Vasco trabalhou para recuperar imagem de Dinamite após sua presidência; ex-VP Bruno Maia comenta
Por um bom tempo, virou praxe ouvir do torcedor vascaíno que era preciso separar o jogador Roberto Dinamite do presidente. É o tipo de frase que enfraquece qualquer idolatria, porque não cabem senões no idolatrar de verdade. Eles são inconciliáveis. Dinamite, falecido domingo, aos 68 anos, vítima de um câncer no intestino, sabia disso. Tanto que lamentava o fato de ter entrado na política do clube, especialmente, emplacado um segundo mandato como dirigente maior em São Januário.
O bom é que a frase caiu em desuso nos últimos anos. Muito pelo esquecimento natural do tempo - ele deixou a presidência em 2014, período em que ocasionalmente era chamado por torcedores irritados com os resultados do futebol e por adversários políticos de "Bananite". Mas também pelo trabalho de recuperação da imagem de Roberto Dinamite executado pelas últimas duas gestões do clube, dos presidentes Alexandre Campello e Jorge Salgado. Ainda em vida, Dinamite e vascaínos finalmente se reencontraram na posição de ídolo e torcida, apenas. Sem poréns.
Tudo começou depois que o médico ortopedista substituiu Eurico Miranda, principal adversário político de Roberto Dinamite. A gestão de Campello investiu numa estratégia de reposicionamento da marca, que passava pela tentativa de diminuir a antipatia que o Vasco gerava na comunidade do futebol, na visão dos dirigentes. Valorizar a história do clube e seus ídolos seria fundamental para isso.
- Chegamos ao clube sem ter nada para trabalhar. A única coisa que o Vasco tinha era sua história, seus grandes jogadores do passado - afirma Bruno Maia, então vice-presidente de marketing. - Partimos então na busca por uma revalorização da identidade do Vasco. Fizemos um painel com os grandes ídolos em São Januário, com o Dinamite no lugar de maior destaque.
A iniciativa refrescou a memória dos torcedores, especialmente os mais jovens, a respeito de quem havia sido Roberto Dinamite. Paralelamente, foi uma preocupação de Alexandre Campello trazer os ídolos para dentro da Colina novamente, para assistir aos jogos, ter contato com os torcedores.
O camisa 10 andava afastado. Havia sido expulso das tribunas de São Januário nos períodos de maior tensão com Eurico Miranda. Praticamente, foi retirado à força de sua própria casa. Depois da presidência, com a volta de Eurico ao poder, permaneceu distante. Receava qual seria a recepção dos torcedores.
- Não gosto de tratar isso como algo relevante porque é o básico que poderíamos ter feito. Alguém precisava falar para o Dinamite que São Januário era a casa dele e que nela ele poderia ficar à vontade, fazer o que quiser - lembrou Maia.
Homenagens em vida
Campello foi substituído por Jorge Salgado e o trabalho de recuperação da imagem de Roberto Dinamite junto aos vascaínos continuou. O ídolo passou a participar de gravações da VascoTV e a ser convidados para eventos do cruz-maltino, como a inauguração do CT Moacyr Barbosa e a reforma do centro de treinamento da base, em Duque de Caxias.
O ídolo voltou a ser convidado para representar o Vasco em eventos em outros estados, a participar da inauguração de lojas oficiais do clube país afora. Em outubro de 2021, a diretoria anunciou o desejo de encomendar uma estátua de Dinamite para ficar em São Januário e corrigir o que para muitos era um equívoco histórico: Romário já tinha uma estátua na Colina, referente ao milésimo gol marcado no estádio, e o maior ídolo do clube, não.
Com o anúncio da doença, em dezembro de 2021, o processo todo de homenagens foi acelerado, enquanto o ex-jogador tratava o câncer e enfrentava as dificuldades do tratamento com quimioterapia. Além da estátua inaugurada, em uma grande festa no gramado de São Januário, ele teve a honra de receber um título de benemérito, por serviços prestados ao clube.
Fonte: O Globo