Exposição sobre os Camisas Negras ficará em São Januário até o dia 20/08; veja como foi a inauguração neste sábado
O Vasco da Gama inaugurou a Exposição Centenário dos Camisas Negras exatamente 100 anos depois da conquista do título estadual que mudou a história do futebol brasileiro. A cerimônia foi na manhã deste sábado, 12, na sede de São Januário, para familiares dos jogadores e dos dirigentes do clube do início do século passado e autoridades. O público poderá visitar essa exposição até o dia 20 de agosto, dentro do roteiro do Tour da Colina.
Na cerimônia de abertura estiveram presentes o Presidente, Jorge Salgado; o 1º Vice- Presidente Geral Carlos Osorio; o Vice-Presidente de História e Responsabilidade Social, Horacio Lopes; Presidente do Conselho de Beneméritos, Antonio Peralta, o 2º Vice-presidente Geral, Roberto Duque Estrada, e o CEO da SAF, Lúcio Barbosa, além dos familiares dos Camisas Negras e dos presidentes da época, Antônio da Silva Campos (1923) e José Augusto Prestes (1924).
"Essa exposição é uma singela forma de contar um capítulo do clube com a história mais bonita do futebol. O primeiro título de campeão do futebol da primeira divisão da então capital federal tem uma importância que transcende o âmbito esportivo. Toda a reação que ‘o novo clube da praça' causou, ao ponto dos clubes da elite da Zona Sul e da Tijuca abandonarem a entidade organizadora do campeonato de 1923, a Liga Metropolitana, e fundarem uma nova, a AMEA com regras racistas e com muito preconceito social, mostram uma terrível face da sociedade que ainda é uma chaga aberta até hoje, infelizmente", relembra Jorge Salgado, Presidente do Vasco.
Os Camisas Negras foram o primeiro time de futebol do Vasco a conquistar um título Carioca (1923). Nas décadas de 1910 e 1920, o futebol era dominado pela burguesia e elite carioca, contendo apenas atletas brancos em seus times. De diversas maneiras, tentaram impedir que o Vasco jogasse com negros e operários. Após a vitória do torneio de 1923, as tentativas de escantear o Vasco ficaram ainda mais evidentes a ponto de exigirem a dispensa desses atletas como condição para que o clube fosse aceito na AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos), que o garantiria na elite do futebol carioca. Em abril de 1924, em uma carta aberta o então presidente José Augusto Prestes, redigiu a ‘Resposta Histórica', não abrindo mão de seus atletas, o que é um fato de dimensão nacional de combate ao preconceito.
Um dos pontos altos do evento foi a entrega da Medalha Pai Santana, honraria a causas sociais e personalidades que se destacaram na luta contra o racismo, para os familiares dos jogadores: Adão Brandão, Moacyr de Siqueira Queiroz (Russinho), Albanito Nascimento (Leitão), Domingos Vicente Passini Filho (Mingote), Claudio Destri e Nicomendes Conceição (Torterolli) e dos dos ex-presidentes: Antônio da Silva Campos (1923) e José Augusto Prestes (1924). Os descendentes também receberam réplicas fiéis da camisa usada em 1923.
Outro momento emblemático da manhã deste sábado foi o Manifesto do Vasco por ocasião do Centenário do Camisas Negras.
Leia aqui a mensagem na íntegra.
"Estamos muito felizes em receber os descendentes dos jogadores que fizeram parte dessa linda história, e graças à colaboração deles, nesta exposição, temos imagens inéditas, uma biografia mais apurada sobre os jogadores e um vínculo eterno dessas famílias com o clube que seus antepassados defenderam com enorme galhardia", comenta Horacio Junior, Vice-Presidente de História e Responsabilidade Social do Vasco, quem está à frente dessa iniciativa de retomada da história do clube.
Nada disso poderia ter sido feito sem a presença de um profissional da área. Walmer Peres, historiador do Vasco da Gama, é um profundo conhecedor da importância dos Camisas Negras para a história da sociedade no cenário nacional e traça um paralelo sobre como é possível relacionar os dias atuais com esse momento tão emblemático de 100 anos atrás.
"Devemos aproveitar esse momento de comemoração para refletir sobre o racismo, mas também outras formas de preconceitos, como homofobia, a transfobia, que são vivenciadas no ambiente da prática esportiva como nos estádios de futebol. O combate ao preconceito deve ser diário, constante. E o Vasco, na condição de um agente dentro da sociedade brasileira na luta contra os preconceitos, deve aproveitar esses momentos para refletir sobre a situação atual da sociedade e reafirmar o seu compromisso no combate às desigualdades e as formas de preconceito existentes na sociedade brasileira. O passado deve ser relembrado, deve ser homenageado, os feitos históricos devem ser homenageados, mas é preciso se inspirar na história. Um passado para agir no presente e projetar e organizar o seu futuro", avalia Walmer.
O restante da programação da manhã de inauguração da Exposição Centenário dos Camisas Negras contou com a exposição de quadros com informações sobre a campanha histórica de 1923, seus heróis e fotos restauradas da época; exposição de réplicas históricas do uniforme completo do goleiro e do jogador de linha dos Camisas Negras; inauguração da placa comemorativa ao Centenário dos Camisas Negras na entrada da social; e exibição do documentário ‘Camisas Negras – Uma jornada histórica', feito pelo Ciclo de Oficinas (projeto social do Vasco).
