No país mais populoso do mundo, Muriqui tinha tudo para ser apenas mais um brasileiro tentando a sorte no futebol. Mas, com 16 gols no campeonato chinês, o atacante do Guangzhou Evergrande destaca-se entre 1,3 bilhão de habitantes, ainda que, no meio deles estejam concorrentes de peso como Obina e Conca.
Ex-jogador do Vasco da Gama, do Avaí e do Atlético-MG, Muriqui só não é rei na China porque o futebol não tem por aquelas bandas o apelo do mundo de cá. Campeão chinês ao lado de Conca e artilheiro da competição, o jogador vem se surpreendendo com as homenagens de seu clube: as camisetas e máscaras confeccionadas especialmente para a torcida trazem o rosto que vem se popularizando entre os amantes do futebol. Para os chineses, ele é Muliqui. Ou Muliti.
— Fui eleito pela imprensa como o melhor jogador do campeonato. Estou aqui há um ano e meio e não esperava que tudo acontecesse tão rapidamente — disse, por telefone, feliz com os prêmios de craque da competição que lhe foram concedidos pelo jornal esportivo "Titan Sports" e pela emissora "CCTV".
Com mais dois anos e meio de contrato pela frente, Muriqui está em paz. Não chegou à China com a popularidade de Obina, do rival Shandong Luneng, mas conquistou seu espaço ao marcar quatro gols logo em sua estreia no Guangzhou, em julho do ano passado. A volta para o Brasil ainda é um sonho distante e nem por isso descartado.
— Tenho carinho grande pelo Avaí e o Atlético-MG. Gostaria de jogar novamente nesses clubes — revelou.
Página virada
O Vasco é página virada, mas inesquecível na sua vida. Muriqui treinou e jogou com gente do naipe de Valdir, Alex Dias e Romário, sofrendo sempre marcação implacável de uma dor misteriosa na coxa esquerda.
— O Vasco sempre tentou me ajudar, mas eu vivia sentindo a coxa. Fiquei uns seis anos nisso. Com uma sequência maior, minha história poderia ter sido bem diferente por lá.
Livre da dor, Muriqui só é atormentado agora pela saudade da culinária brasileira. Tem estoque de arroz e feijão em casa e, se não fosse isso, talvez tivesse morrido de fome lá no Oriente.
— O arroz na China é uma papa. Eles comem carne de cobra! Nunca provei. Já vi espetinho de escorpião e insetos que não conheço.
Férias em Muriqui
Luiz Guilherme da Conceição Silva carrega no apelido o lugar perfeito para as férias de fim de ano: em breve, o atacante estará em Muriqui, onde nasceu e mantém uma legião de amigos e de parentes.
Separa-o de sua terra amada um jogo festivo contra as estrelas do Campeonato Chinês, no próximo dia 26, que marcará o encerramento da temporada.
— Muriqui é como se fosse minha casa de passeio. Se eu for para o Rio, não consigo descansar. Vou ficar mesmo com minha família, matando a saudade dos amigos e parentes.
Na China, o melhor programa das folgas é viajar. Recentemente, Muriqui esteve nas Ilhas Maldivas ao lado de Conca, um de seus amigos mais recentes.
— Acredita que ele me surpreendeu? Dizem que é fechadão, mas, apesar de ter chegado com status de estrela, é um cara simples que sempre respeitou os chineses e os brasileiros.
Com Obina, o contato já não é tão frequente:
— Falei com ele algumas poucas vezes. Ele mora em outra cidade, a três horas de distância de mim.
Fonte: Extra online