Perícia aponta erros médicos em ação em que Marcelo Mattos cobra cerca de R$ 8 milhões do Vasco
Uma perícia judicial deu novos argumentos à ação que Marcelo Mattos move contra o Vasco. O ex-jogador, que defendeu o clube entre 2016 e 2019, entrou na Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro e, entre alguns pedidos, alega que erros médicos durante o tratamento de uma lesão no joelho abreviaram sua carreira. Foram cinco cirurgias no período.
No total, Mattos cobra quase R$ 8 milhões do Vasco. Ele entrou com a reclamatória em 10 de março de 2021, o clube apresentou defesa, e a juíza Cristina Almeida de Oliveira solicitou um laudo pericial. Com a conclusão do documento, anexado ao processo na última terça-feira, portanto, pouco mais de um ano após o começo da discussão judicial, nova audiência será marcada. Por ora, não há sentença.
O laudo, assinado pelo perito Paulo César Weiss Campos, entre outras coisas, atesta que o Vasco negligenciou o tratamento, que Marcelo Mattos foi operado precocemente (apenas dois dias após a lesão), sentiu muitas dores no pós-operatório e retornou aos treinos em quatro meses (seis meses seria o prazo mínimo). Tudo isso teria desencadeado outras lesões que causaram redução de mobilidade no joelho do volante. Além disso, o perito ressalta que esse quadro pode ter desenvolvido depressão, vitiligo e artofibrose, sequelas alegadas por Marcelo Mattos.
O resultado do laudo gerou sentimentos dúbios no ex-jogador. Ao mesmo tempo em que ficou aliviado por ver que suas queixas foram atestadas, Marcelo Mattos ficou revoltado com o fato de a cirurgia ter ocorrido dois dias após a lesão, algo que ele não havia percebido. Em contato com o ge, o ex-jogador desabafou e revelou que também pretende tomar medidas judicias contra os médicos responsáveis, e não apenas contra o clube.
- O laudo trouxe uma novidade, algo que eu não tinha me atentado. Ele apontou que a cirurgia foi realizada dois dias após a lesão. Não época eu não me liguei. Agora as coisas estão batendo. Tinha que desinchar o joelho antes da operação. Três dias depois da cirurgia fui parar no hospital. Eu não conseguia ficar em pé, minha perna latejada, sentia um líquido e fui para o hospital - recordou, para completar:
- Estou revoltado. Achava que tinham errado o prazo da volta. Mas isso não tem condições. É claro que os médicos sabiam. Fiz cinco cirurgias, peguei uma bactéria no joelho, corri risco de vida, uma cirurgia dessas poderia ter desandado. Foi uma irresponsabilidade muito grande o que fizeram comigo. A Justiça está sendo feita. Estou mais aliviado. Não vai ficar só por isso. Estou pensando o que será feito. Vou entrar na Justiça contra os médicos. Você não tem noção o que eles fizeram com a minha vida, com o meu psicológico e com a minha família. Isso tudo abreviou a minha carreira.
Segundo Marcelo Mattos, a ideia era levar a carreira até os 42 anos. Parou de jogar com 36. A advogado Filipe Rino, que representa o ex-jogador, entende que, a partir da perícia, todas as reclamações serão atendidas pela Justiça:
- A perícia apenas comprovou aquilo que alegamos. Primeiro ponto foi a confirmação do acidente de trabalho. Segundo, e mais importante, que a imprudência no tratamento acarretou graves problemas à saúde do Marcelo. A perícia comprovou que a artofibrose ocorreu pela cirurgia ter ocorrido em um período muito próximo à lesão, o que não é recomendado pela literatura médica. Ainda, que sinovites, tendinites e desequilíbrio muscular ocorreram pelo retorno precoce aos treinamentos intensivos. Com menos de quatro meses de pós-cirúrgico, o Marcelo Mattos foi escalado para partidas oficiais. O tempo mínimo recomendado é de 6 a 8 meses. O laudo ainda concluiu que as lesões e complicações provocadas pelo acidente de trabalho geraram grande impacto na vida pessoal e profissional do Marcelo, deflagrando a ocorrência de depressão e vitiligo. Por fim, o laudo técnico ainda esclareceu que há sequela definitiva da lesão, com limitação do arco de movimento do joelho direito com déficit da flexão, o que o impede de exercer sua profissão com a mesma maestria de antes.
Procurado pelo ge, o Vasco diz que não comenta processos em andamento.
Além de danos morais, Marcelo Mattos cobra mais de R$ 1 milhão em salários atrasados, três anos sem receber 13º e férias e também o fato de o clube não ter depositado seu FGTS. O ex-jogador também alega que o Vasco reduziu seu salário pela metade em sua última renovação.
Marcelo Mattos chegou ao Vasco em 2016 e, no mesmo ano, sofreu uma grave lesão no joelho, durante um treino em São Januário. No processo, ele alega que Jorge Henrique, ex-atacante do clube, "lhe desferiu um chute no joelho direito, de forma proposital".
Na ocasião, Mattos rompeu o ligamento cruzado anterior, passou por cinco cirurgias e ficou quase três anos sem jogar. Nesse período, teve o contrato renovado duas vezes. Quando retornou aos gramados, fez apenas um jogo antes do fim do seu vínculo, em 2019. Em seguida, ainda com sequelas no joelho, teve passagens curtas e sem sucesso por Santa Cruz, Dom Bosco (MT) e Bangu, mas praticamente não entrou em campo.
Fonte: ge