Ramon deixou para trás família, amigos e o campo de pelada da usina Trapiche, no município de Sirinhaém, em Pernambuco, quando tinha 17 anos. Apostou a vida no futebol e construiu duas grandes paixões ao longo do caminho: Santa Cruz e Vasco. Agora, aos 72 de idade, relembra momentos marcantes em São Januário, como forma de homenagem ao ex-companheiro Roberto Dinamite.
- Ele foi um cara extraordinário, principalmente comigo. Só tenho a agradecer… por tudo que ele fez na minha carreira - diz Ramon emocionado, na despedida do amigo, que morreu no último domingo.
Ramon chegou ao Vasco em 1976, após passagens por Internacional e Sport, com direito a recepção no aeroporto do Rio de Janeiro. Era uma equipe liderada por Roberto Dinamite, que mesmo jovem figurava como ídolo do clube. Ramon apostou em uma mudança de posição para encaixar naquele time.
- Falei: tenho que encontrar um lugar para ganhar a posição, porque no lugar dele não ia ser. Quando foi num sábado de manhã, o ponteira esquerda chegou direto do Salgueiro (escola de samba). Passou a noite toda no samba... Vou ganhar essa posição. E me fixei como ponta esquerda - explica.
A mudança funcionou, e Ramon terminou se tornando um dos artilheiros do Vasco ao lado de Dinamite. Eles formaram a dupla de ataque do Cruz-Maltino no título do Carioca de 1977.
"Cada um teve um apelido, aqui na nossa linguagem, aí o meu foi escrito à caneta: Estopim da Dinamite. Porque eu fiz ele explodir, né?!", lembra Ramon.
- Roberto fez tanto gol, que em 1978 foi convocado para a seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo na Argentina - acrescentou.
"Vai fazer muita falta"
Oito anos depois da parceria com Ramon, outro pernambucano esteve ao lado de Dinamite no Vasco: Zé do Carmo, entre 1988 e 1991.
- Mantinha contato com ele (recentemente) porque estava em uma situação muito deliciada. Eu tenho que me emocionar... Porque era um cara assim...Qque só ajudou. Vai fazer muita falta - desabafa o ex-atleta.
Zé do Carmo chegou ao Vasco após quase 10 temporadas pelo Santa Cruz, desembarcando em São Januário em 1988. Ele conta que a primeira pessoa a quem o supervisor Paulo Angioni o apresentou foi justamente Roberto Dinamite.
"Ele olhou para mim e disse: "Pernambucano... Mais um pernambucano chegando aqui para ser feliz né?!". Eu fui recebido de uma forma que fiquei deslumbrado."
Zé do Carmo e Dinamite foram campeões do Carioca naquele ano, em 1988, e do Brasileiro da temporada seguinte, em 1989. Uma história guardada em registros de vídeos, fotos e principalmente na memória.
- Eu dizia para os caras o seguinte: "Estou treinando velocidade não é nem para marcar os atacantes, é para, na hora do gol, quando Roberto fizer, eu ser o primeiro a chegar lá". Então eu estava sempre na telinha.
Fonte: ge