Dei mole, e eles acabaram me mandando embora.

Qual a importância da família na sua trajetória?

Toda. Minha mãe (Maria Helena) é uma guerreira, uma batalhadora, sempre lutou por mim e pelos meus irmãos. Meu pai era um pouco diferente, gostava da farra dele, mas está sempre por perto, afinal mora em um bairro vizinho em Volta Redonda. A infância foi boa. Enfrentei dificuldades, mas nunca passei fome. Consegui ir até o terceiro colegial por causa da minha mãe que não me dava moleza. Mas o futebol acabou pesando. Eu subi para o profissional do Volta Redonda com 17 anos e, com treinos e jogos durante a semana, ficou difícil conciliar os estudos.

Sem dúvida, o momento de maior apreensão do Vasco em 2011 e que, para a alegria de todos no futebol brasileiro, terminou com final feliz foi o problema enfrentado pelo Ricardo Gomes. Como você viu essa história?

Foi muito, muito difícil. O segundo tempo do jogo contra o Flamengo foi terrível. Eu não sabia o que tinha acontecido mas, de repente, olhei para o banco e não vi nosso treinador. Aí o Romulo veio me avisar que o Ricardo havia passado mal. Em determinado momento do jogo, olhei para o lado e vi uma ambulância. Isso tirou o time do jogo, perdemos completamente o foco. Até hoje, não sei como conseguimos ir até o final da partida. Quando acabou o jogo, foi pior ainda porque ficamos sabendo que a situação era gravíssima. Com certeza, muita gente não dormiu aquela noite. Eu não fui visitá-lo no hospital por fraqueza, não sei como reagiria se visse o Ricardo daquela maneira.

Chegou a pensar no pior?

Sem dúvida, os médicos falavam que era algo muito complicado. Não gosto nem de lembrar esses dias porque dá vontade de chorar...

Como o time conseguiu manter o foco depois do incidente para continuar vencendo jogos no Campeonato Brasileiro?

Conversamos e resolvemos que tínhamos que jogar pelo Ricardo. O que podíamos fazer era vencer e mandar coisas positivas para ele. Jogo a jogo, fomos pensando nisso, a notícia de que ele estava melhorando trouxe uma grande alegria ao grupo. Foi quando o Vasco cresceu no Campeonato Brasileiro.

E o reencontro com ele?

Emocionante, importante demais. Vê-lo junto da gente novamente é algo que emociona demais. Ele só traz coisas boas. Nos dois jogos que ele nos visitou no hotel, o time ganhou um combustível extra e venceu jogando bem demais.

Acredita na volta do Ricardo?

Sem dúvida, logo ele estará conosco. Faz falta demais...

Como é o Dedé fora de campo? No que ele mudou com a fama?

Não mudei nada, continuo o mesmo cara tranquilo. Quando tenho uma folga maior, adoro voltar para Volta Redonda e ficar com família e amigos. Não ligo para a questão do assédio, vou a restaurante, vou a shopping. Sou bem recebido e faço questão de atender a todos, é importante esse carinho do torcedor.

Já faz planos para casar e aumentar a família?

Todo jogador sonha com o seu herdeiro. Ainda não sou casado, é muito cedo para isso, mas a minha namorada (Patrícia) é uma pessoal especial demais na minha vida.

Você é um cara vaidoso?

Eu gosto de me cuidar, mas sem exageros. Gosto de usar perfume e passar creme. E procuro estar sempre com o cabelo bem aparado.

Quem são seus ídolos no futebol?

Tenho três: Thiago Silva, Juan e Junior Baiano. Os dois primeiros ainda são atletas diferenciados, me inspiro neles. Já o Junior é um cara fantástico, só quem conviveu com ele, como eu convivi no Volta Redonda sabe o ser humano que é. Sempre me deu conselhos, principalmente mostrando as coisas boas e as coisas ruins que a fama e o dinheiro proporcionam. Além do mais, é um cara engraçado demais, sempre de bem com a vida e ótimo contador de histórias.

Dedé será titular da Copa do Mundo de 2014?

Se Deus quiser. Estou trabalhando para isso. Tem um monte de zagueiros que podem estar na Copa, mas vou fazer de tudo para vestir a camisa da Seleção em 2014. É para isso que eu trabalho.

Fonte: GloboEsporte.com