Ex-atacante Deivid relembra gol incrível perdido contra o Vasco quando jogava no Urubu e 'culpa' Zico
Domingo, 19/05/2024 - 02:33
No dia 22 de fevereiro de 2012, em clássico contra o Vasco, no Nilton Santos, pela semifinal da Taça Guanabara daquele ano, Deivid perdeu um dos gols mais inacreditáveis do futebol brasileiro. Após cruzamento rasteiro de Léo Moura, o ex-atacante, que estava com o alvo livre dentro da área, já com o goleiro Fernando Prass "vendido", conseguiu a proeza de acertar uma das traves. E até hoje o lance dá o que falar - e ainda rende muita resenha.

Até antes do lance, o Flamengo vencia o arquirrival por 1 a 0, com gol de Vágner Love, e teve a chance de ampliar. Mas, no fim, o Vasco virou o placar por 2 a 1 com gols de Alecsandro e Diego Souza e foi à final da Taça Guanabara contra o Fluminense.



Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br concedida pela Betfair, Deivid lembrou do fatídico dia e revelou que há muita história por trás do incrível gol perdido. E, inclusive, envolvendo o ídolo rubro-negro Zico.

À época, Deivid estava na sua terceira temporada no Rubro-Negro, depois de voltar da Europa em 2010. Por conta do lance, o atacante acabou ficando marcado pela torcida do Flamengo, o que culminou na sua saída para o Coritiba em agosto daquele ano.

"Foi um lance realmente inacreditável porque a partida estava caminhando para ganharmos o jogo, estava 1 a 0, e de repente uma bola que estava perdida, o Léo Moura consegue salvar dando o carrinho e cruzando. Quando ela passa, eu na verdade nem acreditei. E quando eu vi o Fernando Prass vindo, eu queria tirar, botar ela bem no cantinho. E ela acabou batendo na trave e saiu. A lembrança que eu tenho foi com o jogo rolando, a imprensa toda já estava esperando para dar entrevista, tinha o quadro "Inacreditável Futebol Clube" (da TV Globo), todo mundo que perdia aquele gol inacreditável colocava a camisa. Eu fui o único a não colocar", lembrou.

"Era um lance que eu não estava acostumado a perder. Eu vinha da Europa, tinha feito uma Champions League excelente pelo Fenerbahçe, fiz gols bonitos contra o Chelsea e Inter de Milão, e de repente eu perco aquele gol. O que realmente ficou marcado para o torcedor do Flamengo (da minha passagem) foi esse gol, porque quando eu cheguei se criou muita expectativa. Todo mundo queria o Deivid do Cruzeiro, do Santos, do Corinthians, campeão brasileiro. E eu chego no Flamengo com 31 anos e cria-se aquela expectativa. Estavam remontando o time, saíram Vágner Love e Adriano, então eu chego com aquele peso da maior contratação daquele ano, o nosso time ficou sete meses sem perder. E de repente, quando perde, saindo da Libertadores, do Campeonato Carioca com esse gol".

E mesmo com tudo o que envolveu o lance, Deivid não se abateu. Antes de desembarcar na Gávea, o jogador teve passagens vitoriosas por Santos, Corinthians e Cruzeiro, onde inclusive conquistou a Tríplice Coroa em 2003 com Vanderlei Luxemburgo. O ex-atacante também contou com a apoio de seus companheiros de vestiário para superar o momento.

"Eu sempre fui muito positivo. Eu nunca me abati fácil, um cara de muita personalidade, muito forte. E quando eu perdi o gol, o grupo todo dentro vestiário veio falar comigo. Todos os jogadores. 'Levanta cabeça, isso faz parte. A gente sabe a importância que você tem no time'. O nosso grupo era muito fechado. Claro que eu me abati porque você perde o gol e logo em seguida perde o jogo. Se eu perdesse o gol e o Flamengo tivesse ganhado, passado para a final, não teria tanta repercussão. Mas o fato de ter saído da Libertadores contra o Olimpia, e logo em seguida ter saído do Campeonato Carioca. Rivalidade, semifinal, ficou muito marcado. Mas isso faz parte. Quando eu jogava, você tem que estar pronto para isso, para a crítica", lembrou.

