Vasco e Operário têm histórico de luta contra o preconceito racial
Sábado, 01/10/2022 - 23:28
Adversários na próxima rodada da Série B, Vasco da Gama e Operário-PR estão unidos na história pelas causas sociais que ambas as equipes defendem; o combate ao preconceito racial e a luta das classes trabalhadoras.

Assim como o Gigante da Colina na década de 20, o Operário, que foi fundado em 1 de maio de 1912 (data esta que anos mais tarde viria a ser considerado o Dia do Trabalhador), nos anos iniciais da década de 10, tinha na formação de sua equipe profissional jogadores negros e trabalhadores em geral.

Segundo o pioneiro senhor Abel Ricci a cor do uniforme principal do Fantasma, não modificada até os dias atuais, foi ideia do senhor Alberto Scarpim. "Trata-se de uma homenagem às raças branca e negra, que sempre terão vez em nossa agremiação", declara Abel.

Essa conduta de busca de equiparação entre todos causou imediata simpatia pelo clube. Vale ressaltar que, em 1912, apenas 24 anos após a promulgação da Lei Áurea, pouquíssimos times no país aceitavam jogadores negros em suas formações.

Por conta das histórias que se assemelham em muitos pontos, alguns torcedores do Operário nutrem certa simpatia pelo Cruzmaltino.

RESPOSTA HISTÓRICA

A Resposta Histórica de 1924, foi uma carta enviada pelo presidente do Club de Regatas Vasco da Gama, José Augusto Prestes, à AMEA, organizadora do Campeonato Carioca, em que abdicava da participação no torneio por não aceitar excluir doze atletas do elenco. Um dos critérios para a exclusão baseou-se no analfabetismo e nas condições e natureza das profissões dos jogadores vascaínos. Curiosamente, os 12 atletas cruzmaltinos eram negros ou brancos de origem humilde.

Campeão em 1923, o Gigante da Colina perderia seus atletas com o regulamento da competição. A Associação Metropolitana de Esportes Athleticos acusava os jogadores de terem "profissões duvidosas" em época que o futebol ainda era amador. Com a cisão da liga, o Vasco foi campeão pelo campeonato da LMDT, e passou a integrar a AMEA em 1925. A carta se tornaria um marco contra a discriminação racial e social no futebol nacional.

Confira na íntegra a Resposta Histórica:

Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.

Officio No 261

Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle, M. D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.

As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.

Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.

Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.

Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever

De V. Exa. Atto Vnr., Obrigado.

José Augusto Prestes

Presidente"

Próximo Confronto

O duelo entre Vasco da Gama e Operário, válido pela 33ª rodada do Brasileirão Série B, vai ocorrer na próxima terça-feira (4), às 19h, em Ponta Grossa, interior do Paraná. O Gigante da Colina é o quarto colocado da Segundona com 49 pontos. o Fantasma é o 18º com 32.



Fonte: Atenção Vascaínos