Encerrada a vitória por goleada sobre o CRB na quinta-feira, quando jogadores se dirigiram para casa com suas famílias e torcedores esvaziaram São Januário, Eguinaldo foi para o seu quarto ali mesmo no alojamento do estádio, ao lado do campo onde acabara de fazer seu primeiro gol como profissional do Vasco. O sono demorou a chegar para o atacante de 17 anos.
Ainda era quinta-feira, faltavam seis minutos para meia noite, quando ele publicou em seu perfil numa rede social uma mensagem agradecendo pelo "sonho de criança" que ele havia acabado de realizar. Publicou uma foto sua comemorando, com o braço apontado para cima, e uma de Edinaldo, seu pai, que faleceu em fevereiro vítima de um ataque cardíaco.
Antes de ir para o Rio de Janeiro se aventurar no futebol, Eguinaldo trabalhava com o pai na roça: a família planta milho, mandioca e tem algumas cabeças de gado em Monção, cidade no interior do Maranhão. Quando Seu Edinaldo se foi, o filho talentoso com a bola nos pés precisou assumir uma grande responsabilidade.
- Foi muito difícil no início do ano para mim, quando perdi meu pai durante minhas férias. Pensei em desistir do futebol. Falei para a minha mãe que não queria mais saber de futebol. Minha mãe falou que eu não podia parar, que agora eu era o homem da casa e ia sustentar a família, meus irmãos e daria muita alegria para eles - contou ele ao ge.
"Esse gol ontem foi para o meu pai. E sempre será", completou.
Maria dos Remédios, a mãe de Eguinaldo, se lembra bem dessa conversa. "Eu falei isso mesmo para ele", contou ela gentilmente ao ge, por telefone.
- É ele que mantém a casa aqui. Ele nos ajuda bastante, graças a Deus - disse.
Aos 17 anos, Eguinaldo é o homem da casa e ajuda a família financeiramente. Maria é dona de casa e mora dois irmãos do jogador do Vasco: Nairon, de 23 anos, e Alberto, de 16. Layane, que é a mais velha, já saiu de casa.
De longe, a família faz o que é possível para acompanhar os jogos do Vasco desde Eguinaldo passou a ser relacionado, há duas semanas. Eles se reúnem em casa e, de vez em quando, recebem alguns amigos. Na derrota para o Sampaio Corrêa, em São Luís, os dois irmãos, um primo, uma tia e a namorada foram até o Castelão.
Dia de celebridade
A ferramenta "stories" do Instagram de Eguinaldo virou uma infinidade de publicações repostadas por ele: "Eu já vi o gol uma centena de vezes, o povo da minha cidade está postando". O menino prodígio virou figura ilustre em Monção.
Na saída de campo após a vitória sobre o CRB, ele já sentiu o gostinho da primeira entrevista ao vivo. Muito emocionado, resumiu dizendo que tudo aquilo era uma "emoção inexplicável". Nesta sexta, o Vasco abriu o CT Moacyr Barbosa para a imprensa, numa espécie de media day, e Eguinaldo foi um dos escolhidos para falar com os jornalistas num dia de celebridade.
Surgiu tímido, com um boné do Vasco cobrindo a cabeça que os colegas recentemente rasparam como trote. Arriscou alguns sorrisos, mas também se emocionou ao falar do pai.
- Se ele estivesse aqui, com certeza falaria que tem muito orgulho de mim por tudo que venho fazendo, ajudando a minha família. Acredito que lá de cima ele está muito orgulhoso de mim. Fico emocionado quando falo dele... - interrompeu ele, antes que começasse a chorar.
Em ascensão desde que chegou ao Rio de Janeiro, primeiro no Artsul e agora no Vasco, Eguinaldo não economiza nos planos: "Agora quero fazer mais gols, pensar já no jogo contra a Chape e seguir marcando. Quero subir com o Vasco para a Série A e, depois, penso em seleção brasileira". Para quem há menos de dois anos jogava na várzea maranhense, por que não?
Fonte: ge