Amazon deve anunciar novidades sobre o filme que conta a história dos Camisas Negras
Enquanto busca uma virada cinematográfica em sua campanha de início complicado no Campeonato Brasileiro, o Vasco da Gama vive uma forte expectativa fora de campo por conta de uma parceria firmada em 2022 com o Amazon Studios. A empresa norte-americana produzirá um filme sobre o mais belo capítulo dos 125 anos de história do Cruz-maltino: a Resposta Histórica e a luta antirracista do elenco conhecido como os Camisas Negras.
Anunciado há mais de um ano, o projeto desperta forte curiosidade dentre torcedores do clube e entusiastas do futebol. No entanto, após rumores de que haveria um conflito interno entre membros da diretoria por conta da venda da SAF, pouco foi falado sobre o filme. Até o momento, as únicas confirmações eram a de que Lázaro Ramos seria o diretor e que a estreia estava prevista para o aniversário dos 100 anos da Resposta Histórica, em abril de 2024.
Por conta da falta de novas informações, alguns fãs especularam que o filme pudesse ter sido engavetado pela produtora. Porém, o CinePOP apurou que o longa ainda vai acontecer, mas não deve ficar pronto a tempo da comemoração do centenário da Resposta Histórica. O roteiro ainda está sendo trabalhado, pois será uma ficção inspirada nos eventos reais. E o cronograma oficial da produção do filme será divulgado até o fim do ano. Ou seja, é bem provável que não haja tempo hábil de finalizar a produção até abril de 2024. Confirmamos também que Lázaro segue completamente envolvido no projeto.
A história do filme será inspirada no time dos Camisas Negras, que conquistou o primeiro campeonato carioca da história do Vasco da Gama, em 1923. Na época, o futebol ainda era um esporte considerado de elite. Então, a campanha avassaladora do clube da Zona Norte do Rio de Janeiro, que venceu 11 jogos, empatou dois e perdeu apenas um no torneio, tendo jogadores negros, pobres, analfabetos e operários no elenco, vencendo os principais elencos da competição, compostos por jogadores brancos e ricos, mexeu com as estruturas da Liga. Temendo passar novo vexame no ano seguinte, Fluminense, Flamengo e Botafogo, apoiados por Bangu e São Cristóvão, formaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos, a AMEA, para organizar o Campeonato Carioca de 1924.
Para a inscrição no campeonato, a AMEA alegou que o escrete vascaíno contava com atletas de profissão duvidosa ou sem empregos. Por isso, solicitaram a exclusão de 12 atletas do elenco dos Camisas Negras, dos quais eram todos negros ou vindos de camadas populares. Em uma ação inédita na história do futebol, a diretoria do Vasco emitiu um documento se negando a excluir os atletas e afirmando que preferia abrir mão de disputar o torneio se fosse nessas condições. O documento foi imortalizado como a Resposta Histórica, conhecido como um marco na luta antirracista no futebol.
Sem participar do campeonato da AMEA, o Vasco disputou o Campeonato Carioca da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres, que não contava com os times de prestígio da época, mas contou com amplo apoio popular por conta de presença Cruz-maltina, que venceu a competição de forma invicta e levando públicos expressivos para os jogos. Em 1925, a AMEA viu que não poderia fazer um campeonato sem o fenômeno popular do Vasco e aceitou a inscrição do time com todos seus atletas negros e operários.
Para o roteiro do filme, estão participando funcionários do Centro de Memória do Vasco e historiadores esportivos para garantir a fidelidade aos casos reais. Curiosamente, em 2023, 100 anos após o início da luta antirracista do time, o Vasco foi vítima de outro decisão elitista, mas dessa vez por conta do poder público. Após o estádio de São Januário ser fechado pela Justiça Desportiva por uma confusão da torcida após derrota para o Goiás, um juiz de plantão do Ministério Público do Rio de Janeiro atribuiu o fechamento do estádio a sua localização, dentro da comunidade Barreira do Vasco, na Zona Norte da cidade.
"Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem área de escape, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio", afirmou o juiz.
As palavras causaram revolta por parte dos moradores da comunidade e outros membros da política brasileira, que afirmaram tratar-se de um julgamento baseado em preconceito. Afinal, o argumento usado por ele para manter o fechamento era que o estádio estava próximo a uma comunidade onde havia tiroteios. Porém, o entorno do estádio do Maracanã, que jamais foi fechado pelo MP-RJ, registrou o mesmo número de tiroteios em 2023 que o de São Januário. Após três meses e muita luta nos bastidores, São Januário foi reaberto. O acontecimento serviu para mostrar que a luta iniciada há um século pelos Camisas Negras segue mais importante do que nunca, o que pode influenciar na ideia do filme de contar uma história secular, mas que dialogue com as gerações atuais.
Fonte: CinePOP