Balanço do Vasco detalha dívidas assumidas pela 777; valor chega a R$ 720 milhões
Quarta-feira, 03/05/2023 - 01:04
A 777 Partners, que controla a SAF do Vasco, assumiu uma dívida na casa dos R$ 720 milhões para fechar o acordo com o cruz-maltino, que vivia um 2022 de asfixia financeira, com custos — mesmo reduzidos — ultrapassando e muito as receitas. As informações foram detalhadas nesta segunda-feira, em balanço financeiro divulgado pela associação, agora dissociada do futebol.

O documento, relativo ao exercício de 2022, é o último em que questões financeiras do futebol se dividem entre a SAF e a associação. Para tal, as duas partes concordaram em usar a data de 30 de junho como referência para a separação dos ativos e passivos.

O balanço revela uma dívida que chegou a R$ 720 milhões em junho de 2022. A títulos de contabilidade, o valor ainda foi acrescido dos R$ 70 milhões emprestados pela 777 Partners ao cruz-maltino antes da conclusão do negócio, que naturalmente não foram cobrados, abatidos na cessão das ações do futebol cruz-maltino. A dívida se dividia em:

R$ 375 milhões em dívidas cíveis e trabalhistas
R$ 226 milhões e dívidas tributárias
R$ 189 em dívidas bancárias (empréstimos), já incluindo os R$ 70 milhões da 777 Partners.

A dívida foi integralmente assumida pelos novos gestores da SAF, com valor de crédito acordado para a associação abater futuras dívidas.

Como a SAF pagará as dívidas do Vasco?

O Vasco tem dois acordos costurados desde antes da cessão do futebol à 777 Partners. Para as dívidas cíveis e trabalhistas, o Regime Centralizado de Execuções (RCE), acertado em setembro de 2021, faz com que o clube deposite 20% das suas receitas mensais em contas judiciais que fazem o pagamento organizado em uma fila a seus credores (aqueles a quem o clube deve). Segundo informações do balanço, o prazo para o pagamento da maioria dessas dívidas incluídas no RCE é de seis a dez anos.

Já na esfera tributária, o clube tem acordo com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) desde novembro de 2021, que renegociou e abateu dívidas fiscais e de impostos. O balanço fala em prazo de pagamento para essas dívidas superior a dez anos.

A SAF segue fazendo os pagamentos normalmente. Questões específicas e valores serão conhecidos assim que a a 777 Partners divulgar seus balanços e documentações financeiras sobre o clube.

Quedas abruptas de receita

O balanço do clube mostra quedas abruptas da receitas entre junho de 2021 e junho de 2022, anos em que a equipe disputou a Série B por duas temporadas consecutivas. O clube registrou quedas em sócios, marketing, direitos de TV, premiação, transferências de atletas e licenciamento.

Os aumentos vieram no mecanismo de solidariedade da Fifa e em bilheteria — turbinada pela volta do público após a pandemia da Covid-19. Mas não seguraram os gastos de 26 milhões de reais na folha salarial e 25 milhões nos custos do futebol, mais os 14 milhões de folha administrativa e os 12 milhões de custos administrativos dos esportes olímpicos. Combinados ao aumento da taxa SELIC, que turbinou a taxa de juros e fez custos e dívidas crescerem, o Vasco fechou o primeiro semestre, em resultado líquido, com menos R$ 57 milhões.

Situação financeira atual do Vasco

A cessão do futebol à 777 Partners mantendo patrimônios como São Januário e as sedes do Calabouço (no Centro do Rio) e da Lagoa aliviou uma asfixiante situação financeira vivida pela associação, que agora vive apresenta ativo circulante superior ao passivo circulante. Em termos práticos, uma saúde financeira positiva e estável. O fluxo de caixa, grande problema para o clube ao longo dos últimos anos para manter-se operante e negociar dívidas, foi de R$ 500 mil no fim de 2022 com previsão de chegar a R$ 2 milhões em 2023. As dívidas inerentes à associação recaem no valor de R$ 25 milhões, com prazos mais longos de pagamento.

O clube reporta ainda um patrimônio líquido de R$ 119 milhões, com previsão de crescimento em até R$ 300 milhões, gradativos, ao longo dos próximos anos. A previsão é baseada na avaliação em R$ 1 bilhão do negócio com SAF, seus futuros lucros e na manutenção de 30% das ações do futebol.

A partir da cessão do futebol à SAF, o clube, hoje presidido por Jorge Salgado, ficou responsável por questões estatutárias, de patrimônio e de esportes olímpicos — como o tradicional remo e o basquete, que retornará —, além de se posicionar como uma parte de aconselhamento e trabalho em parceria com a 777 Partners.

"Financeiramente, o CRVG sai de uma situação muito difícil para uma realidade imediata de sobra de caixa e pagamentos em dia das suas obrigações e possui ainda forte perspectiva de ainda melhorar substancialmente esse já favorável panorama com o eventual lançamento de debêntures pela SAF e futuras distribuição de dividendos por essa empresa", diz trecho do balanço.



Fonte: O Globo