Filme contará como é a vida de Ricardo Gomes 11 anos após AVC sofrido enquanto dirigia o Vasco
Zagueiro canhoto, elegante e de boa técnica, Ricardo Gomes tomou dose de humildade ao falar de Eder Militão na coletiva de terça-feira, a primeira na qual participou como membro da comissão técnica de Tite.
Ele disse que na sua época, apenas destruía e não construía como faz o zagueiro-lateral do Real Madrid. Modéstias a parte, Ricardo tem nesta Copa do Catar a segunda oportunidade na vida para ser campeão do mundo com a Seleção. Em 1990, por coincidência na mesma Turim na qual o Brasil se preparou para o Mundial, ele era capitão e saiu da Copa com a Seleção depois da derrota para a Argentina. Em 1994, ele foi cortado e não foi campeão mundial nos EUA.
Aos 57 anos, Ricardo constrói, isso sim, novas histórias depois de passar pelo momento mais dramático da vida. O Acidente Vascular Cerebral, no estádio Nilton Santos, completou 11 anos em 2022. O caso vai ser retratado em documentário, com entrevistas inéditas do ex-jogador e treinador, além de amigos como Ricardo Rocha, Cristóvão Borges, Raí e o filho Diego Gomes.
O treinador tem feito papel de observador da Seleção - o que os antigos chamavam de "espião". No Catar, ele assistiu a nove jogos de possíveis adversários em dez dias. Mas o trabalhou começou antes, quando viajava desde março para observar rivais.
No filme, produzido pela Media Bridge, a mesma produtora que roda "O Monstro", sobre Thiago Silva, ele fala da luta diária para exercitar o cérebro com a prática chamada de Neurobic, espécie de ginática cerebral. Numa cena, ele joga xadrez com o professor e bioquímico da UNIRIO L.C.Cameron, que o auxiliou no processo junto ao neurologista José Guasti.
– É um processo contínuo. Ricardo sabe que a recuperação plena não existe. Ele vai continuar para sempre para explorar o lado do cérebro dele que ficou abalado – conta o diretor e roteirista da produção Chico Vereza.
Empresário de futebol, Diego, filho de Ricardo, também fala no filho da preocupação de também ter problemas de saúde deste tipo. O pai de Ricardo sofreu AVC próximo da idade do treinador, que na época dirigia o Vasco, havia acabado de ser campeão da Copa do Brasil e disputaria o título até a última rodada contra o Corinthians de Tite. Quem conduziu o clube carioca foi o auxiliar Cristóvão.
– Nós ainda vamos fazer mais uma entrevista com ele no estádio Nilton Santos, no banco de reservas – conta ao ge, Chico Vereza, diretor e roteirista da produção.
Afinidade com Tite
Em 2011, o Corinthians de Tite foi campeão com dois pontos de diferença contra o Vasco montado por Ricardo e Cristóvão. Apesar das batalhas antigas com o treinador da Seleção, Ricardo segue a discrição que o marcou desde os tempos de jogador. Às vezes, vai aos treinos do Brasil e Tite o convoca para participar das reuniões. São 16 pessoas em toda a comissão que debatem diariamente aspectos do jogo. Analisam a competição e o desempenho do Brasil.
– Nós temos reuniões diárias, e o Tite dá essa liberdade de fazermos colocações. Qualquer detalhe é aberto e, nesse caso, primeiro eu passo para o Tite e, caso ele necessite que eu converse com o jogador, eu faria. Mas ainda não foi o caso – contou Ricardo, quando foi questionado se precisou fazer alguma interferência direta no grupo da Seleção.
– A diferença do Ricardo nessa equipe de observadores é que ele é treinador, é experiente, teve embates com o Tite. uns bons, outro ruins. Ele soma muito para o Tite, para a confiança do treinador, de ter um profissional desse tamanho ao lado. E pelo conhecimento técnico também que ele traz. Participa das reuniões, soma bastante e nos ajuda com sua sabedoria – contou Juninho Paulista, coordenador da Seleção.
Fonte: ge