Douglas Luiz foi eleito o jogador da temporada do Aston Villa pelos torcedores do clube britânico. Não é para menos: em 39 jogos, o meio-campista revelado pelo Vasco da Gama contribuiu com seis gols e seis assistências e ajudou a equipe de Birmingham a terminar na sétima colocação e, com isso, se classificar à Conference League — em seu retorno a uma competição da Uefa após 13 anos. Foi uma jornada e tanto para quem, por pouco, não deixou a equipe rumo ao Arsenal.
"O Villa é um grande clube, a decisão que eu tomei foi correta, fiz uma grande temporada. A chegada do Unai [Emery, treinador] ajudou bastante na minha evolução. Foi a minha melhor temporada e estou muito feliz com isso", contou o jogador, em entrevista exclusiva à PLACAR TV, direto de sua casa em Birmingham. (Esta e outras entrevistas com estrelas brasileiras da Premier League serão destaque na ediçao de julho da revista)
Douglas foi campeão olímpico em Tóquio e participou de boa parte do ciclo da seleção brasileira para a Copa do Mundo do Catar, mas acabou preterido pelo técnico Tite na lista final. Ele acredita que a fase no Aston Villa o credencia a sonhar com um retorno à equipe canarinho.
"Com certeza voltar para a seleção é o maior maior objetivo. Sei que seleção é momento, a fase e forma física do jogador, então minha meta é essa, começar a temporada bem, fazer uma pré-temporada boa e manter meu nível. Vivo meu melhor momento profissional, estou na melhor liga do mundo, e meu objetivo, não só para agora, mas para a vida toda, é seguir neste nível."
Douglas Luiz garante não ter ficado magoado com o técnico Tite, que acabou levando em seu lugar Bruno Guimarães, que se destacava pelo Newcastle. "Eu tiro pelo lado positivo. Com certeza fiquei triste, porque participei das Eliminatórias, da Copa América, Olimpíadas, então estive no ciclo que meu deu esperança. Mas no mesmo momento, pensei que se não foi é porque não era para ter sido e continuei trabalhando e torcendo pelos amigos", diz.
"Jamais, não tenho mágoa alguma, tenho muito que agradecer ao Tite. Foi o técnico que me deu oportunidade, sempre foi muito direto. Na verdade, ele não me explicou [porque não o convocou], mas pode ter sido meu momento no Aston Villa, alguma partida na seleção. Fiquei um pouco na dúvida sobre isso, mas mágoa não tenho nenhuma."
Assim como Willian, do Fulham, e Jorginho, do Arsenal, Douglas Luiz rasgou elogios ao nível da Premier League. "Joguei no Girona [da Espanha], onde aprendi muito, mas o nível da Premier é muito alto, toda semana é jogo difícil. O jogo mais difícil de jogar é contra o City, é difícil manter a bola, para jogadores como eu é terrível, eu odeio jogar contra eles", brincou.
Douglas, que no dia da visita de PLACAR jogou "futmesa" com amigos e familiares, contou que o compatriota Philippe Coutinho e o goleiro argentino Emiliano Martínez costumam frequentar sua casa. Ele contou ter torcida pela Argentina na final contra a França para apoiar o amigo. "Torci. Na verdade, eram duas seleções que eu queria que não estivessem, mas é melhor que o amigo ganhe, né. Ele [Martínez] tem o personagem dele dentro de campo, provocador, mas fora é mais tranquilo, é super gente boa."
O jogador, que marcou dois gols olímpicos na temporada, brincou que este tipo de lance dificilmente se repetirá. "O segredo é treino e pegar o goleiro desprevenido, agora infelizmente não dá mais, eles estão espertos, põe zagueiro dentro do gol… mas futebol é isso, tentar surpreender, enquanto eles não sabiam, eu fui lá e fiz. Os dois que eu fiz, na semana anterior eu já vinha treinando. Fiz no Martinez, ele até falou que deixou pra dar confiança", divertiu-se.
Douglas Luiz também se destacou em cobranças de falta diretas, como no gol marcado diante do Arsenal, mas disse que não vinha praticando tanto quanto em outros tempos. "Eu sempre bati bem na bola, então isso é treinamento, repetições, confiança de que a bola vai passar na barreira. Mas para falar a verdade, nestes últimos meses eu nem estava treinando, estava um pouco desanimado porque o Aston Villa não sofre muitas faltas da entrada da área."
Ele, no entanto, negou a tese de que atletas sejam proibidos de treinar faltas pelos fisiologistas do clube. "A gente tem que conhecer nosso corpo e saber o dia de treinar, tem uma planilha e dias mais leves e melhores para treinar bola parada. O DM previne lesões, realmente tem um acompanhamento, sabemos quando estamos bem. Mas ninguém vai proibir, o jogador sabe quando pode bater dez ou cinco faltas."
O jogador, inclusive, relembrou uma polêmica de sua carreira, quando bateu boca com outro famoso batedor de faltas, o ex-jogador e hoje apresentador Neto, da TV Bandeirantes, há dois anos. Douglas diz que o episódio é página virada. "Conheço o Neto de televisão há muito tempo, sei que ele é um cara polêmico. E teve um dia que ele citou meu nome, eu não gostei da forma como ele falou, sou profissional, as pessoas devem respeitar. Ali me deu a liberdade de responder, mas não é nada pessoal, já passou.
Cria do Vasco, Douglas se disse feliz em ver novamente o clube na Série A, mas demonstrou receio sobre a pressão sobre os vários jovens do elenco. "Quem é vascaíno tem sempre esperança, mesmo no pior momento, a gente sempre acha que vai mudar, às vezes não muda, e a gente continua acreditando (risos). Graças a Deus o Vasco voltou a elite, é um clube gigante que não deveria nunca sair dali. A torcida não está feliz neste momento, mas a gente acredita que o Vasco vá voltar a brigar com os grandes."
"Hoje o elenco do Vasco tem muitos jovens e isso pode ser bom, para a adaptação, mas pode também prejudicar [o atleta]. O time tem de estar bem quando o garoto sobe, o elenco tem que estar junto. Com 18, 19 anos não é facil lidar com essa situação", complementou.
No papo, Douglas ainda listou seus ídolos e referências na posição, revelou papo com Cristiano Ronaldo e muito mais. Na próxima semana, o canal exibirá a última entrevista da série com estrelas da Premier League (inscreva-se aqui).