Último gol de Tite, hoje técnico da Seleção Brasileira, como jogador foi em São Januário
"Violento em alguns lances, teve o mérito de marcar o gol, aproveitando a falha da defesa adversária (Nota 8)". Foi assim que O GLOBO avaliou o desempenho do volante Tite na vitória de 1 a 0 do Guarani o Vasco, pelo Campeonato Brasileiro de 1986. Naquele dia 7 de setembro, o atleta marcou seu único gol pelo Bugre e também o último de sua carreira, antes de se aposentar precocemente, aos 28 anos.
Na época, Tite não poderia nem sonhar que, em 2022, ele seria o técnico da seleção brasileira em uma Copa do Mundo. Há 36 anos, o jogador revelado pelo Caxias, do Rio Grande do Sul, ainda sonhava atingir suas maiores glórias no futebol calçando chuteiras, dentro das quatro linhas.
Gaúcho nascido em Caxias do Sul, Adenor Leonardo Bachi ganhou seu apelido por um engano do treinador Luiz Felipe Scolari, que levou o adolescente para treinar no Caxias, mas se confundiu na hora de apresentá-lo, chamando o menino de Tite, quando, na verdade, este era o "nome de guerra" de outro amador. A partir de então, após esse batismo sem nenhuma cerimônia, Adenor virou Tite.
O jogador entrou no Caxias em 1978, aos 17 anos de idade. Tornou-se profissional no clube três anos depois e só deixou a equipe no início de 1984, quando foi transferido para a Portuguesa, em São Paulo. No segundo semestre do mesmo ano, mudou-se para o Guarani, time pelo qual sentiu o gostinho de atuar em decisões importantes, mas também onde sofreu a contusão que encerraria sua carreira.
Logo no segundo jogo com a camisa do Bugre, em Campinas, contra o Santo André, Tite abriu demais as pernas ao disputar uma bola e deixou sua perna esquerda girar, conforme contou o próprio treinador durante uma entrevista recente ao site UOL Esporte. O atleta sentiu uma fisgada no joelho e foi atendido pela equipe médica na lateral do campo. Mas voltou ao jogo minutos depois e, num outro lance, seu joelho girou mais uma vez. Ele sentiu a mesma dor, caiu e deixou o gramado.
Tite ficou no Guarani de 1984 a 1988, mas só atuou em 40 partidas. Ao longo desse período, por causa daquela contusão, foi submetido a nada menos que três cirurgias. Depois de uma operação específica, foram mais de 30 dias de gesso, com a perna esquerda imobilizada. Entre um procedimento e outro, o atleta estava sempre aplicado nos exercícios de fisioterapia. Mas não se livrou do problema no joelho.
Mesmo lidando com as dores, o jogador atuou em partidas relevantes pelo Bugre. Seu gol de cabeça no estádio de São Januário, no Dia da Independência de 1986, garantiu uma vitória importante, fora de casa, na campanha que levou o Guarani à final do Campeonato Brasileiro. A competição foi decidida em fevereiro de 1987, em dois jogos. No primeiro, houve um empate em 1 a 1. No segundo, um novo empate, em 3 a 3. Na disputa de pênaltis, o tricolor paulista ficou com a taça.
O Guarani de Tite foi novamente vice-campeão do Campeonato Brasileiro de 1987, que terminou em dezembro daquele ano. Na final, o time de Campinas venceu o Sport em casa por 2 a 0, mas perdeu o segundo jogo, em Recife, por 3 a 0, e ficou sem a taça devido ao saldo de gols na decisão.
Mas a contusão no joelho esquerdo continuou afligindo o volante nascido em Caxias, e o jogador entendeu que não poderia continuar sua carreira. Ele pendurou as chuteiras em 1989, aos 28 anos, mas afastar-se do futebol não estava nos planos de Tite. Ele estudou Educação Física na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas e se tornou treinador em 1991.
Nos anos seguintes, comandou diferentes times gaúchos da segunda divisão, como o Vereanópolis, o Erechim e o Juventude. Em 2000, conduziu o Caxias em uma campanha histórica para o clube, que conquistou o Campeonato Gaúcho de Futebol vencendo na final o Grêmio de Ronaldinho Gaúcho. No ano seguinte, começou uma vitoriosa trajetória como técnico de grandes clubes do país, como Grêmio, Corintnhians, Palmeiras e Internacional, até chegar à seleção brasileira, após a Copa de 2014.
Fonte: Blog do Acervo - O Globo