Destaque de time da Tunísia, Yan Sasse relembra passagem pelo Vasco e projeta final da Copa da África
Sábado, 18/05/2024 - 15:53
Em 2022, Yan Sasse ficou sete meses sem jogar futebol. Ele havia saído do América-MG livre depois de sofrer com uma série de lesões até precisar realmente parar para cuidar de um problema no púbis por conta própria. Na época, pensou em desistir do futebol. Pouco mais de dois anos depois, a vida do jogador mudou. Aos 26 anos de idade, transformou-se em destaque do Espérance, da Tunísia, que inicia neste sábado, às 16h, em Tunis, a disputa do título Liga dos Campeões da África contra o Al Ahly, do Egito. O jogo de volta será no dia 25 de maio, no Cairo.

A decisão da competição tem uma importância gigantesca para o Espérance. O último título do clube na competição foi conquistado em 2019, em uma decisão polêmica contra o Wydad Casablanca, do Marrocos. Na ocasião, no jogo de volta, um gol anulado provocou o abandono do Wydad. Depois de dois meses de briga na Justiça, o Espérance acabou declarado campeão.

- Aqui só se fala nesse jogo. Encontro torcedores na rua, no restaurante, no shopping, e eles falam: "Esquece as copas, o nacional, só precisamos ganhar esse título". Desde que cheguei aqui, é o que mais pedem. Vamos enfrentar o maior vencedor, um dos maiores clubes da África, mas acredito que temos chance sim - afirmou Yan Sasse em entrevista ao ge.

O Al Ahly tem 11 títulos, três deles nos últimos quatro anos, e cinco vice-campeonatos. Além disso, vai disputar sua sétima final da competição em oito anos. O Espérance vai em busca de seu quinto título. O clube da Tunísia também terminou vice-campeão em quatro oportunidades.

Contratado para assumir a camisa 10 do Espérance, Yan Sasse correspondeu ao que se esperava dele. Ele participou dos 12 jogos da campanha (sendo dois da fase eliminatória antes da fase de grupos), todos como titular, marcou três gols, um deles na vitória por 1 a 0 sobre o Sundowns, da África do Sul, no jogo de ida da semifinal, e deu uma assistência.

- No começo, foi muito complicado. Quando chega, você assusta um pouco, com uma cultura diferente, mas eu desde que cheguei no aeroporto fui recebido muito bem pelos torcedores. Percebi que estava em um lugar bom, e assim você chega com outro ânimo. Eles já me olhavam com esperança de que eu havia chegado para ajudar. O que mais me ajudou foi ser abraçado pelos torcedores. A adaptação foi bem tranquila, leve e consegui desempenhar um bom futebol - afirmou Yan.

A trajetória até chegar ao Espérance teve momentos inusitados. O primeiro passo para jogar futebol depois da lesão no púbis, que o afastou por sete meses, aconteceu na Nova Zelândia, quando aceitou uma proposta do Wellington Phoenix, que disputa a liga australiana (A-League). Na época, sequer levou a sério o telefonema que recebeu. Hoje, agradece por terem acreditado na sua recuperação.

- Eu pensei em parar. Não conseguia andar, sentia dor para dormir, sair da cama. Não conseguia dar um passe de cinco metros. Fiquei nesse meio tempo fazendo tratamento particular. Até que apareceu esse. A primeira vez que ligaram eu estava no shopping com minha esposa, desliguei na hora, disse para me chamarem depois. Foi bem aleatório. Depois, eles me ligaram com um tradutor, expliquei que queria, mas tinha a lesão. Eles, então, disseram que estavam dispostos a me ajudar na recuperação. Tiveram cuidado comigo, comecei a jogar, tive uma sequencia boa e terminei jogando. Os caras salvaram a minha carreira, a minha vida - contou.

A ida para o Espérance aconteceu em agosto do ano passado justamente depois de mostrar estar completamente recuperado da lesão com a sequência na A-League. Inicialmente, Yan, mais uma vez, se mostrou desconfiado. Consultou Clayton, um brasileiro que atuou na seleção da Tunísia e no Espérance, para entender um pouco sobre o país. Na primeira visita, já se encantou e assinou contrato até 2026.

- Primeiro, a gente começa a pesquisar na intenet. Olha a cidade, o clube, para ver como seriam as coisas aqui. Consegui o contato do Clayton, que é bem famoso aqui, e ele me deu boas informações sobre o clube e a cidade. Mas ainda só indo para ter certeza. Vim com a intenção de conhecer antes de fechar. Cheguei, gostei, vi que minha família viveria bem aqui e fechei - comentou Yan, casado há oito anos com Gabriela e pai de Théo, de dois anos.



Apesar de estar em boa fase, a melhor da carreira, segundo o próprio Yan, ele ainda pensa em novos ares na Europa ou em uma volta ao Brasil. Além do América-MG, ele também defendeu Coritiba, seu clube de origem, e Vasco, onde não conseguiu se firmar. Também atuou na Turquia, pelo Çaykur Rizespor.

- Eu tenho muita vontade de ir para Europa sim, rodar um pouco, ou até mesmo ir para um país asiático. Mais para frente, jogar no Brasil de novo, muito mais maduro, com a cabeça diferente. Cheguei muito novo no Vasco, sabia da grandeza, mas não tinha noção de pressão de torcida, não estava pronto para esse tipo de ambiente. Um jogo ruim, a torcida vaiou, e eu perdi toda a confiança. Naquele momento, era melhor sair do que ficar naquele ambiente e se perder cada vez mais. Acabei indo para a Turquia, fui bem, joguei mais leve, confiante, voltei a sorrir. Mas estava emprestado, e o Coritiba quis a minha volta em uma situação complicada, com pandemia. O clube acabou rebaixado de novo comigo no elenco - explicou Yan.

Por enquanto, a permanência na Tunísia também está atrelada ao Mundial de 2025. Com sua família bem adaptada, morando perto de uma das praias de Tunis, ele faz planos para estar na competição, que acabou atraindo muitos brasileiros para mercados periféricos.

- O que mais me chamou a atenção foi a Liga dos Campeões da África. Se a gente não chegasse na semifinal, teria que esperar o ranking para classificar. O maior objetivo do clube era esse. Isso ajudou um pouco sim - disse.

Além de Espérance e Al Ahly, também estão garantidos no Mundial pela África o Wydad Casablanca, de Marrocos, e o Mamelodi Sundowns, da África do Sul.

Fonte: ge