Cruzeiro e XP recusaram oferta da 777 Partners antes de fecharem com Ronaldo Fenômeno
A história de mais de um clube brasileiro poderia ser distinta da que hoje se apresenta, se, meses atrás, o Cruzeiro tivesse tomado decisão diferente. Representada pela XP Investimentos na busca por um dono para sua SAF, a diretoria cruzeirense recebeu oferta da 777 Partners – companhia americana que, agora, avança para a compra do Vasco.
O ge teve acesso a detalhes da proposta que a 777 levou ao Cruzeiro no ano passado. Em termos financeiros, os americanos propuseram investir R$ 250 milhões na SAF, verba que seria usada primordialmente para contratações de jogadores e pagamento de dívidas urgentes.
A companhia também estava disposta a aplicar outros R$ 200 milhões, parte que seria usada para reduzir o endividamento da associação civil. Esse dinheiro seria aportado para pagar credores que estivessem dispostos a aceitar um deságio (desconto) de 80% sobre a dívida.
Ainda em relação à dívida do Cruzeiro, estimada em cerca R$ 1 bilhão, a 777 pretendia se responsabilizar pelo pagamento integral dela ao longo dos próximos anos – assim como propõe atualmente ao Vasco.
Se a proposta fosse levada adiante, os americanos assumiriam 70% da SAF cruzeirense, percentual que daria a eles o controle sobre o clube-empresa e as decisões sobre o futebol. A associação manteria 30%.
O interesse da 777 Partners pelo Cruzeiro surgiu antes que se soubesse que o Vasco pretendia seguir pelo mesmo caminho, da abertura de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e da venda de participação majoritária dela. Ou seja, não houve escolha entre um clube e outro.
A oferta foi levada ao clube mineiro pela Matix Capital, a mesma empresa que apresentou John Textor ao Botafogo e a própria 777 Partners ao Vasco. Ela atuou no que o mercado chama de "buy side" (o lado de quem compra), enquanto a XP representava o "sell side" (o de quem vende).
A comparação com Ronaldo
Na comparação com o projeto apresentado por Ronaldo, o ex-jogador possui vantagens , como a reputação internacional no mundo do futebol e a experiência de alguns anos na gestão do Real Valladolid. Financeiramente, a proposta levada pela 777 Partners era superior.
| Ronaldo | 777 Partners |
Investimento | R$ 50 milhões | R$ 250 milhões |
Aporte para dívida | Zero | R$ 200 milhões |
Percentual vendido | 90% | 70% |
Em termos de investimentos, Ronaldo está contratualmente obrigado a investir apenas R$ 50 milhões. Existe a possibilidade de o empresário aportar outros R$ 350 milhões, mas ela depende de dois fatores:
- Receitas da SAF precisarão estar abaixo da média anual contabilizada pelo Cruzeiro, com base em seu faturamento entre 2017 e 2021;
- Ronaldo precisará estar disposto a desembolsar, pois ele também poderá apenas devolver um percentual da SAF para a associação.
A responsabilização sobre as dívidas é limitada, no caso do ex-jogador. Segundo o contrato assinado em dezembro, o proprietário da SAF não assumiria nenhuma dívida e participaria do pagamento delas somente nos termos da Lei da SAF – com o repasse de 20% das receitas e de 50% dos dividendos (distribuição de lucros) da empresa para a associação.
O Cruzeiro se responsabilizaria pelo pagamento da maior parte da dívida, dispondo-se, inclusive, a vender três imóveis para facilitar o processo.
Hoje, há novas condições para que a venda seja concluída. Ronaldo topa pagar parte da dívida tributária, desde que a associação transfira a propriedade de dois centros de treinamento para a SAF. Ele também demanda que a entidade passe por uma Recuperação Judicial ou Extrajudicial, que reduziria o valor da dívida e estabeleceria novo prazo.
O que dizem os envolvidos
A reportagem fez contato com Sérgio Rodrigues, presidente do Cruzeiro, responsável pela escolha pela proposta de Ronaldo. O dirigente se manifestou por meio da seguinte nota:
– Considerando o contexto e formato de investimento e gestão, o Cruzeiro aceitou o que entendeu ser a melhor proposta entre as que foram apresentadas ao clube. Os critérios para essa decisão serão, como todas as decisões que tomamos, transparentemente explicitados ao Conselho na reunião sobre o tema.
A XP Investimentos foi procurada e, até a publicação deste texto, não enviou resposta. A companhia tinha a responsabilidade de representar o lado do Cruzeiro na negociação e, diante das condições de ambas as propostas, recomendou que o negócio fosse fechado com Ronaldo.
O ge fez contato com a 777 Partners. A companhia americana declinou comentar o caso. Representante dos americanos em seus negócios feitos no Brasil, a Matix Capital também foi procurada. Seus sócios, Thairo Arruda e Danilo Caixeiro, posicionaram-se por meio de nota:
– A Matix confirma que encaminhou proposta pela SAF do Cruzeiro, mas não entrará em detalhes sobre seus termos, em respeito à confidencialidade do negócio.
Fonte: ge