Uma das avenidas mais importantes da malha viária de Salvador se chama Vasco da Gama, você sabia? Ela corta a capital baiana do Rio Vermelho ao Dique do Tororó, em aproximadamente cinco quilômetros de extensão que carregam bagagem cultural indispensável para a história de uma das cidades mais antigas do Brasil.
A Avenida Vasco da Gama é, também, um dos caminhos que levam à Arena Fonte Nova, onde Bahia e Vasco se enfrentam neste domingo, às 16h (de Brasília), em confronto bastante aguardado da 26ª rodada da Série B do Brasileirão. A TV Globo transmite a partida.
A delegação vascaína, que chegou a Salvador no início da noite de sábado, certamente vai percorrer algum trecho da avenida a caminho da Fonte Nova neste domingo. Eles estão hospedados na região do Rio Vermelho, de modo que o percurso mais provável passa pela Vasco da Gama. Ou só a Vasco, como dizem os moradores da cidade.
O ge percorreu a avenida de ponta a ponta no sábado que antecedeu a partida (assista no vídeo abaixo). Ela é tão grande que passa por cinco bairros de Salvador. E tão importante que abriga, por exemplo, o terreiro de candomblé em atividade há mais tempo no Brasil inteiro.
Do Rio ao Dique
Uma homenagem ao navegador português que também dá nome ao clube, a Avenida Vasco da Gama foi batizada assim, de maneira oficial, durante sua urbanização que se deu nas comemorações do quarto centenário de Salvador, em 1949. Antes, quando surgiu com pequenas casas que margeavam um córrego e depois virou uma rua sem pavimentação, também foi chamada de Mata Escura do Engenho Velho, Estrada Dois de Julho e Rio Vermelho de Baixo.
A ligação entre Salvador e Portugal é evidente. Trata-se da primeira capital do Brasil e sede do poder colonial português. Portanto, no aniversário de 400 anos da cidade, procurou-se homenagear figuras lusitanas como Vasco da Gama. "Ele foi a um nome proeminente da história das navegações de Portugal, provavelmente o maior comandante da frota portuguesa, muito temido e respeitado", explica Milton Moura, professor de História da Universidade Federal da Bahia.
A urbanização da via (e o seu rebatizado) veio à reboque da construção do Estádio Octávio Mangabeira, erguido no mesmo lugar onde hoje está a Arena Fonte Nova. Na época, diante de um empreendimento tão grande como um estádio de futebol, havia a necessidade de reformar toda área ao redor, incluindo o trecho da Vasco da Gama que passa à direita do Dique do Tororó.
- Nesse processo da construção do antigo Mangabeira, urbanizou-se essa margem direita do dique, que é o prolongamento da Vasco. Ela começa lá no Rio Vermelho e, em seguida, desemboca no Dique. De lá até cá, todo o lado direito é a Avenida Vasco da Gama - conta ao ge o professor e historiador Jaime Nascimento.
O córrego que um dia existiu foi coberto pelas pistas de ônibus. O metrô não passa pela Vasco da Gama, mas tem conexão com a grande maioria das linhas de ônibus que por ali trafegam. Outro detalhe curioso é que a avenida deu origem a dois bairros de Salvador: Engenho Velho da Federação e Engenho Velho de Brotas, um em cada lado da pista.
A avenida dos terreiros
Algo que chama atenção na Avenida Vasco da Gama é a concentração de casas que celebram religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé. São várias espalhadas pelos cinco quilômetros de extensão da via.
É lá que está situada a casa de candomblé em atividade há mais tempo no Brasil: a Casa Branca, fundada em 1820. Um terreno enorme, que não há muito tempo chegou a perder espaço para um posto de gasolina à beira da avenida, e que hoje sobrevive sem grande apoio do poder público. Tombado pelo IPHAN em 1986, foi o primeiro monumento da cultura negra a ser considerado Patrimônio Histórico do Brasil.
A Casa Branca tem os portões abertos e recebe de bom grado dos curiosos aos que necessitam de auxílio espiritual. Logo na entrada, é possível duas obras desenhadas por Oscar Niemeyer: a grade que cerca o terreno e a Praça de Oxum. A reportagem do ge visitou o local, que estava cuidadosamente ornamentado na cor branca em função da temporada de Oxalá, o orixá que representa a paz e o amor incondicional.
Localizado inicialmente na Barroquinha, o terreiro mudou somente na segunda metade do século XVIII, como explica Milton Moura: "Ali era uma região de muitas árvores, e como o candomblé é uma religião que tem muito a ver com árvores, fontes, então a Casa Branca se transferiu para lá".
Milton Moura também destaca outra contribuição importante, esta mais recente, da Avenida Vasco da Gama para a cultura de Salvador.
- Na história mais recente de Salvador, os bairros vizinhos à Vasco se destacaram na criação e manutenção do Samba Junino - conta ele, referindo-se ao estilo musical que nasceu do candomblé e virou Patrimônio Cultural da cidade. - A Vasco da Gama é o principal eixo dos bairros que praticam esse samba.
Fonte: ge