No sul da Albânia, a 150 quilômetros da capital Tirana, joga um clube chamado Bylis na cidade de Ballsh. A população local é de cerca de 7 mil pessoas. Seria necessário levar pelo menos o triplo de habitantes de Ballsh para chegar perto da carga total de ingressos de São Januário, onde Lorran cresceu e foi formado como jogador do Vasco.
O lateral-esquerdo surgiu como uma das promessas do Vasco em meados da década de 2010. Fez sua estreia como profissional em 2014. No ano seguinte, foi convocado para disputar o Sul-Americano sub-20 pela seleção brasileira. Lorran, porém, sofreu com lesões neste período. Uma grave no joelho o fez parar por nove meses em 2016 e perder espaço de vez.
Agora aos 26 anos, Lorran tenta retomar a carreira na Albânia. Desde que saiu do Vasco, em 2017, passou por clubes menores do Brasil e se aventurou no futebol do Chipre. Ele chegou ao Bylis em janeiro de 2021, mas não conseguiu evitar o rebaixamento da equipe. Em 2021/2022, porém, tanto Lorran quanto o Bylis começaram a se reerguer.
Jogando como segundo volante, Lorran retomou a sonhada sequência de partidas e ajudou o Bylis a ser campeão e voltar à primeira divisão. O brasileiro renovou o contrato com o clube para a temporada que irá se iniciar.
- Já estou com uma sequência boa de jogos, uma minutagem boa. Acho que foi uma das melhores temporadas da minha vida. O time briga sempre ali no meio da tabela, do meio para baixo, mas a estrutura é boa, tem tudo organizado - contou Lorran ao ge.
Frio e estádios vazios
De promessa do Vasco e do Brasil à segunda divisão da Albânia, Lorran viu o lado menos glamoroso do futebol. Ficou parado após se machucar no Pafos, do Chipre. Na Albânia, sofreu com o frio - tanto o clima quanto o ambiente nos estádios.
- Eu tinha dia em que ia tremendo de frio para o treino. Aqui tem algumas torcidas grandes, como do Partizani e do Tirana, mas só dá público na tribuna. Só fica aquele montinho de gente, não é igual no Brasil.
- É muita diferença. Eu chegava em São Januário, aquele caldeirão lotado. Agora chego no jogo e não tem quase ninguém. Mas tem que se acostumar, né? É o que temos no momento. Tenho que aproveitar essa oportunidade como se fosse a última para buscar algo na carreira e retomar.
Albânia, uma lição de geopolítica
A Albânia fica no sul dos Bálcãs, espremida entre a Grécia e os países da antiga Iugoslávia. De longa história nacionalista, também teve tensões com os vizinhos, especialmente por conta da grande população albanesa que vive em países como a Macedônia do Norte.
Na pequena Ballsh, Lorran acaba ficando de certa forma alheio às tensões. O custo de vida é baixo, a qualidade de vida é boa e o clube tem estrutura aceitável. A Albânia é um dos países da Europa com menor índice de desenvolvimento, embora ainda esteja à frente do Brasil.
- A cidade não tem nada, é como se fosse no interior, meio isolado. Sempre que tem folga vamos para a praia ou para a capital - disse Lorran.
Entretanto, alguns aspectos do dia a dia lembram que este pedaço da Europa já teve dias menos tranquilos.
- Nosso treinador é da Macedônia, mas fala albanês. O goleiro era da Macedônia, mas fala albanês também. Kosovo é aqui perto também. Não sei o porquê de todas as tensões, mas são países muito próximos - contou o brasileiro.
Foco na nova temporada
Dentro de campo, Lorran teve uma adaptação mais rápida ao novo ambiente. O objetivo maior ao aceitar o desafio de jogar na Albânia era voltar a ter uma sequência de jogos.
Ele se surpreendeu com a força física dos atletas locais, mas acredita que já se acostumou com o novo estilo. Agora, a meta é seguir recuperando a carreira.
- O futebol é mais corrido, menos técnico do que a gente está acostumado, mas muito tático e forte fisicamente. Agora estou me adaptando legal. Gosto muito de lá, me adaptei ao estilo de jogo e quero fazer bem essa temporada para buscar uma situação melhor.
Fonte: ge