A crise internacional atropelou os clubes lá fora, mas também tem feito estragos nos times no Brasil. Na Europa, os cartolas, com investimentos em Bolsas de Valores, levaram um olé da tsunami financeira, que atingiu ainda os patrocinadores. Por aqui, o efeito imediato veio através do crédito. No Flamengo e no Botafogo, por exemplo, salários atrasaram com a dificuldade de conseguir novos empréstimos. O rubro-negro corre contra tempo com outra preocupação: a Petrobras já anunciou que não vai aumentar a cota anual de patrocínio, o que poderá prejudicar o orçamento de 2009.
“Não temos como pagar mais de R$ 20 milhões ao Flamengo, ainda mais em um momento de crise mundial como agora”, afirmou o gerente de patrocínio esportivo da Petrobras, Cláudio Thompson. O contrato com a empresa acaba em janeiro. Em vez dos atuais R$ 16,2 milhões por ano, o Flamengo fez um pedido de R$ 21 milhões para reforçar o caixa do clube.
Para quem quem você daria cartão vermelho caso a crise financeira se agrave e os clubes tenham que vender jogadores?
Em setembro, quando o crédito secou no Bic Banco, dirigentes rubro-negros atrasaram salários, que só foram normalizados na semana passada após negociação de crédito em outra instituição. O departamento financeiro não informou os detalhes dessa nova operação.
No Botafogo, com problemas há mais tempo, os jogadores ganharam até apelido com a crise. Os ‘heróis da resistência’ receberam, na noite de quarta-feira, como mostrou o ‘Ataque’, os salários de agosto e setembro. O presidente do clube, Bebeto de Freitas, atribuiu as dívidas à crise. “Temos verbas de contratos a receber, mas estão bloqueadas. Não vejo luz no fim do túnel”, disse.
No Fluminense, a solução encontrada foi “meter o pé no freio”, segundo o coordenador de futebol, Branco. A Unimed-Rio, patrocinadora, avisou que não pagará mais supersalários dos craques da casa. “Vamos trabalhar com os jogadores que o clube pode pagar”, afirma o tricolor.
Na Inglaterra, a situação é bem mais grave. O Chelsea de Felipão já analisa transferir jogadores e reduzir o elenco. O dono do time, Roman Abramovich, perdeu só na Bolsa de Moscou o equivalente a R$ 54 bilhões.
Magnata teve que adiar até o casamento
Para ganhar mais dinheiro, os clubes estrangeiros abriram capital e passaram a vender ações nas Bolsas de Valores. Quem comprou virou sócio dos times: lucra na alta, mas acumula perdas com a queda dos papéis. Além do mais, os magnatas do futebol também tinham investimentos em ações de outras empresas. Com a crise financeira internacional, muitas delas registraram prejuízos, aumentando o endividamento dos cartolas.
Em meados de outubro, o bilionário russo Roman Abramovich, dono do Chelsea do técnico brasileiro Felipão, adiou seu casamento com a ex-modelo Dasha Zhukova devido à crise global. Ele perdeu só na Bolsa de Moscou o equivalente a R$ 54 bilhões. “Dasha deveria se casar em outubro, mas pelo que entendi em conversa com ela, o casamento será realizado somente em dezembro”, disse amiga da noiva de Abramovich, na época.
Abramovich teria dito que que não tinha “tempo nem ânimo para preparar a festa”, pois está se dedicando totalmente aos negócios. No Brasil, os clubes não venderam ações na Bolsa de Valores de São Paulo, mas estão perdendo o jogo para a falta de crédito e de investimento de patrocinadores.
FALTA DE GRANA: OLÉ NOS TIMES
VASCO
O presidente Roberto Dinamite disse que a crise agravou a situação financeira do clube. Segundo ele, a nova diretoria assumiu o clube com o caixa zerado pela outra administração. “Hoje o Vasco vive dois desafios: o de campo, tentando se livrar do rebaixamento, e do caixa, buscando terminar o ano com os salários de atletas e funcionários em dia”. As negociações de novos contratos para 2009 estão comprometidos, segundo Dinamite.
REFORÇO
Com o dólar em alta, trazer reforços de fora do País ficou bem mais caro. “Repatriar jogadores ficou mais difícil também com a desvalorização do real. No ano que vem, certamente teremos um ano atípico em relação à transferências”, diz Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e conselheiro do Palmeiras e do presidente Lula.
OUTROS TEMPOS
“Clubes já não têm facilidade de obter empréstimos em banco e a situação vai piorar... Vão ter que acabar com a necessidade de financiamento mediante crédito bancário”, conclui Beluzzo.
FLAMENGO
O vice-presidente Kléber Leite garante que o clube vai buscar solução. “É igual quando descobre uma doença. Não adianta sucumbir, temos que encará-la”.
Fonte: O Dia Online