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SERVIÇO
Exposição Centenário Camisas Negras
Quando: de 12/08 (a partir das 14h) até 20/08
Dias e horários: terça-feira a sábado (das 10h às 16h) | domingo e feriados (das 10h às 12h)
Onde: Espaço Experiência, uma das atrações do Tour da Colina, em São Januário
Endereço: Avenida Roberto Dinamite, 10 – Vasco da Gama/RJ
Ingresso: R$70 (inteira) | *confira as condições de gratuidade e meia-entrada no site: www.vasco.com.br/conteudo/tour-da-colina-espaco-experiencia
Mais informações: 21 92020-9363 (Whatsapp)
Fonte: Site oficial do Vasco
Vasco comemora centenário dos Camisas Negras com evento em São Januário
Em homenagem ao centenário dos Camisas Negras, comemorado neste sábado, o Vasco está realizando uma programação especial em São Januário para celebrar os 100 anos do primeiro título carioca. O evento conta com exposição de quadros com informações sobre a campanha, fotos restauradas da época, exibição de documentário e muitas homenagens. Familiares dos Camisas Negras estão presentes e vão receber as réplicas das camisas produzidas pelo clube.
O evento também foi utilizado para falar sobre a interdição de São Januário pela Justiça. "O Vasco e a Barreira do Vasco são uma casa só".
Familiares de Leitão, Torterolli, Mingote, Adão, Cláudio Destri e Russinho - jogadores que fizeram parte do histórico time - foram homenageados pelo Vasco. Dirigentes daquele momento, inclusive o presidente que firmou a Resposta Histórica, José Augusto Prestes, também foram representados por familiares.
Familiares dos Camisas Negras entoaram o grito de "Payet no Vasco". O clube tem negociação avançada com o meia francês.
O evento contou ainda com a entrega da Medalha Pai Santana (honraria para causas sociais) para familiares dos Camisas Negras e personalidades que se destacaram na luta contra o racismo. Foi inaugurada uma placa comemorativa pelo Centenário dos Camisas Negras na entrada da social.
Marcio Ferreira da Costa é um dos familiares presentes no evento. Ele é neto de Russinho, com quem morou junto de 1953 a 1992, ano da morte do ex-atacante.
- O que me marcou no vovô é que ele foi um vencedor, ele dizia que no dicionário dele só tinha a palavra sorte. E tudo que ele queria acontecia - contou Marcio.
O neto ainda lembrou de um episódio em que o jogador perdeu um pênalti de propósito por não concordar com a marcação. A honestidade era outro ponto forte de Russinho, que pouco depois dessa partida deixou o clube. Ele chegou ao Vasco em 1924 para o lugar de Arlindo e teve sua exclusão solicitada pela AMEA em movimento que resultou na famosa Resposta Histórica.
Russinho terá sua história contada pelo historiador Bruno Pagano no livro "Russinho: o inigualável êxtase do gol", que será lançado em São Januário no dia 25 de agosto.
O presidente da associação, Jorge Salgado, falou sobre a importância de valorizar a história do Vasco de luta contra o preconceito. O evento contou com a participação de dirigentes do clube e da SAF e de autoridades do Rio de Janeiro. Carlos Roberto Osório leu um manifesto na abertura do evento:
- São lutas que ecoam ao longo das décadas. Celebramos com reverência o centenário da conquista dos lendários Camisas Negras, que trouxeram impacto para todo o Brasil e o futebol mundial. O Vasco mostrou que a paixão pelo futebol não tinha cor, classe ou alfabetização - destacou o 1° vice-presidente geral do clube.
Osório também falou sobre São Januário, destacando que "mais uma vez querem excluir o clube". E afirmou que o Maracanã é um patrimônio público do Rio de Janeiro e que o Vasco merece ter acesso ao equipamento.
- Como nos tempos dos Camsias Negras o Vasco continua a exaltar valores. A história do Vasco não é só sobre futebol, mas sobre defender o que é certo, promover igualdade. Os Camisas Negras são eternos, assim como os valores que representam - completou .
CEO da SAF, Lúcio Barbosa também falou brevemente sobre a história do clube.
- Cada um recebe a cruz que consegue carregar, e o Vasco carregou muitas - Lúcio Barbosa.
Há 100 anos, a equipe do Vasco, formada por negros e pobres em sua maioria, fez história dentro de campo com uma campanha espetacular: 11 vitórias, dois empates e apenas uma derrota.
Além do título, o Vasco marcou o nome na história com a luta para incluir negros e operários em um esporte até então elitista.
O documentário 'Camisas Negras - Uma jornada histórica', feito pelo Ciclo de Oficinas (Projeto Social do CRVG com aulas de Dança, Música, Teatro e Produção Audiovisual) também será exibido.
O Vasco também preparou um ensaio em São Januário com jogadores da base vestindo os uniformes. Participaram o goleiro Phillipe Gabriel, o zagueiro Lyncon e o meia Lucas Eduardo. Na foto acima, Lyncon segura o quadro da "Resposta Histórica", redigida em 1924 para informar da desistência de fazer parte da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), que só aceitaria a inscrição do Vasco caso o clube excluísse 12 de seus jogadores, em sua maioria negros e pobres.
Fonte: ge