Douglas Luiz: 'Irei voltar para o Vasco e dar meu melhor para finalizar essa história'
Meu nome é Douglas Luiz e sou um cara realizado.
Eu vim de comunidade e sei o quanto é difícil ter uma oportunidade, ser valorizado. Hoje, estou na seleção brasileira e na Premier League, o campeonato mais difícil do mundo.
É uma realidade que estou vivendo que, no passado, era só sonho. Jogar com grandes jogadores como joguei? Cristiano Ronaldo, Lionel Messi? É um pouco inexplicável...
Lá atrás, não dava para pensar nem em ir ao estádio para ver esses caras. Hoje, estou conseguindo jogar, estar próximo deles... É um sonho que jamais pensei alcançar.
Lógico, vou sempre buscar mais, mas a palavra certa é realização. Até por toda dificuldade que passei – e foram vários episódios.
Teve vezes, por exemplo, que perdi treinos. Episódios em que estava saindo com meu pai e, no mesmo momento, acontecendo um tiroteio onde eu morava.
Para vocês que não conhecem, na comunidade é assim: quando uma pessoa é baleada, seja bandido ou não, é um morador quem leva para o hospital.
Naquele dia, eu estava saindo para o treino, tinha uma pessoa baleada. Meu pai teve que me tirar do carro para levar essa pessoa para o hospital.
Foi um episódio que nunca vou me esquecer.
São momentos difíceis, mas que servem para sua vida como aprendizado, experiência... Eu sempre agradeci a Deus por essa estrutura familiar que eu tive. Foi o ponto essencial na minha vida.
Eles sempre me explicaram sobre a minha situação, e eu fui crescendo, entendendo, vendo que era difícil... E eu tive que lutar e manter minha persistência.
Então só tenho que agradecer. Não só meus pais, mas irmãos, irmãs. Família para mim é tudo, sempre vai ser. E até hoje eles me ajudam. Eu era um Douglas que não tinha tanta estrutura, e hoje é completamente diferente.
Minha família sempre vai ser minha prioridade.
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Falando da Nova Holanda, onde eu cresci, foi um lugar muito especial. Cara, lembro que eu só vivia dentro do campo, eu morava muito próximo de um campo lá, o Campo da Paty. Eu nasci ali, vivi ali e tenho amigos ali...
Nova Holanda é tudo para mim também. Foi meu ensinamento, minha base, onde aprendi bastante. Por isso, vou sempre levar no meu coração.
Quando volto lá, volto com muito orgulho. Foi ali que aprendi a ser homem.
Quando volto, é para dar um pouco de esperança para todos os garotos que sonham em ser advogado, médico, jogador, atleta... Mas, acima de tudo, um homem vencedor na vida.
Digo para eles: persistam.
Persistam no seu caminho, nos seus sonhos. Acredite em Deus, primeiramente, e ouçam seus pais, a família é a estrutura de tudo. E é isso.
Hoje, eu ajudo bastante com cestas básicas, alimentos, estrutura de algumas coisas... Mas está só no começo. Sei que posso fazer muito mais ainda pela comunidade, mostrar muitas coisas para os jovens e as crianças.
É um sonho que tenho ainda, fazer grandes projetos para a comunidade de onde eu vim.
Porque o que eu estou vivendo hoje aqui é graças a todas as pessoas que passaram na minha vida. E até as que me fizeram mal, porque com o mal também se aprende.
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Eu já tive momentos de pensar em desistir. Tive um início muito difícil no Vasco. Não só por morar na comunidade, mas financeiro também.
Foram seis meses no Vasco em testes. Eu morava próximo de São Januário e sai um ônibus com todos os atletas para Itaguaí, na época, onde era o CT da base.
E funcionava assim: quando um jogador não tinha passado nos testes ainda, deveria pagar o ônibus. Então, eu tinha meio que compor com meu prejuízo... Minha família me ajudava bastante, mas eu gastava cerca de R$ 40 por dia. Era complicado.
Mas, se eu pudesse falar para o Douglas daquela época, acho que não mudaria nada, não. Eu tenho que agradecer muito ao Vasco, foi um clube que sempre soube entender os motivos de quando não pude treinar, quando cheguei atrasado... Tiveram muita paciência.
Como eu sempre falo: o Vasco para mim também é tudo.
Me tornou homem, me tornou atleta. Eu estudei no Vasco, cresci no Vasco, aprendi no Vasco. São muitas coisas que me ajudaram, não só como jogador, mas pessoa também.
E eu fiz de tudo pelo Vasco, dei o meu melhor na base e no profissional. Dei minha vida. Foi uma passagem bonita, apesar de curta.
E minha história com o Vasco não terminou. Vai ter minha volta.
Acho que um pouco mais para frente. Assim que eu conseguir realizar todos meus sonhos que tenho aqui fora. Irei voltar para o Vasco e dar meu melhor para finalizar essa história.
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Eu valorizo cada detalhe que passei na minha vida. Isso é um motivo de orgulho. Tanto para mim, quanto minha família.
Eu sei que eu nasci para isso.
Se fosse parar e pensar, eu nunca pensei em ser um Douglas Luiz diferente do que eu sou hoje.
Estou aqui, jogo em um grande time, represento meu país... Por isso a palavra também é agradecimento.
De novo, quero buscar mais, crescer e evoluir a cada dia.
Mas se eu puder resumir minha história em um conselho: sigam seus sonhos e nunca desacreditem.
Fonte: ESPN