Ex-presidente do Urubu, Marcio Braga fala da relação com Eurico Miranda: 'Tudo que o Eurico desejava era destruir o Flamengo'
Sexta-feira, 12/04/2024 - 15:21
Marcio Braga completa 88 anos no dia 14 de maio. A idade avançada deixa escapar alguns nomes, mas não o impede de ir a Macaé trabalhar toda semana - como gosta de dizer, é tabelião no Rio de Janeiro desde 1957. Mas ele gosta mesmo é de ser chamado de presidente. Da sua maior e inexplicável paixão: o Flamengo.

Com a língua solta de sempre, recordou no Abre Aspas a formação e o desmanche do Clube dos 13, os times inesquecíveis e as polêmicas, que vão das Papeletas Amarelas de 1986 até os desafetos nas andanças de décadas no futebol brasileiro. Também sobrou para o atual presidente Rodolfo Landim.

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Por que o Flamengo demorou tanto para se tornar a potência econômica que é hoje?

— Ah, porque não é fácil. Precisaríamos de um outro programa só para falar dos interesses que são contrários ao interesse dos clubes. Agora mesmo estava revendo um programa sobre a Copa União [de 1987]. A força dessas instituições. Repare: eu deputado federal, constituinte, com a lei na minha mão, fui eu quem colocou ali. Com o CND (Conselho Nacional do Desporto) a meu favor, a nosso favor. Com tudo isso, aquele cara da Federação lá de São Paulo, o Nabi Abi Chedid, criou problema conosco. Então essas instituições mais antigas, que tinham o duto do poder, o duto dos recursos voltado para eles, é que transformavam esses clubes todos, todos, mendigando. Nós fazemos o futebol, nós pagamos os atletas, nós montamos o espetáculo. E eles ganham dinheiro.

O Clube dos 13, a Copa União, foram uma resposta a isso?

— Sim. Otávio Pinto Guimarães [presidente da CBF] foi ao Jornal Nacional e disse: "Este ano não temos condições de organizar o campeonato nacional". Eu peguei o telefone e liguei para o Carlos Miguel Aidar [presidente do São Paulo]: "Está na hora de agir. A revolução está na rua. A bandeira é de quem pegar". Foi assim que começou. Montamos um campeonato. Veio a TV Globo, doutor Roberto comprou. A Coca Cola bancou quem não tinha anúncio na camisa. Vendemos para a Varig e fizemos o campeonato. Fizemos um campeonato que foi o mais rentável. E, para terminar, Flamengo campeão.

Por que os clubes não conseguem fazer uma liga até hoje?

— Olha, naquela época foi possível porque nós demos um golpe ali, né? E agora eu não vejo condições de se dar esse golpe. E os clubes divididos fica difícil mudar as coisas. Esse pessoal de federação, das entidades de administração, é um jogo muito pesado deles. Melhorou muito. Mas continua sendo muito complicado você virar esse tipo de coisa. Então não vejo como fazer isso. E olha que eu sou de briga, mas também já estou um pouco velho.

O senhor se sente traído pelo que aconteceu depois? Por quem?

— Ah, sim. Pelo Eurico Miranda, que se fechou aqui com o Caixa D'Água [Eduardo Viana, ex-presidente da Ferj] e elegeram o Ricardo Teixeira [presidente da CBF], que veio com a proposta das federações. Quem votava eram as federações. Acabaram com o Clube dos 13. E se encheram de dinheiro, tanto as federações quanto eles e os seus bolsos.

Como era sua relação com o Eurico?

— No fundo, no fundo, não era má pessoa. Não era um Nabi Abi Chedid. Ele viveu a vida inteira dessa briga com o Flamengo. Era inteligente, se elegeu deputado duas vezes graças à briga com o Flamengo. E jogava com o poder, se juntava com o presidente da Federação, tudo para ficar contra o Flamengo. Tudo que o Eurico desejava era destruir o Flamengo, e fizeram essa dupla aí.



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Fonte: ge