A quatro rodadas do fim do Campeonato Brasileiro, o Vasco, vice-líder com apenas uma vitória a menos que o Corinthians, briga também pelo título da Copa Sul-Americana. Na semifinal da competição internacional, o campeão da Copa do Brasil, que já tem vaga garantida na Libertadores, tem chances reais de encerrar a temporada com mais duas taças. Mas levando em conta o fato de o time da Colina ser o terceiro clube que mais atuou em 2011 - já foram 69 jogos, dois a menos que Santos e Ceará -, a dúvida é: os jogadores vascaínos vão ter fôlego para seguirem competitivos nos dois torneios nesta reta final? Baseando-se na campanha do Fluminense, que será rival do Vasco na penúltima rodada do nacional, em 2009, dá para dizer que é possível.
Há dois anos, o time tricolor chegou à final da Copa Sul-Americana ao mesmo tempo em que lutava contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. O primeiro objetivo não foi alcançado e a LDU ficou com o título. Mas o segundo foi atingido com louvor. Após uma campanha ruim, a equipe então comandada por Cuca chegou a 11 jogos sem perder, sendo seis vitórias seguidas, e garantiu a permanência na Série A na última rodada. Por trás daquele grupo, estava o preparador físico Ronaldo Torres. Hoje no Bahia de Joel Santana, ele explica que o segredo do sucesso no fim de temporada é simples: descansar. Para Torres, diminuir a intensidade dos treinamentos é fundamental para a recuperação dos atletas após o desgaste com a sequência de jogos.
- Chegando ao final do ano, todos os clubes começam a entrar em declínio natural. No caso do Fluminense, era um momento de vida ou morte. Os jogadores estavam muito desgastados física e emocionalmente. Você tem que se superar no lado psicológico, mas pelo lado orgânico, tem que ter muita recuperação. Eu descasava muito a equipe. Falava com o Cuca o seguinte: vamos trabalhar na academia do hotel porque os jogos são o pico máximo do desgaste físico. Não tem necessidade agora de aumentar a carga. Quem está bem vai continuar. Peguei os jogos como pico máximo do treinamento físico. Jogo é um treinamento. Durante a semana, treinava quem não vinha jogando e segurava os que estavam jogando. É um momento em que você não pode desgastar o atleta - explicou Ronaldo.
E é exatamente isso que o Vasco vem fazendo. Com exceção do jogo contra o Universitario, quando precisava correr atrás do placar, o técnico Cristóvão Borges optou sempre por escalar um time misto na Sul-Americana. Além disso, nas vésperas de alguns jogos fora do Rio de Janeiro, pelo Brasileirão, a equipe abriu mão do treinamento para não sobrecarregar os atletas. Nas atividades que precederam a vitória por 2 a 0 sobre o Botafogo, no último domingo, a comissão técnica deu preferência a trabalhos regenerativos devido ao desgaste com a virada por 5 a 2, na quarta-feira. Após o jogo no Engenhão, a equipe já volta a entrar em campo nesta quarta-feira, contra o Palmeiras, em São Paulo.
- Sabemos que o mais importante neste momento é administrar o preparo físico dos jogadores. E é por isso que precisamos ter um elenco de qualidade como é o nosso. Nosso grande segredo foi conseguir dosar a energia. Sofremos com pequenas lesões musculares, mas nada grave. Sempre com peças que mantiveram o alto nível. Ficamos no topo porque conseguimos essa regularidade - disse o preparador físico do Vasco, Rodrigo Poletto.
O trabalho de Poletto no clube cruz-maltino, aliás, ganhou muitos elogios do experiente Ronaldo Torres:
- O preparador do Vasco é muito bom. Gostaria de parabenizá-lo. Muito bom trabalho. O Vasco está muito bem.
Campeão brasileiro com o Fluminense em 2010, Ronaldo Torres disse ainda que neste fim de temporada a parceria entre o técnico e os demais membros da comissão é fundamental para o trabalho dar certo. Ele lembra que em 2009, Cuca, então treinador tricolor, lhe dava total liberdade para decidir que tipo de treinamento seria aplicado.
- O Cuca concordava sempre. É um dos melhores amigos que tenho no futebol, como Joel e Muricy. Todos me ouviam muito. Sempre explico para os treinadores e para os atletas para que servem os treinamentos. Falo de fisiologia, não invento. Não tive problema nenhum, ele sempre entendeu o que eu disse para ele - afirmou.
E para o Vasco garantir fôlego extra na maratona de jogos deste fim de ano, Torres aconselha trabalhos de potência no lugar dos de resistência. Para ele, o principal objetivo a essa altura é liberar os radicais livres para dar leveza aos jogadores.
- O atleta sempre tem uma reserva para dar. Há momentos em que é importante fazer um trabalho na bicicleta para liberar os radicais livres através do suor. A pessoa sente uma sensação de leveza. No Fluminense, eu dava muita ênfase no trabalho de potência com a corda elástica, por exemplo, priorizando o trabalho muscular não orgânico. Você tem que descansar o atleta quando ele trabalha muito a resistência, que são os jogos. Ele começa a diminuir a testosterona, o hormônio masculino, e começa a diminuir a força muscular. A testosterona é utilizada no músculo, por isso, o homem é mais forte do que a mulher. Não se pode dar um trabalho longo durante o treinamento ou você vai dar uma sobrecarga no atleta - comentou.
Fora a parte física, tanto Torres como Poletto destacam que ter equilíbrio emocional é essencial para o jogador superar a ansiedade natural de quem está envolvido em disputa de título ou contra o rebaixamento. Ídolo do Fluminense, Fred vai além. Para o atacante, que já fazia parte do grupo tricolor que evitou a queda em 2009, motivação e superação são as palavras de ordem.
- Nós levamos mais na marra mesmo em 2009. Na base da superação, da motivação... E por muito pouco não conseguimos o título da Sul-Americana. Mas não sei se fazer isso sem ser por causa de uma situação extrema, como era a nossa, seria a melhor opção. O Vasco está fazendo isso em 2011 e tem se saído bem porque tem um grande elenco. Naquela época, nosso grupo tinha muita garotada - disse Fred.
Na semifinal da Copa Sul-Americana, onde enfrentará o vencedor do confronto entre Universidad de Chile e Arsenal de Sarandí em jogos de ida e volta, o Vasco ainda terá ao menos mais seis jogos em 2011 (Palmeiras, Avaí, Fluminense e Flamengo são os próximos adversários no Brasileirão) e vai igualar Santos e Ceará. Ao fim da temporada, os três terão feito 75 jogos. O time da Colina, no entanto, pode ir à final da competição internacional e, neste caso, encerrará o ano com nada menos do que 77 partidas disputadas, se tornando o time brasileiro que mais atuou em 2011. Dos jogadores do Vasco, até o momento, Fernando Prass é o único que esteve em campo em todos os jogos do time.
Clubes - Número de jogos ate agora
Santos - 71
Ceará - 71
Vasco - 69
Coritiba - 68
Internacional - 67
Fonte: GloboEsporte.com