Pouco mais de duas semanas após ser demitido pelo Vasco, William Batista falou com o ge sobre sua saída. O técnico do sub-20, que comandou o time profissional nos primeiros jogos do Campeonato Carioca, abriu o jogo sobre eliminação na Copinha, revelou amizade com Ramón e Emiliano Díaz, comentou melhorias na estrutura da base e enumerou os garotos com mais potencial no clube.
- Quando começaram as trocas na base houve um sentimento de insegurança, normal com funcionários de qualquer empresa. Me apeguei ao trabalho, em algum momento acreditei que não aconteceria por isso. Tive três demissões na minha carreira em 10 anos, todas pelo mesmo motivo: em algum momento troca todo mundo da direção e essas pessoas têm outras pessoas de confiança, isso é normal no futebol. O que me deixa contente é que não saí por falta de competência, resultado e desenvolvimento dos jogadores. Mas confesso que fiquei surpreso, esperava a oportunidade para dar continuidade ao trabalho - considerou o treinador.
- Realizei meu sonho no Vasco, vou levar o clube para sempre na minha vida. Eu tinha o sonho de treinar uma equipe profissional e de entrar em um estádio lotado e realizei em um clube gigantesco como o Vasco - completou William Batista.
Eliminação na Copinha foi determinante?
O Vasco foi eliminado na segunda fase da Copinha após derrota por 4 a 1 para o Vitória. William Batista elegeu três fatores que influenciaram a campanha: ausência de jogadores importantes, condições do gramado e "abandono" do estilo de jogo. Mas a queda precoce não é vista como determinante para a demissão, até porque o treinador foi o escolhido para comandar o profissional nos dois primeiros jogos do Carioca (uma vitória e uma derrota), quando o elenco principal estava com Ramón Díaz em pré-temporada no Uruguai.
- Durante a preparação para a Copinha havia uma expectativa boa por causa dos jogadores que tínhamos. O Ray, o Rayan, o JP e até esperando que o GB pudesse estar apto em algum momento. O Ray tem uma lesão no ligamento, um jogador muito importante para a gente. O João Vitor, que vinha treinando, não foi inscrito a tempo. Por um bom motivo, as idas do Rayan e do JP para o profissional... Era muito claro que naquele momento a gente não tinha força máxima no elenco para a Copinha. Tivemos outras prioridades no clube, que também acho interessantes para os garotos da base. Isso junta com o campo, pode soar como desculpa, mas atrapalhou muito, a bola não rolava. Nossa equipe era muito técnica e nesse último ano valorizamos o passe, o drible, a condução... E o campo não favoreceu.
- Tenho uma parcela de culpa, claro, eu deixo em um momento de acreditar naquilo que fizemos a temporada inteira. Abro mão de algumas coisas, mas não me arrependo, foi uma adaptação ao campo. Não acho que a Copinha diz o que foi nosso trabalho no clube. Tivemos mais títulos do que derrotas. Alguns dizem que foram títulos sem expressão. Mentira. O Vasco não conquistava Taça Guanabara e Carioca juntos há um bom tempo. Invicto e com recorde de pontos na Taça Guanabara. E dos cinco títulos dois foram em cima do Fluminense, um contra o Botafogo e um em cima do Flamengo. Tem que ser valorizado. A Copinha foi negativa, mas é um recorte muito pequeno e que não apaga o brilho.
Relação com Ramón e Emiliano Díaz
Após ser demitido, William Batista recebeu o carinho de Emiliano Díaz nas redes sociais: "Tamo junto Bruxo! Foi um prazer trabalhar contigo. Você é um craque", escreveu o filho e auxiliar de Ramón.
- Nossa relação ficou muito próxima. Eu sou um cara extrovertido, alegre, e o Ramón e o Emiliano são parecidos, então nos identificamos. Fomos muitas vezes no CT e em São Januário fazer coletivo contra o profissional. Muitas das coisas que o adversário ia fazer eles pediam para a gente executar e fazíamos bem, isso chamou atenção dos dois. Ali começou uma amizade, passei a ter muita admiração e respeito por eles, e foi recíproco. Mantenho contato com o Emiliano, falamos dos jogos recentes do profissional. Fiquei muito grato pela oportunidade que eles me deram no início do Carioca. Estou muito na torcida por eles.
