Apelidos e comparações com Pelé impactaram carreiras no Brasil e no exterior; zagueiro vascaíno Léo é um dos exemplos
A maioria dos jogadores de futebol foge de comparações, em especial em início de carreira, quando ainda tem muito a provar. Mas se o paralelo traçado é com o maior jogador de todos os tempos? Ser chamado de "novo Pelé", "Pelézinho" ou até "Pelé branco" foi a realidade de atletas, no futebol brasileiro e internacional, que tentaram, no decorrer da carreira, desmistificar o apelido.
Na quarta-feira, o zagueiro Léo, agora do Vasco, que já foi conhecido como "Léo Pelé", explicou por que optou por suprimir o apelido, originado da semelhança física — o próprio Rei, que morreu em 29 de dezembro passado, aos 82 anos, o chamou de "filho" quando o encontrou, no início da carreira.
— Quando falo que quero ser chamado só de Léo é porque o Pelé é único, meu receio era comparar o futebol e não tem como comparar. Queria tirar esse peso de cima de mim. O apelido era pela aparência. Vai ficar marcado para sempre na minha história quando o Pelé chegou na sala, olhou para mim e disse "esse menino é meu filho" (risos) — explicou o jogador, que nem mesmo atua na mesma posição do Rei: começou como lateral-esquerdo antes de virar um defensor central.
Em Pernambuco, um jovem jogador viveu uma tarefa um pouco mais complicada: tentar ganhar seu lugar ao sol sob a pesada alcunha de "Pelézinho". O apelido, dado por amigos do atacante Erico Junior no bairro do Ibura, no Recife, onde se destacava nas peladas com os amigos, foi carregado até as divisões de base do Sport, clube que o revelou para o futebol. Rápido e incisivo, acabou não engrenando uma longa passagem na Ilha do Retiro, mas trilhou uma tranquila carreira com passagens por clubes do Brasil e de Portugal.
Hoje, com 29 anos, Erico atua pelo Nacional-AM, que disputa a Série D do Brasileirão. Em 2013, quando deixou o Brasil rumo a uma primeira experiência na Europa,no Mafra (de Portugal), descartou qualquer problema em relação ao apelido, em entrevista ao site Superesportes:
— Não acho que tenha atrapalhado em nada. Nunca carreguei esse peso. E aqui (em Portugal) não me apresentei com esse apelido. Alguns amigos do grupo viram vídeos e tal, mas para o clube é Erico Junior mesmo e pronto.
As comparações com Pelé também pipocaram nos Estados Unidos, onde o Rei fez história no hoje licenciado New York Cosmos. Revelação de 2003, quando se profissionalizou com apenas 14 anos pelo DC United, o jovem Freddy Adu, nascido em Gana e naturalizado americano, era visto como um fenômeno do futebol local e da seleção americana (estreou aos 16 anos), além de um possível sucessor do brasileiro, "o próximo Pelé". Chegou a estrelar campanhas publicitárias e fotos com o Rei.
Mas a carreira de Adu nunca engrenou após deixar a MLS. O meia-atacante rodou o mundo, atuando até pelo Bahia, em 2013, mas foi um dos casos em que as expectativas pesaram demais. Hoje, aos 33 anos, luta para se manter em atividade.
Os "Pelés brancos"
A alcunha de "Pelé branco", carregada no componente racial que também fez parte da carreira do Rei, foi utilizada com muitos jogadores, em diferentes níveis de seriedade, ao longo dos anos. O meia Lucio Flavio, ex-Botafogo e Paraná — hoje, técnico do sub-23 do alvinegro — foi chamado assim pelo jornal mexicano MedioTempo quando foi apresentado no Atlas, em 2009, numa mistura de empolgação com bom humor.
O apelido também acompanhou, em alguns momentos da carreira, Norberto Alonso, argentino campeão mundial em 1978 — foi reserva na campanha. "El Beto", meia-atacante que brilhou pelo River Plate, ganhou esse acréscimo do técnico Didi, ícone brasileiro campeão do mundo com o Rei em 1958. Mas passou longe da história de Pelé, disputando aquele único mundial pela albiceleste.
Na Europa, torcedores do Manchester United têm música especial até hoje para o icônico ex-atacante inglês Wayne Rooney. "Encontrei um camarada meu outro dia, que me disse ter visto o Pelé branco/ Perguntei quem era e seu nome era Wayne Rooney", diz a espirituosa canção, inspirada em declarações do então técnico Alex Ferguson, quando Rooney tinha 25 anos.
— Se ele é como um jogador brasileiro? Veja Pelé. Era um atacante agressivo que conseguia cuidar de si mesmo. Rooney também. Há similaridades em força , velocidade, determinação. Mas ele é branco, completamente branco.
Fonte: O Globo