Hoje aposentado, Pedro Ken relembra passagem pelo Vasco e não descarta voltar a trabalhar no futebol
Quarta-feira, 16/10/2024 - 04:33
Aos 37 anos, Pedro Ken está com as chuteiras penduradas desde outubro de 2021, quando entrou em campo pela última vez com a camisa do Operário-PR. Em entrevista ao ge, ele repassou 16 anos de carreira e não descartou a possibilidade de voltar a trabalhar com futebol, atuando fora das quatro linhas.

— Eu tenho três restaurantes de comida japonesa. O primeiro restaurante tem 10 anos, montei com amigos de infância em Curitiba, e o segundo e o terceiro vão fazer oito ou nove anos. Eu não sei ainda se esse é o ramo que eu vou seguir, estou deixando em aberto e vendo possibilidades em vários ramos diferentes, tentando experimentar coisas e ver o que me atrai mais - pontua.

O ex-meia vai inaugurar um quarto restaurante no final do ano. Ao mesmo tempo, está perto de se formar em administração e vem se aperfeiçoando em assuntos imobiliários e temas relacionados à sustentabilidade e inovação. Apesar disso, Pedro Ken também não descarta trabalhar com futebol futuramente.

— É uma coisa que me dá dó de largar. É uma pena não estar nesse meio depois de viver tudo o que eu vivi. O futebol é uma coisa que está aberto. Tem muita função que eu poderia exercer, tanto em clube quanto fora.

— Não tenho preguiça de aprender, é o momento de sair de uma coisa que fiz a vida inteira e ter 18 anos de novo, tendo que escolher o que vou fazer no vestibular, que área eu vou seguir. Mas claro, estou numa situação muito mais tranquila por, graças a Deus, ter tido muito sucesso nessa primeira fase da minha carreira. Isso me dá segurança e tempo para escolher bem. Vamos ver o que a vida nos traz - finaliza.



A carreira no futebol

Como jogador, Pedro Ken viveu momentos marcantes por Coritiba, Cruzeiro, Vitória, Vasco, Ceará e Operário-PR. Ele também jogou no Avaí, no Juventude e na Rússia. Em meio a 520 jogos, uma lesão no ligamento do joelho e um caso de doping no Ceará são elencados por ele como os momentos mas difíceis da carreira.

  • Coritiba: 168 jogos

  • Cruzeiro: 29 jogos

  • Avaí: 26 jogos

  • Vitória: 79 jogos

  • Vasco: 87 jogos

  • Terek Grozny: 6 jogos

  • Ceará: 74 jogos

  • Juventude: 9 jogos

  • Operário: 42 jogos


No Ceará, Pedro Ken foi suspenso por seis meses pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem. O atleta teria feito uso de anastrozol e foi pego no teste antes da partida com o Santa Cruz, em 26 de setembro de 2017, pela Série B do Campeonato Brasileiro.

— O segundo pior momento da minha carreira. O primeiro foi no Coxa quando eu rompi o ligamento cruzado e fiquei de fora depois de um momento muito feliz, depois de dois títulos.

A defesa do jogador apresentou provas de contaminação cruzada, e a sentença do tribunal do Ministério do Esporte reconheceu a hipótese.

— Eu sempre fui muito profissional, sempre procurei fazer tudo que eu podia fazer para estar 100%. Ia em um médico fora do clube, que na época me receitou suplementos e a farmácia de manipulação mandou um pote vieram contaminado. Descobri porque mandei todos os suplementos para análise. Acabei pegando seis meses de punição, que na época era a punição mínima - revelou ao ge.

— O pessoal do Ceará foi muito compreensivo, me ajudaram no julgamento, com advogado, em tudo que precisou eles deram suporte. Foi uma pena mínima, mas mais um percalço na carreira. A partir dos quatro meses de punição eles liberaram para treinar, mas você acaba saindo totalmente do convívio do clube - explica.

— Para o jogador de futebol, seis meses é muito tempo. É muito tempo para uma carreira de 10, 15 anos, diferente de uma pessoa normal que tem 30 ou 40 anos em uma mesma profissão. Seis meses equivalem a dois anos ou três. Ficar de fora é muito difícil e ainda mais injustamente.

Piá do Couto

A carreira de Pedro Ken começa no futsal do colégio onde estudava quando criança, em Curitiba. Destaque nos campeonatos da Federação de Futsal, Pedro foi convidado para testes no Coritiba e vestiu a camisa do clube pela primeira vez com nove anos, na categoria dente de leite.

