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NETVASCO - 18/11/2009 - QUA - 13:13 - Fernando, zagueiro do Vasco em 1969, relembra milésimo gol de Pelé

Há quatro décadas, um gol marcou para sempre o futebol. Por causa dele, Fernando Silva é lembrado até hoje. Ainda é convidado constantemente a discorrer sobre detalhes do lance e exercitar sua raiva contra o árbitro. Ele pertence ao lado avesso - embora famoso - dessa história. É visto como um dos antagonistas derrotados por um herói mundial. E jamais deixou de renegar o motivo de sua maior notoriedade.

- Não foi pênalti.

Esta é sua frase há 40 anos. Ele insiste o quanto pode, capaz de repeti-la sem nunca chegar à exaustão. Profere a negativa já automatimente, convicto da sua inocência.

Nesta quinta-feira, 19, será festejada por todo o planeta a efeméride do milésimo gol de Pelé, aclamado como o melhor jogador do futebol, o maior atleta do século 20. A contragosto, Fernando Silva, aos 61 anos, será citado como o autor do - mundialmente bendito e, para ele, inexistente - pênalti cometido sobre o camisa 10 do Santos, que resultou no seu mais célebre tento.

- Isso aí não vai acabar nunca. Até eu morrer, não acaba - resigna-se.

Contava 21 anos o zagueiro mineiro criado na capital paulista, quando enfrentou o ídolo e a torcida universal pela obra consagradora, no Estádio do Maracanã. O seu Vasco e o Santos empatavam em 1 a 1, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Por volta dos 30 minutos do segundo tempo, aconteceu o que, de fato, todo mundo aguardava.

"O DVD do Pelé mostra claramente, ele bate na minha perna e cai, o juiz marca pênalti", narra sua versão pela enésima vez em 40 anos o sujeito a quem coube o rótulo de dar a chance para o gol 1000. "Com juiz encomendado. Só pode ter sido. Porque não foi pênalti mesmo", frisa.

Sucesso

Fernando, que começou no paulistano Juventus e também passou pelo carioca Bangu, foi encontrar o lado glorioso do futebol três anos depois do gol 1000, nos gramados baianos, contratado pelo Vitória. Também sagrou-se campeão pelo Bahia, se afeiçoou à terra, defendeu Fluminense de Feira e Leônico. Aos 29 anos, uma lesão facial encerrou sua carreira.

Ele estudou, montou um escritório imobiliário com assistência jurídica e completou 32 anos em Salvador. Há uma década, voltou a morar no Rio com a esposa. Filhos e netos permanecem na capital baiana.

Fernando dá aulas numa escolinha de futebol conveniada ao Vasco, na cidade de Maricá, na Região dos Lagos, Rio de Janeiro, onde exibe retratos e recordações da carreira. Inclusive, veja só, referências ao milésimo gol de Pelé. "Tenho tudo lá, direitinho, catalogado", afirma, admitindo certa culpa por lembrar-se do 19 de novembro de 1969. Só não tem culpa pelo lance, jura. "Porque, na realidade, não foi pênalti", ele vai repetir para sempre.

Veja a entrevista.

Todos os anos, o senhor lembra do milésimo gol de Pelé?

Todo ano, tem que lembrar porque é muito telefonema, né? O pessoal sempre liga, sempre quer saber, isso aí não vai acabar nunca. Até eu morrer, não acaba.

Mas o senhor acha isso bom ou ruim?

Na época, pra mim, foi muito ruim. Até porque ficou marcado. O jogador que fez o pênalti do milésimo gol de Pelé. Mas isso aí acontece com qualquer profissional que esteja lá, jogando, e aconteceu comigo. Não acho bom nem ruim. Passou, passou. Foi uma fase em que a gente jogou, depois segui minha carreira. É que todo ano tem que lembrar, né? Na virada do ano, a Globo foi lá, passou no Fantástico. E agora, 40 anos, já me ligaram também para ir, mas não vou poder porque dou aula pela manhã e pela tarde aqui (na escolinha de futebol).

O senhor exerceu que profissão quando encerrou a carreira?

Eu tive um acidente como jogador de futebol, e o INSS bancou um curso de corretor de imóveis, com direito a fazer um curso em Direito Imobiliário, de dois anos. Aí tirei a carteira de corretor e fiz o curso.

Como foi o acidente e quantos anos o senhor tinha?

Eu encerrei a carreira com 29 anos, em Arapiraca, jogando pelo Leônico, no (Campeonato) Nacional, em 1981. Tomei uma cabeçada que quebrou meu rosto todo, tive que fazer duas operações. Quebrei nariz, quebrou tudo. Aí tive que parar porque, quando eu voltei a jogar, meu nariz começava a sangrar no calor.