"Quando eu perdi o gol, vi todos os meios de comunicação. E quando eu cheguei no centro de treinamento, a imprensa toda me queria para entrevista. O nosso diretor de comunicação falou: 'Você não vai para a entrevista'. Eu falei 'eu vou, o foco sou eu, eu quero ir para a entrevista'. Eu fui e falei 'o que vocês querem me perguntar é sobre o gol que eu perdi, foi inacreditável, saímos da final. Realmente a culpa é minha, foi um gol inacreditável mesmo, se eu tivesse feito aquele gol a gente tinha feito 2 a 0, talvez o Vasco não viraria o jogo, mas são coisas do futebol. Eu tenho que reconhecer, aceitar, e levantar a cabeça'. Depois ficamos um mês sem treinar e sem jogar porque eram duas semanas a final, e a gente depende do Campeonato Carioca para entrar no Campeonato Brasileiro, entre 20 a 30 dias para entrar o Brasileiro. Isso também ficou muito pesado, muito marcado, porque aí vêm novas contratações, o jogador que vai embora, o que vem", prosseguiu.

"Eu lembro da torcida do Vasco gritando meu nome, isso faz parte porque é o time rival. Eu lembro que pelo Cruzeiro eu ganhei, tirei o Vasco das quartas de final, pelo Santos fui campeão brasileiro em cima do Vasco, pelo Corinthians fiz vários gols no Vasco. Eu era um jogador que fazia muitos gols, contra o Vasco, São Paulo, Atlético-MG. Ficou muito marcado a torcida do Vasco gritando o meu nome, mas isso faz parte do futebol e você tem que levar na brincadeira. Claro que a gente quer só escutar elogios, mas a crítica também faz parte para você crescer, tanto no profissional quanto no pessoal. Mas isso fez eu crescer demais em tudo".

Deivid encerrou a sua passagem pelo Flamengo com 94 jogos, 31 gols marcados e ainda 6 assistências. Em 2011, foi campeão carioca, seu único título pelo clube.

'Isso aí foi praga do Zico'

O que muitos não sabem é que, anos antes do fatídico gol perdido, uma espécie de "profecia" feita por Zico, que trabalhou como diretor executivo do Flamengo em 2010 e repatriou Deivid, se tornou realidade. Claro, tudo não passa de uma brincadeira, que é lembrada com bom-humor pelo ex-atacante, amigo próximo do Galinho.

Isso porque nos tempos de Fenerbahçe, quando a lenda rubro-negra treinava o clube turco ao lado de uma legião brasileira com Alex e outros nomes, Deivid brincava sobre o pênalti perdido por Zico na Copa do Mundo de 1986, nas quartas de final contra a França.

"Isso aí foi praga do Zico. Eu ficava brincando com ele, o gol que ele perdeu na Copa, que ele matou um monte de gente no Brasil. E aí depois, que eu perdi contra o Flamengo, ele falou assim: 'você nunca mais vai me zoar agora, agora você ficou marcado também'", lembrou Deivid.

"Ele ia lá para casa direto (na Turquia), a gente fazia churrasco, tinha os brasileiros. Ia para lá direto e falava 'aquele pênalti lá na Copa...'. Ele ficava louco comigo".

"A gente é muito amigo, de frequentar a casa. E eu não saía da casa dele. Eu falava até para os filhos dele 'isso aí foi culpa do seu pai, essa mandinga que ele jogou em mim'".

Deivid também lembrou que a relação praticamente de "pai e filho" que cultivou com Zico foi o que rendeu a sua volta ao Brasil. E tudo após uma ligação feita pelo Galinho.

"Ele (Zico) me liga e fala: 'eu preciso de você. Preciso de um atacante e o nome é você'. Eu falei: 'eu tenho mais dois anos de contrato aqui (no Fenerbahçe), não posso abrir mão desse contrato'. E ele: 'vem que vamos te pagar. Pode vir'. Eu rescindi com o Fenerbahçe e voltei ao Brasil para o Flamengo", disse.

"Eu falei 'preciso voltar ao Brasil, o Zico precisa de ajuda lá'. O Flamengo estava desmontando o seu elenco. E aí chegamos no momento tumultuado dentro do Flamengo, o time ainda não tinha jogadores, o Flamengo não conseguiu contratar. Eu fui só por causa dele. Era o Flamengo e eu já tinha trabalhado com ele", finalizou.

Fonte: ESPN