Ken chegou ao time principal em 2006. O primeiro gol dele como profissional foi em um clássico contra o Paraná Clube.

— Era meu segundo ou terceiro jogo como titular e poder fazer o gol aqui, tava toda a minha família, meus amigos, é aquilo que falei do sonho de criança, de se olhar e se imaginar jogando aqui. Tive esse sonho realizado. Foi um momento de muita explosão, de alegria, de felicidade - lembra Pedro Ken.

— O Coritiba pra mim foi muito importante na minha vida. Me ajudou a me formar como atleta e como pessoa. Convivi com pessoas maravilhosas, fiz muitos amigos que trouxe para a vida, pude conviver com ídolos como Krüger, que foi meu diretor da base, me viu crescer e chegar no profissional. É um ídolo, para mim o maior da história do clube, e pude conviver com ele - destaca.

Longe de casa

Em 2010, Pedro Ken deixou a capital paranaense pela primeira vez para jogar no Cruzeiro. Pela Raposa, Pedro Ken fez apenas quatro gols, sendo que dois deles foram pela Libertadores.

— Tive o privilégio de passar toda a vivência de categorias de base aqui na minha cidade, com a minha família, com os meus amigos, no clube que eu torcia. Eu conhecia todo mundo. E fui sair dessa zona de conforto para ir para um grande clube, na época que o Cruzeiro era o elenco vice-campeão da Libertadores. Era um time muito forte, com estrelas do futebol nacional - conta.

— Senti um impacto grande. Você acaba se assustando com a diferença. Eu não estava acostumado. Foi uma mudança brusca, mas foi muito positivo ao mesmo tempo, uma experiência bacana de início de uma trajetória.

Depois, em 2011, ele foi emprestado para o Avaí, e em 2012 passou para o Vitória, clube pelo qual guarda muito carinho até hoje. Ele saiu para jogar duas temporadas no Vasco, e voltou ao Vitória em 2015.

— Foi um clube com o qual me identifiquei muito na Bahia. Quando eu estava lá, em 2015, meu pai acabou falecendo por um câncer. Eu tive todo o apoio do clube, todo suporte da torcida, era capitão do time. Conseguimos fazer uma grande campanha lá também, é um clube com o qual eu me identifico bastante.

No Vasco, um dos jogos mais marcantes foi justamente contra o Coritiba, que formou o meia.

— Foi um jogo aqui no Couto Pereira, Coritiba e Vasco pela Série A, e era dia dos pais. Meu pai estava aqui, era vivo ainda, e meu avô, pai do meu pai, também estava no estádio. Vencemos por 1 a 0, gol meu, dentro do Couto Pereira. Eu saio até meio perdido, não sabia como comemorar, até dei uma trotada, mas sem abrir os braços, sem comemorar, em respeito - descreve.

— Me lembro que o Alex era o capitão do Coritiba, e o Alex sempre foi um ídolo para mim, para todo mundo da minha geração que começou no clube. O capitão do Vasco na época era o Juninho Pernambucano, outro grande jogador do futebol brasileiro. Poder fazer um gol num jogo desse, jogando tantos craques, diante da minha família, do meu pai, no dia dos pais, do meu avô, mesmo sendo contra o Coritiba (esse foi o lado negativo da situação) foi um momento marcante da minha carreira - completou.



A decisão de parar

Depois de mais de 15 anos jogando profissionalmente, Pedro Ken começou a ter lesões que incomodaram bastante quando jogava pelo Operário-PR. Ele se deu conta de que não conseguia mais ter o mesmo desempenho físico, e as dificuldades no campo se uniram ao fato de que Ken era noivo de uma mulher que morava em Salvador. Uma junção de fatores fizeram com que ele tomasse a decisão de parar.

— Eu queria aproveitar um pouco a vida fora do futebol, e foi isso que fiz no meu período sabático. Pude viajar, visitar meus amigos, visitar família, ter final de semana, coisas que antes era difícil ter. Dava pra ter jogado mais, em termos físicos e psicológicos, até dava, mas não me arrependo de ter parado. Parei bem, em uma idade boa, em um momento bom - avalia.

— Não tenho arrependimento. Apesar de poder jogar mais tempo, eu queria parar por uma decisão minha, e não que me parassem. É melhor parar por opção do que estar querendo e o pessoal não te quer mais.

Fonte: ge