Considerada a maior jogadora de futebol de todos os tempos, Marta se prepara para disputar sua última Copa do Mundo, a partir do dia 20, com a seleção brasileira. A camisa 10, que já foi eleita a melhor do planeta em seis oportunidades, busca aos 37 anos de idade uma conquista inédita para a equipe na reta final de sua carreira, que começou há mais de duas décadas.
Do sertão de Alagoas para o mundo: conheça a história da jogadora Marta
Do interior de Alagoas ao Vasco
Marta Vieira da Silva nasceu na cidade de Dois Riachos, no estado de Alagoas, em 19 de fevereiro de 1986. Foi criada pela mãe, Tereza da Silva, junto aos três irmãos, Ângela, José e Valdir - o pai deixou a família quando Marta ainda era um bebê. A infância humilde no interior alagoano foi marcada pelo desejo de jogar futebol.
Apesar da resistência do irmão José, Marta sempre se colocava entre os meninos na disputa pela bola. Pulava o muro da escola e fugia para o campinho, onde atuava descalça, sem temer as divididas. A brincadeira de criança começou a ganhar ares de uma maneira de mudar de vida quando teve contato com uma escolinha de futsal comandada por Seu Tota, seu primeiro treinador.
Tota colocava Marta para treinar junto aos meninos, cenário em que ela mostrava seu talento diferenciado, a ponto de tentar disputar um torneio na cidade vizinha, Santana de Ipanema. Porém, acabou proibida de jogar por uma mudança de regulamento, que passou a permitir apenas a participação de meninos na competição.
Após conciliar treinamentos com pequenos bicos para ajudar a família, vendendo sacolé (geladinho) e carregando compras em uma feira, Marta viu no horizonte sua grande chance. Mas muito longe de Dois Riachos - a aproximadamente 2 mil quilômetros de distância.
Em 2000, aos 14 anos, Marta decidiu entrar em um ônibus rumo ao Rio de Janeiro para fazer um teste no Vasco, que buscava talentos para sua equipe feminina. Buscou ajuda com amigos, que fizeram uma vaquinha para a alimentação da jovem no longo trajeto. E chegou à Cidade Maravilhosa.
Primeira vez como Melhor do Mundo
No Vasco, conheceu a técnica Helena Pacheco, que seria sua mentora no clube e fora dele. O período no Rio durou até 2003, quando o time feminino profissional do Vasco foi encerrado. Helena Pacheco, porém, buscou novas equipes para a talentosa jovem e conseguiu uma chance no Santa Cruz, de Minas Gerais. Foi a camisa do clube mineiro que ela jogou sua primeira Copa do Mundo feminina, ainda em 2003, quando marcou três gols em quatro jogos.
Já tendo o futebol como profissão e grande esperança para a vida, Marta recebeu aos 18 anos outra grande chance: jogar na Europa, onde o futebol feminino já tinha maior destaque e estrutura. Aceitou uma oferta do Umea IK, da Suécia, onde chegou em 2004 - e permaneceria por cinco anos, fazendo do país uma nova casa.
Naquele ano, Marta também deu o primeiro passo para sedimentar o caminho que a transformaria na Rainha do Futebol. A camisa 10 explodiu para o mundo usando as cores da seleção brasileira nas Olimpíadas de Atenas, em 2004 - um marco para o futebol feminino no Brasil, ainda com estrutura precária. Ali, ela já começava a se transformar em ídolo para o povo brasileiro. Dois anos depois, graças ao brilho nos gramados suecos, Marta chegou ao topo do mundo: foi eleita pela primeira vez a melhor jogadora do planeta.
O Pan de 2007 e a idolatria na seleção brasileira
Em 2007, se consolidou como referência do esporte no Brasil no histórico Pan-Americano do Rio de Janeiro. A seleção brasileira goleou os Estados Unidos e conquistou a medalha de ouro em um Maracanã lotado - embalando rumo à Copa do Mundo, no mesmo ano. No Mundial, viria mais uma campanha histórica, com Marta levando o Brasil à final, com uma derrota dolorosa para a Alemanha, em jogo em que a craque perdeu um pênalti. Ainda assim, Marta foi eleita de novo a melhor jogadora de futebol do mundo, muito por conta dos sete gols marcados nos seis jogos em seu segundo Mundial.
Em 2008, outra Olimpíada, em Pequim. E outro vice-campeonato doloroso, com derrota para os Estados Unidos na prorrogação da grande decisão. Veio a medalha de prata e mais um prêmio de melhor do planeta - o terceiro consecutivo.
