Criada em 2021 no Brasil, as Sociedades Anônimas de Futebol (SAF) foram adotadas por diversos times da Série A como modelo de gestão para "salvar" agremiações tradicionais de dívidas exorbitantes e dar um futuro distinto ao torcedor.
Dois anos depois, recheado de equipes que têm como base o modelo de gestão, o Campeonato Brasileiro deixou claro que, apesar de novas ideias, o que foi mostrado na prática deixam em evidência erros do passado associativo. E o ESPN.com.br detalha como foi a competição de cada uma das oito equipes que são SAF.
Bahia
Adquirido pelo Grupo City no final de 2022, o Bahia retornou à Série A com a expectativa de um time competitivo e que tivesse voos mais altos que nos anos anteriores. Com 25 contratações e investimento recorde - foram mais de R$ 90 milhões gastos -, no entanto, o que se viu foi quase um novo rebaixamento para a Série B.
No meio do ano, após terminar o primeiro turno em 16º, o Tricolor buscou uma correção de rota, trazendo nomes como Gilberto e Camilo Cándido para as laterais, Léo Cittadini para o meio e Rafael Ratão para o ataque. No banco de reservas, optou pela saída de Renato Paiva em setembro e trouxe Rogério Ceni. Entretanto, só conseguiu se manter na elite na última rodada, graças à goleada sobre o Atlético-MG e derrota do Santos para o Fortaleza, na Vila Belmiro.
Botafogo
Do céu ao inferno. Do primeiro turno histórico à derrocada no segundo. O Brasileirão do Botafogo foi do sonho ao pesadelo. Primeiro, a saída de Luís Castro, que rumou ao Al Nassr. Em seguida, chegada de Bruno Lage, que não teve casamento com elenco e torcida, sendo demitido três meses depois de assumir.
Mesmo líder, o Glorioso teve cinco treinadores em 2023, mais até do que em anos que foi rebaixado. Além dos dois portugueses, passaram pelo clube Cláudio Caçapa, que fez a transição entre os dois europeus, Lúcio Flávio e Tiago Nunes, que termina o ano e terá a missão da reconstrução na próxima temporada.
O maior erro do clube foi a falta de comando em momentos cruciais, seja dentro de campo, com o elenco batendo na mesa pedindo a efetivação de Lúcio Flávio, ou fora dele, com a falta de uma figura central que ligasse elenco e John Textor, dono da SAF, se mostra o grande desafio de um Botafogo que terá que renascer psicologicamente em 2024, ano que disputará a CONMEBOL Libertadores novamente.
Coritiba
Adquirido em julho deste ano ao vender 90% da SAF do clube para a Treecorp Investimentos, que tem Roberto Justus como sócio e conselheiro, por R$ 1,1 bilhão de reais, o Coritiba, que terminou o primeiro turno em 19º, viu um fio de esperança para um milagre no returno. No entanto, não houve tempo.
No segundo semestre, trouxe nomes internacionais como volante grego Samaris, e os atacantes Slimani e Jesé Rodríguez. Dos três, apenas o argelino ainda faz parte dos planos, enquanto os outros dois já tiveram dispensa comunicada.
Entre pré e pós SAF, o Coxa investiu R$ 36,9 milhões, contratando 29 jogadores. Entre treinadores, foram cinco. Começou o ano com António Oliveira, teve Leomir como interino, viu Antônio Carlos Zago durar pouco, apostou em Thiago Kosloski e irá terminar a temporada com Guto Ferreira, que comandará o time em 2024, na Série B.
Cruzeiro
Com a SAF comandada por Ronaldo Fenômeno desde o fim de 2021, o Cruzeiro viu o retorno à Série A ter mais sofrimento que o esperado. Com a política de contenção de gastos, a diretoria celeste não fez 'loucuras' no investimento do elenco, o que irritou o torcedor, que viu o clube brigar até a penúltima rodada contra o rebaixamento.
Após um início de Brasileirão empolgante, chegando a figurar entre os líderes, o clube mineiro terminou o primeiro turno na 12ª colocação, a seis pontos do Z-4, parte da tabela que lutou contra até o fim da competição.
Em um ano marcado por quatro treinadores (Paulo Pezzolano, Pepa, Zé Ricardo e Paulo Autuori), o Cruzeiro fez 26 contratações e teve um time no Brasileirão que sofreu poucos gols, mas possuía uma dificuldade enorme na parte criativa, tendo a 2ª melhor defesa e o pior ataque do certame.
Em 2024, terá o desafio de trazer um treinador que, respaldado pela diretoria com um investimento adequado, possa equilibrar o elenco, qualificando os setores.
Cuiabá
Primeira SAF do Brasil, o Cuiabá é comandado pela Família Dresch desde 2009. Pelo terceiro ano seguido na elite do Brasileirão, o Dourado pode ser considerado um exemplo de sucesso em 2023.
Com um elenco equilibrado, o clube do Centro-Oeste terminou o primeiro turno na 8ª colocação, com 28 pontos. Mesmo com a troca de treinadores antes do segundo semestre, com Ivo Vieira deixando o clube para o retorno de António Oliveira, o Cuiabá jamais flertou com o rebaixamento.
Sob a artilharia de Deyverson, o Dourado termina a competição na 12ª posição e irá disputar a CONMEBOL Sul-Americana em 2024.
Red Bull Bragantino
O Red Bull Bragantino não é propriamente uma SAF, mas sim um clube-empresa, sendo parceiro da empresa de energético desde 2019. Em 2023, assim como o Cuiabá, também pode ser considerado um sucesso.
Com 11 contratações na temporada, sendo 10 no primeiro e apenas uma no segundo semestre, o Massa Bruta seguiu com o projeto de trazer jovens jogadores. Com a chegada do técnico Pedro Caixinha, surpreendeu e chegou a brigar pelo título do Brasileirão até praticamente o fim da competição.
Com um futebol envolvente e ofensivo, o Bragantino garantiu vaga na Libertadores na 36ª rodada e irá disputar a competição pela segunda vez, ainda que precise se classificar na fase prévia antes de chegar à etapa dos grupos.
Vasco da Gama
Em setembro de 2022, o Vasco vendeu 70% de sua SAF para a 777 Partners. Assim como o Cruzeiro, o clube retornou à elite do Brasileirão sonhando em retomar o protagonismo de outrora. No entanto, viveu um pesadelo no primeiro turno, buscou uma reviravolta no segundo e só se salvou do rebaixamento na última rodada.
Mauricio Barbieri, contratado para tocar o projeto após boa passagem pelo Bragantino, não conseguiu colocar o Vasco nos trilhos. Com seis pontos em 11 rodadas, o Cruzmaltino optou pela saída do treinador e vivia estado de emergência, já que ocupava a lanterna.
Em julho, Ramón Díaz chegou ao comando do Gigante da Colina e, a partir das contratações do segundo semestre, com a chegada de nomes como Medel, Paulinho Paula e Vegetti, conseguiu a reviravolta e manteve o clube na Série A.
Em 2023, o clube gastou cerca de R$ 100 milhões no primeiro semestre e R$ 11 milhões no segundo. Para 2024, com a manutenção do treinador argentino, o desafio é reforçar ainda mais o plantel, de maneira mais certeira, para que o clube possa voltar a figurar entre as principais potências nacionais.
O ESPN.com.br não considerou América-MG, Atlético-MG e Fortaleza para a análise. Mesmo sendo SAF's, o trio não passou, até o momento, por mudanças estruturais no departamento de futebol.
Fonte: ESPN