Confira os bastidores da contratação de Vegetti pelo Vasco em 2023, no último dia da janela de transferências
Pablo Vegetti, 35 anos, completou no mês passado um ano desde que chegou ao Vasco. Em 59 jogos, marcou 27 gols e deu três assistências. Muito mais que isso: tornou-se capitão e uma referência dentro da equipe. Hoje não dá para imaginar o Vasco sem o seu camisa 99.
Mas o clube por muitíssimo pouco não deixou de contratá-lo. O Vasco fechou a contratação de Vegetti literalmente no último dia da segunda janela de transferências de 2023, faltando poucas horas para que o prazo de inscrições fosse encerrado.
O caso é parecido com o de Ian Glavinovich, defensor argentino pelo qual o clube chegou a um acordo de transferência com o Newell's Old Boys, mas não conseguiu concluir porque a documentação não foi enviada a tempo. Da mesma forma que dessa vez fracassou na busca por um zagueiro, o Vasco no ano passado quase ficou sem um centroavante.
Um ano depois, o ge conta os bastidores daquela que é certamente uma das contratações de maior impacto do Vasco nos últimos tempos. Houve muita correria e ligações que viraram a madrugada na ocasião, mas um detalhe no modelo da transferência foi primordial para driblar a burocracia e fechar o negócio a tempo.
A busca pelo camisa 9
O centroavante do Vasco no primeiro semestre do ano passado era Pedro Raul. Depois de uma temporada de sucesso no Goiás, o atacante teve um início animador, mas logo sofreu desgaste graças a gols perdidos e cobranças de pênalti desperdiçadas - a principal delas na disputa contra o ABC, na segunda fase da Copa do Brasil, que causou a eliminação da equipe em São Januário.
Seu reserva, Rwan Cruz também não aproveitou as poucas oportunidades que havia recebido. Nessa mesma janela, o Vasco aceitou encerrar o contrato de empréstimo do Santos para que ele pudesse acertar com o Ludogorets, da Bulgária, onde está até hoje. E o jovem Eguinaldo, então com 18 anos, foi negociado com o Shakhtar Donetsk.
O Vasco, que naquele momento ocupava a zona de rebaixamento do Brasileirão, precisava de um centroavante - da mesma forma que precisava de reforços para praticamente todos os setores do campo mirando uma reação que parecia improvável. Mas a chegada do camisa 9 subiu para o topo das prioridades depois que o clube acertou a venda de Pedro Raul para o Toluca, do México.
A proposta apresentada pelos mexicanos foi considerada irrecusável pela diretoria vascaína: mais do que o dobro do valor que o Vasco havia desembolsado por Pedro Raul seis meses antes. De repente o Vasco, que já havia iniciado a janela atrás de um centroavante, abriu mão de três jogadores da posição antes mesmo de encontrar um substituto. Seria necessário atacar o mercado de forma mais agressiva.
Clube foi atrás de alvos
Paulo Bracks era o executivo de futebol e responsável pelas investidas do Vasco no mercado. Desde o início da janela, o clube havia definido três alvos principais: Pablo Vegetti, do Belgrano; Michael Santos, do Talleres; e Gabriel Ávalos, do Argentinos Juniors.
Naquele momento, a situação contratual de Vegetti era a seguinte: sua multa rescisória estava fixada em cerca de US$ 1 milhão, mas a partir de dezembro ele estaria livre para assinar com qualquer equipe de graça. Bracks, na primeira rodada de negociações, ofereceu 50% desse valor ao Belgrano pela liberação imediata, esticou a corda até 60%, mas a princípio não houve um acordo.
As conversas por Michael e Ávalos ocorriam paralelamente, mas em nenhum momento avançaram a ponto de ficarem próximos de uma conclusão. Ávalos e Michael acenaram com a possibilidade de jogar no Brasil, mas Argentinos Juniors e Talleres dificultaram as tratativas.
Diego Costa foi outro alvo trabalhado pelo Vasco no mercado por se tratar de um jogador admirado por Bracks, que cogitou viajar até a Espanha para contratá-lo, mas o atacante que estava sem clube não se mostrou inclinado a chegar para brigar contra o rebaixamento.
O nome de Abel Hernández, que havia trabalhado com Bracks no Internacional, também foi colocado na mesa. Diante da falta de alternativas e com o tempo correndo, o Vasco chegou a abrir conversas com o Peñarol, aproveitando-se de uma troca de farpas entre o clube uruguaio e o representante do jogador, mas no fim não fez tanta força para contratá-lo. Ele não preenchia o perfil.
Enquanto isso, o Vasco contratou Sebastián Ferreira, do Houston Dynamo. O atacante paraguaio foi 100% um pedido de Ramón Díaz e chegou, a princípio, para a vaga de Rwan Cruz como um centroavante reserva. O clube continuaria no mercado atrás do seu goleador, portanto.
Como as negociações por Michael Santos e Gabriel Ávalos não evoluíram, o Vasco finalmente decidiu concentrar os esforços na possibilidade de contratar Vegetti. Era domingo, dia 30 de julho. A janela fecharia na quarta-feira (02/09), dentro de três dias.
"Xeque-mate no Belgrano"
- Eu sentei com a turma dos scouts, que ficavam comigo 24 horas, e falei: vamos para cima do Belgrano e vamos pagar a multa. Esse cara vai chegar aqui e vai performar, é o 9 que a gente quer - contou Paulo Bracks ao ge.
- Eu voltei nele porque via que, se a gente pagasse a multa, eu ia dar um xeque-mate no Belgrano. Imagina, você tem uma multa até dezembro e está negociando o cara para junho, julho. Lógico que os caras vão aceitar. Mas na ponta de cá, fica a impressão de que vamos pagar a mais por alguns meses antes. Por que você vai pagar mais se daqui a dois meses pode ter o jogador de graça? - completou.
O Vasco formalizou nova proposta ao Belgrano, propondo o pagamento integral da multa, no domingo. Na terça-feira à noite, dia 1º de setembro, véspera do encerramento da janela, o clube argentino respondeu "sim".
Houve uma reunião de última hora com os setores de registro, jurídico e scout do Vasco para debater o que poderia ser feito. Ao mesmo tempo em que emitia passagens para Vegetti e seu empresário, o clube fazia contato com a Associação de Futebol Argentino (AFA) para acelerar os trâmites porque havia tido experiências demoradas e desgastantes nas contratações recentes de Luca Orellano e Manuel Capasso.
Em toda transferência em definitivo de um jogador argentino, além da necessidade da troca de documentos, a AFA cobra uma taxa cuja emissão leva tempo. Empréstimos são transações bem mais simples. Na quarta-feira de manhã, faltando menos de um dia para encerrar a janela, Bracks colocou em prática uma ideia para driblar a burocracia: Vasco e Belgrano fechariam um empréstimo com obrigação de compra com uma meta simples, quase irrisória, que certamente seria batida.
Foi dessa forma que ficou definido que o Vasco seria obrigado a comprar Vegetti caso o atacante marcasse um gol durante o período do empréstimo. A inscrição e todo o restante dos trâmites foram concluídos a tempo.
O argentino foi anunciado oficialmente na sexta-feira e estreou dois dias depois, no domingo, na partida contra o Grêmio. Ele entrou aos 19 minutos do segundo tempo e, aos 35, marcou de cabeça o gol da vitória por 1 a 0 em São Januário. Cumpriu a meta no primeiro jogo.
Fonte: ge