Estrutura do CT da base
É responsabilidade da 777 Partners, dona da SAF do Vasco, reformar não só o CT Moacyr Barbosa, utilizado pelo elenco profissional, mas também o CT da base, em Duque de Caxias. A ampla reforma no local não aconteceu, mas foram feitas melhorias que o ex-treinador do sub-20 considera fundamentais.
- Cheguei em novembro de 2022, vi um grupo de jogadores com muito potencial, mas sem tanta disciplina, que não se dedicavam tanto, que não se gostavam tanto. Trabalhei para que eles se desenvolvessem. Um exemplo: eles usavam o colete de GPS em cima do uniforme de treino, tapando o escudo do Vasco, e mudamos isso. Começamos por esses pontos. Sobre o CT, os campos eram muito ruins quando cheguei, o CT estava largado, não tinha estrutura para tomar banho.
- Nos primeiros meses, a estrutura já começou a melhorar, vestiário melhor, a partir de abril os campos ficaram muito bons. Um trabalho do Brazil, do Húngaro e do Kadu para dar melhores condições aos jogadores. Hoje, os quatro campos do CT são muito bons, os ônibus também mudaram, a alimentação melhorou. A nível estrutural, conseguiram entregar coisas interessantes em um curto período. Até o anexo de São Januário era muito ruim e melhorou durante o ano para valorizar também as categorias menores. Muito orgulho dos jogadores, do quanto gostam hoje de ser time, de ser grupo, do orgulho que eles têm pelo Vasco.
Garotos com potencial
- O Leandrinho precisa evoluir, falei que não pode se empolgar com os elogios, mas acho que ele tem muito potencial, capacidade física e técnica, marca e ataca bem. O Estrella, ele passou muito tempo lesionado, mas não tira o brilho dele, impressionante a capacidade dele no dia a dia. Falei pra ele: "Um dia você vai jogar na Premier League e poder dizer que foi treinado por mim". E quanto eu saí ele brincou: "Um dia você estará na Premier League e vai poder dizer que me treinou".
- O Vitão também, é um zagueiro com bom jogo aéreo, defende muito bem, tem bom jogo ofensivo. O Paulinho tem um potencial enorme, um cara polivalente, falo para ele não se prender só na lateral direita, pode jogar de meia, de extremo, falo que ele parece muito com o Tche Tche. O Lucas Eduardo também, um garoto trabalhador, se esforça, chega a ser chato no dia a dia de tanto que ele pede para fazer as coisas. E o GB também, acho que vai bater no topo. Todo o potencial deles vai se manifestar de fato se eles estiverem cercados de pessoas boas, com a cabeça no lugar.
"Grato aos jogadores e à torcida"
- Eu tive a proposta para ser o auxiliar permanente do América-MG, clube que gosto muito, me deu a maior chance da minha vida. Acho que ainda vou voltar para o América em algum momento. Também rejeitei o Londrina. Eu acreditava muito na Copinha e na sequência do trabalho. Eu tinha uma palavra com os jogadores, falei: "Estou pronto para viver as alegrias e as tristezas nessa Copinha". Não tive a oportunidade de me despedir dos jogadores, mas quero dizer que sou muito grato por ter passado na vida deles, eles marcaram muito minha vida, espero que continuem lutando e alegres. Quero continuar influenciando as pessoas. Estou muito grato à torcida do Vasco, recebi muitas mensagens, alegria grande o vascaíno reconhecer. Falaram muito dos três pontos contra o Cuiabá – não me faz protagonista, mas ajudou o clube no fim do ano. Então sou muito grato. Aos profissionais também, o Carlos Brazil, Eduardo Húngaro, Kadu Borges e o Paulo Bracks. O Bracks já me conhecia do América-MG e me oportunizou também estar no Vasco. Só tenho a agradecer.
Fonte: ge