Quando a temporada de 2021 chegou ao fim, Vasco e Fernando Diniz, cada um havia atingido o fundo do poço particular. Havia sido o décimo colocado na Série B, a pior campanha do futebol cruz-maltino em toda sua história. O treinador fez parte dela e, com isso, acumulava mais um trabalho fracassado, a despeito da proposta de jogo bonito que defendia. Estava por um triz de cair em descrédito e se tornar daqueles técnicos cujas boas intenções funcionam apenas no campo das ideias.
Por isso, quando o presidente Jorge Salgado decidiu pela reformulação do departamento de futebol e as duas cabeças a rolar foram as de Alexandre Pássaro, diretor de futebol, e a de Diniz, o atual treinador do Fluminense não esboçou qualquer contestação. Era o fim de um casamento curto e infeliz. Havia até mesmo um certo alívio de que finalmente havia acabado.
Domingo, as partes voltam a se encontrar e, a despeito de tudo de ruim que aconteceu, não restaram cicatrizes. Vasco e Fernando Diniz seguiram suas vidas e duelarão no Maracanã melhores do que estavam 1 ano e três meses atrás, quando se separaram.
Sem culpa na tragédia
De lá para cá, o cruz-maltino conseguiu o acesso à Série A, que não veio com Fernando Diniz. Vendeu o futebol para a 777 Partners e começa a temporada com R$ 100 milhões já investidos em contratações de reforços. Orçamento que o Fluminense não chega perto de ter para encorpar o elenco atualmente.
O treinador, por sua vez, recebeu do tricolor nova chance para provar que era capaz de fazer um trabalho bom e sustentável. Conseguiu ao levar o Fluminense ao terceiro lugar no Brasileiro, à semifinal da Copa do Brasil, e o mais importante: ao manter uma estabilidade de atuações em alto nível, o que nunca havia alcançado antes. Foi o que fez Diniz subir de prateleira, ser cotado até mesmo para assumir o comando da seleção brasileira.
Em São Januário, é visto como o treinador certo no lugar e no momento errados. Fernando Diniz chegou apostando que seria capaz de implementar seu estilo de jogo mesmo no Vasco, com toda sua carência de valores individuais.
Começou até bem, com quatro vitórias, três empates e uma derrota nos oito primeiros jogos. Apresentou ao torcedor vascaíno a estranha ideia de que era possível experimentar momentos de bom futebol mesmo com jogadores tão limitados com a cruz-de-malta. Mas logo tudo definhou. Quando as dificuldades aumentaram demais, jogadores e comissão técnica se entregaram. Nas últimas sete partidas, foram cinco derrotas e dois empates. A goleada do Botafogo dentro de São Januário por 4 a 0 foi o golpe mais duro de todos.
Apesar do temperamento muitas vezes explosivo, Fernando Diniz manteve bom relacionamento com jogadores e diretoria. Não houve maiores problemas de indisciplina no elenco que pudesse explicar a queda de rendimento. Sua vinda já tinha sido meio improvável, graças à amizade com Pássaro, com quem havia trabalhado no São Paulo. O trabalho na Colina era desde o início arriscado e o próprio Vasco reconhece isso. Marcelo Cabo e Lisca haviam deixado o cenário bem complicado para uma recuperação.
Ainda assim, Fernando Diniz aceitou. A sequência de resultados ruins nas últimas rodadas da Série A pesaram demais, pouco sobre a avaliação da qualidade do técnico e muito sobre a possibilidade de o treinador ter ambiente para seguir treinando a equipe em mais uma Série B. O Vasco entendeu que precisava mudar de ares. E Fernando Diniz, também.
Fonte: O Globo