Diretora de Responsabilidade Social, Clarissa Arteiro comenta iniciativas do Colégio Vasco da Gama no debate sobre masculinidade
Segunda-feira, 25/03/2024 - 17:43
O Colégio Vasco da Gama, em São Januário, tem se dedicado nos últimos anos, além da formação convencional, a fazer um trabalho de conscientização com os alunos, em sua maioria homens.

Clarissa Arteiro explica que trabalho de conscientização dos alunos do Vasco é cotidiano


Com as condenações por estupro de Daniel Alves e Robinho, por exemplo, o clube vai intensificar nas salas de aula o debate sobre masculinidade.

- A gente tem um calendário de palestras que vai mudando de acordo com os temas atuais. Tratamos isso também nas aulas e nas conversas do dia a dia. Sempre lembrando a eles que o Vasco é o time da inclusão - explica ao ge Clarissa Arteiro, diretora de Responsabilidade Social e História do clube associativo.

- Ficamos atentos, por exemplo, para repreender o preconceito em tom de "piada". A gente vai mudando isso com exemplos cotidianos. É importante falar abertamente sobre os termos, dizer que é estupro, que é assédio, que é importunação, explicar muitas vezes de forma lúdica. Nos próximos dias vamos falar sobre os casos do Daniel Alves e do Robinho - completa ela.

A prisão de Robinho e a cultura do abuso no futebol


Em reportagem que foi ao ar domingo no Fantástico (veja acima), o Vasco é citado como exemplo por causa do trabalho de conscientização com a base. Em 2022, Clarissa, então coordenadora de Integridade e Compliance do clube, deu palestra para os jogadores do time profissional.

Diretora do Vasco, Clarissa Arteiro ressalta importância de educar a base


A escola, gerida pelo clube em parceria com a SAF, atende hoje cerca de 140 alunos entre jogadores da base e atletas de outras modalidades. Desse número apenas duas são meninas.

- Damos todo o apoio a elas, e é importante para os meninos aprenderem a lidar com mulheres, porque eles lidam praticamente só com homens, às vezes homens de outras gerações, com outros discursos. Nossa missão é mudar essa cultura - afirma Clarissa, que acrescenta:

- É importante a educação desde novos para eles poderem identificar e repreender outros homens, atletas, os amigos, ao perceberem alguma conduta errada. Eles vão ter conhecimento para saber que não é legal. A gente espera uma maturidade muito grande deles em campo, mas esquece que eles estão ali desde os 6 anos vivendo para o esporte, em um âmbito praticamente só de meninos.



"Meninos anti-Machistas"

Um dos parceiros do Vasco da Gama é Marcelo Correia, um dos autores e idealizadores da "Coleção MaM Meninos anti-Machistas". No ano passado, ele ministrou um ciclo de encontros com os alunos do colégio do clube.

- Falo com eles abertamente sobre assuntos que são tabu. Quando eles se sentem à vontade começam as mudanças. A gente fala de masculinidade, paternidade, tudo isso desconstruindo a imagem de homem que a sociedade impõe. A gente tipifica as violências, trabalha a sexualidade, fala sobre a cultura do assédio e do estupro - conta Marcelo ao ge.



O clube busca levar o assunto para fora das salas de aula e, neste mês, Marcelo teve um encontro com a comunidade da Barreira do Vasco em São Januário. Os pais levaram os filhos para uma contação de histórias que aborda o tema da masculinidade.

- Cheguei de unha pintada, girassóis na mão. No começo eles fazem piadas, mas no fim estão todos com as flores na mão e me ajudando a contar a história. Ideia é tirar o garoto desse lugar de preconceito que ele está inserido desde sempre - declara Marcelo, que destaca a importância de preparar os meninos para se posicionar e ajudar a educar familiares e amigos:

- O homem que violenta uma mulher é parte da nossa vida, é alguém da nossa família, é amigo de alguém. Os homens são estimulados a isso desde crianças. Todo menino nasce num rio que já está envenenado. Meu trabalho é de conscientização geral sobre o papel do homem. A criança, muitas vezes, nunca viu um homem falando sobre aquilo.

O Vasco planeja outra rodada de encontros de Marcelo com os alunos do colégio ao longo de 2024. O escritor também é cantos e compositor e também usa suas músicas para falar sobre assuntos como masculinidade e parentalidade. Abaixo um pedaço da letra da canção "Cansei de Ser Homem":

Se isso é ser homem, eu cansei
Eu quero mais de mim

Cansei
De enterrar tudo que me passou
Cansei é de calar a minha dor

Cansei
De machucar quem não tem nada a ver
Cansei de ser e de fazer sofrer


Fonte: ge