O senhor tinha só 21 anos naquele jogo do 1000º gol. Quem marcava Pelé?

Eu jogava com Brito. Nesse jogo, foi Moacir, um zagueiro que era de Minas Gerais. Naquela época, eram quatro zagueiros, que marcavam quatro atacantes: ponta direita, dois atacantes e ponta esquerda. Era mano a mano, não tinha esse negócio de hoje: zagueiro de sobra, três zagueiros, dois zagueiros com dois laterais entrando, dois volantes fixos... Agora é fácil jogar bola, né? Naquela época tinha Garrincha, Jairzinho, Pelé, Coutinho, Dirceu Lopes... Aí é brincadeira! Hoje é mole jogar.

O senhor ainda reclama da jogada do pênalti, que gerou o 1000º gol?

Para mim, não foi pênalti. Eu mesmo tenho o DVD do Pelé (documentário Pelé Eterno) que mostra claramente, ele bate na minha perna e cai, o juiz marca pênalti. Arrumaram um juiz ali em Pernambuco para apitar o jogo: Manuel de Lima Amaro, nunca mais esqueci o nome do ladrão. Ele marcou, marcou, o que vai fazer? Não tem como voltar atrás, né? Andrada ainda bate na bola, mas ela entra.

É marcante a imagem do goleiro Andrada socando a grama, depois do gol, com raiva.

Exato. Porque, na realidade, não foi pênalti. Mas o juiz achou que ele tinha que fazer o milésimo gol, não tem jeito.

E o senhor até hoje tem raiva por aquele lance?

Eu tenho raiva do juiz porque realmente não foi pênalti. Do Pelé, não. Pelé fez o dele. Caiu, malandramente, no auge da carreira dele. Tinha que fazer o gol, no Maracanã, o maior estádio do mundo, no Rio de Janeiro... Então, o safado marcou pênalti.

É verdade que a própria torcida do Vasco pedia para Pelé cobrar o pênalti e comemorou o gol?

Pelé sempre se declarou vascaíno, então a torcida do Vasco tinha muito carinho por ele. Mas tinha carinho e tinha raiva, né? Porque um dia lá, o Vasco dando 2 a 0, em cinco minutos ele fez dois gols e empatou o jogo.

É aquela história de que Pelé deu a bola para o zagueiro Fontana, dizendo que a entregasse à mãe dele?

Isso. O Fontana: "Cadê? Cadê o rei?". Ele falou: "Espera aí". Aí fez dois gols, pegou a bola e falou isso pro Fontana.

O senhor presenciou?

Não, eu não estava no Vasco ainda. Se não me engano, esse jogo foi em 67. Eu vim em 68.

Como foram os momentos que antecederam ao jogo do milésimo gol?

Normal, na concentração, só é bater papo: "Não vai fazer, não vamos deixar (o gol 1000). Tá, tudo bem". Porque, na realidade, você fica na história, né?

E ninguém do Vasco queria ficar na história por isso?

É lógico, ninguém quer ficar. Ainda mais a gente que era zagueiro. E o Andrada, né? E argentino! Já tem uma bronca danada de brasileiro. Aí, toma o gol do Pelé. O pessoal brincava. Tinha um uísque chamado King's Arch, que quer dizer "o arqueiro do rei". E aí o pessoal: "Ô, arqueiro do Rei!" Pô, ele ficava maluco: "Não quero esta brincadeira comigo!". Depois, acostumou. Passou, passou. Ele tinha que fazer o milésimo gol, aconteceu que foi contra o Vasco no Maracanã. Com juiz encomendado. Só pode ter sido. Porque não foi pênalti mesmo. Se fosse, hoje eu falaria. Mas não foi, sempre neguei isso.

O senhor ficou marcado por isso? Ajudou? Atrapalhou sua carreira?

Não, não, não. Nada. Segui minha vida normal. Fui pro Bangu, aí o Vitória veio aqui e me comprou. Em 72, eu fui pra Bahia, fui campeão com Mário Sérgio, com Osni, com Marquinho, que é o Marco Aurélio que treinou o Cruzeiro. Ficamos em quinto lugar no Campeonato Brasileiro. Aí pronto, segui minha vida, fui pro Bahia, fui campeão, trocado pelo Natal - que jogou no Cruzeiro - por empréstimo, voltei pro Vitória. A primeira troca que houve entre os dois clubes. Fui campeão no Bahia e no Vitória.


Lance do suposto pênalti em Pelé


Fonte: Terra Magazine

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