Dos 14 reforços contratados no ano, dá para dizer que Léo é uma das poucas unanimidades entre os torcedores. O zagueiro de 27 anos de fato é um dos destaques neste início de temporada e começou bem sua trajetória no clube.
Com a saída de Nenê, Léo passará a ser o capitão número um. Ele já vem vestindo a braçadeira desde o início do ano, mas costumava entregá-la sempre que Nenê entrava em campo. Muito querido e respeitado no clube, Léo conquistou esse direito em apenas três meses de Vasco com um perfil de liderança e humildade.
Um exemplo disso se deu na semana passada.
Na figura do capitão, Léo se reuniu com o diretor-esportivo Paulo Bracks e pediu que a divisão das premiações conquistadas pela equipe ao longo da temporada contemplasse, também, todos os funcionários do CT Moacyr Barbosa. O pedido, consentido por outros líderes do elenco, foi atendido.
Com a chegada da 777 Partners, os funcionários do Vasco pela primeira vez em muito tempo começaram a receber seus salários em dia e tiveram regularizados pagamentos como FGTS, 13º e férias. Passaram, por exemplo, a ter plano de saúde e no fim do ano receberam cartão-presente, entre outros benefícios. Mas inicialmente eles não entrariam no rateio das premiações.
Léo argumentou com a diretoria que seria importante incluí-los na divisão, que um clima leve dentro do clube pode muito bem refletir no rendimento em campo e que, como capitão, é sua responsabilidade prezar pelo bem-estar de todos no Vasco. Disse, também, que ele e os jogadores aceitariam receber menos em prol da coletividade.
A diretoria aceitou a solicitação e modificou os termos do rateio. Dessa forma, os funcionários do CT receberão uma parte do prêmio pela classificação para a segunda fase da Copa do Brasil e também serão contemplados em eventuais premiações por metas alcançadas no Brasileirão.
"Quer ver todo mundo feliz"
Os relatos no Vasco são de que Léo é a humildade e simpatia em pessoa. O zagueiro faz questão de falar com todos no clube quando chega e se preocupa quando não se lembra se cumprimentou alguém. "Eu já falei com você hoje?", costuma perguntar. Mais de uma vez por dia também costuma "invadir" a sala dos funcionários no CT para tomar café.
Léo tem o hábito de ter conversas mais profundas e demonstra interesse com o futuro de quem trabalha no clube, em especial os mais jovens.
- Eu digo muito que o extracampo interfere muito dentro de campo, como você é dentro de campo, como você trata as pessoas fora de campo - contou Léo em conversa exclusiva com o ge.
- É mais ou menos igual a quando você está se preparando para um jogo, que você vê que sua alimentação e seu sono vão interferir lá dentro. Se você dorme bem, você pode render melhor. Então é assim com as pessoas também, eu acredito nisso. Por isso que sou o mesmo Léo de quando saí novinho, com 18, 19 anos, agora com 27. Um pouquinho mais maduro, mas a mesma pessoa - acrescentou ele.
Para quem o conhece, esse tipo de comportamento não surpreende.
- Onde ele foi ele sempre brigou pelos funcionários, que ganham pouco - explicou Gerson Oldenburg, empresário do jogador. - É um cara que, volta e meia, em treinos de dois turnos, pega e leva os caras para almoçar, leva para churrascaria. É uma preocupação dele com todo mundo, ele quer ver todo mundo feliz dentro do clube.
As atuações neste início pelo Vasco potencializam o carinho de funcionários, companheiros e torcedores. No clube, Léo até voltou a fazer gol, o que não acontecia há mais de cinco anos - ele fez o último do time na goleada por 5 a 0 sobre o Resende, na sexta rodada da Taça Guanabara. Mas, se for para fazer algum elogio, é melhor que seja pessoalmente: ele é avesso à vida online.
- Eu vou ser sincero, meu contato com a torcida é mais na rua, eu acesso muito pouco a rede social. Quem me conhece sabe, tem gente que manda mensagem e eu respondo depois. Tem amigo meu que está me seguindo aqui no clube e fica me zoando: "Pô, não precisa me seguir de volta, não" (risos). Eu falo: "Me desculpa, eu tenho que baixar o Instagram" - conta ele.
Léo já afirmou mais de uma vez que o Vasco foi a melhor escolha que ele fez na carreira.
- Quando você planta certas coisas, não quer dizer que você vai colher naquele momento, isso pode ser colhido depois. E eu planto já há bastante tempo para colher no momento que Deus acha que eu devo colher. Quando eu falei na coletiva que o Vasco foi a minha melhor escolha é porque eu estou me sentindo muito em casa, isso é muito visível. Parece que eu estou aqui há muito tempo. Quem me conhece sabe que, quando eu falo as coisas, eu falo de coração. O Vasco foi uma escolha muito certeira na minha carreira - concluiu.
Infância difícil
Tamanha humildade e preocupação com o próximo têm explicação: Léo é o caçula de uma família que até pouco tempo era muito pobre e por várias vezes precisou da ajuda dos outros para ter o que comer em casa, por exemplo.
Carioca, Léo tem sete irmãos e viveu durante o início de sua vida na comunidade de Tomazinho, em São João de Meriti, na Baixada do Rio. Ele já disse outras ocasiões que ele e a família moravam numa casa repleta de goteiras quando chovia e que passou por uma porção de dificuldades até conseguir ser jogador profissional de futebol.
- Eu sempre faço uma reflexão sobre a minha vida, muito, muito mesmo. Todo dia eu paro, vejo de onde eu saí, onde eu cheguei, como foi o início, que foi muito difícil. Era uma preocupação muito grande que eu tinha por ser o responsável por mudar a história da minha família, isso às vezes te atrapalha um pouquinho dentro de campo porque você quer resolver tudo, mas você não vai conseguir resolver tudo naquele momento. É uma responsabilidade que desde cedo peguei para mim. Com o tempo, você vai amadurecendo, entendendo que cada coisa, cada lugar tem o seu tempo - contou ao ge.
Léo recentemente comprou um apartamento em Nilópolis e tirou os pais da comunidade, mas a maioria dos irmãos ainda vive no terreno em São João. No entanto, o lugar foi reformado, e cada um tem a sua própria casa.
De volta ao Rio depois de rodar por Bahia e São Paulo nas últimas cinco temporadas, o zagueiro do Vasco está morando na Barra da Tijuca, mais próximo ao CT do clube, junto com a esposa Sabrina e as filhas Laura e Luísa - a mais nova nasceu este ano.
- A gente passou um período da infância meio sofrido. Quando chovia, parecia que a chuva estava dentro da nossa casa. Tinha que escolher um canto para a goteira não cair nos nossos olhos, entendeu? - lembrou Renato, 38 anos, um dos irmãos do zagueiro.
- A gente passou um período que a minha mãe, quando sabia que tinha uma casa doando algum alimento, ela enfrentava uma fila enorme para pegar. Quem acompanhava ela muitas vezes era eu. Carcaça de frango, sabe? Ela ficava na fila para pegar carcaça para fazer para a gente. Só aí você entende que foi uma infância sofrida - completou.
As coisas só passaram a mudar financeiramente para Léo e sua família mais ou menos em 2015, quando ele foi campeão brasileiro sub-20 pelo Fluminense. O irmão Renato, no entanto, tem certeza que a vida deles mudou muito antes.
- A mudança já veio desde lá de trás, não foi agora. Meu irmão quando saiu de casa com 11, 12 anos, ele falou: "Deixa eu ir porque vou mudar a vida da minha família".
Fonte: ge