Clubes na Suécia, Estados Unidos e Brasil
Após cinco anos no futebol sueco, Marta teve uma rápida passagem em 2009 pelo Los Angeles Sol, dos Estados Unidos, onde foi artilheira da liga nacional, em uma campanha em que seu time foi vice-campeão. Depois, retornou ao Brasil, com a camisa do Santos, por empréstimo, conquistando a Libertadores e a Copa do Brasil. Resultado: mais dois prêmios de melhor jogadora do mundo, chegando a cinco consecutivos, um feito jamais alcançado no futebol.
Com o encerramento do Los Angeles Sol, em 2010, Marta rumou para o FC Gold Price, onde conquistou o título da liga dos Estados Unidos, de novo como artilheira. Após nova passagem relâmpago pelo Santos, rumou para o Western New York, também nos EUA, em 2011, ano de mais uma Copa do Mundo. O desempenho daquela vez, porém, foi menos chamativo - o Brasil caiu nas oitavas de final, de novo diante dos Estados Unidos, nos pênaltis, embora Marta tenha marcado mais quatro gols em quatro partidas.
A chance de fazer a seleção brasileira feminina brilhar de novo veio no ano seguinte, nas Olimpíadas de Londres. Mas veio mais uma eliminação nas oitavas de final, em derrota para o Japão. Marta decidiu retornar à Suécia, agora com a camisa do Tyreso. Levou sua equipe ao título logo no primeiro ano e conquistou um vice-campeonato na segunda temporada. O clube, porém, encerrou as atividades, e a Rainha rumou para o FC Rosengard, também na Suécia.
Olimpíada no Rio e últimas Copas do Mundo
Em 2015, veio mais uma Copa do Mundo, a quarta da Rainha - que de novo foi marcada por uma queda precoce, nas oitavas de final, diante da Austrália. Marta marcou um gol na campanha. O ano seguinte, porém, traria uma esperança de redenção com as Olimpíadas do Rio de Janeiro. A tentativa era repetir o feito do Pan, quase 10 anos antes, mas uma queda nas semifinais, de novo nos pênaltis, diante da Suécia, impediu a chance de chegar à final. A medalha de bronze ainda escapou na disputa com o Canadá.
No ano seguinte, Marta decidiu deixar a Suécia e voltar ao futebol dos Estados Unidos, agora com a camisa do Orlando Pride, franquia da cidade da Flórida que já foi comandada pelo empresário brasileiro Flávio Augusto da Silva. E em 2018 voltou a ser eleita a melhor jogadora do mundo depois de oito anos, chegando a seis troféus. Ela é a maior vencedora da história do prêmio até hoje.
Em 2019, disputou sua quinta Copa do Mundo e chegou a um recorde histórico. Com os dois gols marcados, Marta se tornou a maior artilheira da história dos Mundiais, com 17 gols em 20 partidas. O Brasil, porém, não conseguiu ir longe, caindo diante da anfitriã França novamente nas oitavas de final, que se tornaram um trauma recente para a Seleção feminina, que caiu na mesma fase nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021.
A última chance de Marta em uma Copa do Mundo virá nos próximos dias, podendo ser a grande joia de um currículo de puro brilho.
A carreira de Marta:
Seis prêmios de melhor jogadora do mundo (maior vencedora)
Maior artilheira da história das Copas do Mundo (17 gols)
Maior artilheira da história da seleção brasileira (122 gols)
Duas medalhas de prata nas Olimpíadas (2004 e 2008)
Duas medalhas de Ouro nos Jogos Pan-Americanos (2003 e 2007)
Cinco Copas do Mundo disputadas (2003, 2007, 2011, 2015 e 2019)
Cinco Olimpíadas disputadas (2004, 2008, 2012, 2016 e 2021)
2 títulos continentais (Libertadores 2009 e Liga dos Campeões 2003/04)
7 títulos de ligas nacionais (5 na Suécia e 2 nos Estados Unidos)
Qual é o salário de Marta?
De acordo com o jornal "Marca", Marta recebe cerca de US$ 400 mil (R$ 1,95 milhão) por ano e tem fortuna estipulada em US$ 13 milhões (R$ 63,4 milhões), o que faria dela a jogadora mais rica da Copa do Mundo Feminina de 2023. O ranking do jornal espanhol traz Marta à frente de Wendie Renard, Amandine Henry, Alex Morgan e Megan Rapinoe. As duas últimas, porém, teriam salário atual maior que o de Marta, na casa dos US$ 450 mil (R$ 2,19 milhões).
Fonte: ge