Vandalismo e pressão interna tornaram insustentável nova cessão de São Januário ao Fluminense
Em busca de uma relação cordial e também por conta de necessidade financeira, o Vasco topou alugar São Januário para a partida do Fluminense contra o Millionarios (COL) pela volta da segunda fase da Copa Libertadores, na última terça-feira (1°). Porém, as críticas e deboches de alguns torcedores tricolores sobre a estrutura do estádio e registros de vandalismo nas dependências cruz-maltinas fizeram o clube recuar e solicitar o cancelamento do aluguel.
Desta forma, a diretoria do Tricolor teve que buscar um novo local para receber o jogo diante do Olímpia (PAR) pela terceira fase da competição continental. Os paraguaios eliminaram o Atlético Nacional (COL) após vencerem na ida por 3 a 1 e empatarem na volta por 1 a 1.
Entre os vascaínos, o sentimento foi o de "orgulho ferido", já que São Januário é tido pelos mesmos como um "local sagrado" e símbolo de luta e resistência por todo o seu contexto histórico, uma vez que foi construído com a ajuda dos próprios torcedores após o clube, na década de 20, ser ameaçado de não participar de competições estaduais por não ter um estádio.
Internamente também houve cobrança, algo que posteriormente se tornou mais explícito com a nota oficial emitida pelo Conselho de Beneméritos, órgão que reúne cruz-maltinos mais rígidos com temas tradicionais envolvendo o clube.
No texto, os beneméritos repudiam o que chamaram de "atos de vandalismo e desrespeito cometidos contra nosso patrimônio na partida Fluminense x Millonarios". E destacam em um dos trechos:
"(...) Não podemos admitir que tal desrespeito contra este patrimônio, que é um dos grandes ícones do Rio de Janeiro, localizado, com muito orgulho, em área popular da cidade, fique sem a devida resposta. Como este Conselho é responsável por exercer fiscalização sobre o Patrimônio Social do Clube, conforme artigo 87, inciso II do nosso estatuto, não iremos descansar até que todos os torcedores que frequentem nosso estádio sejam respeitosos e zelosos com este que é nosso grande orgulho", diz parte do documento.
Pelo lado do Fluminense, houve reclamações sobre o acesso ao estádio, e à organização e infraestruturas consideradas precárias. No Tricolor, porém, a desistência do aluguel foi tratada com cordialidade, algo que tem sido a tônica entre as respectivas diretorias recentemente, principalmente após os presidentes Mário Bittencourt, do Flu, e Jorge Salgado, do Vasco, estreitarem relações. Uma prova do tom cordial foi o fato de o Tricolor abrir mão de uma multa prevista em contrato.
Em nota oficial, o Fluminense informa que o Cruz-Maltino alegou "questões de segurança" para solicitar o cancelamento, e que aceitou o pedido "em nome da boa relação entre os dois clubes do Rio". No texto, faz também questão de ressaltar que a não exposição de símbolos vascaínos na partida foi uma regra imposta pela Conmebol e agradece a receptividade.
"(...) Após linda festa ocorrida na noite de terça (01/03), na vitória contra o Millonarios, o Fluminense agradece a receptividade do Vasco da Gama, clube com o qual manterá a mesma relação cordial e respeitosa de sempre", divulgou o Tricolor em trecho do comunicado.
Administração do Maracanã colocará cordialidade à prova
Um tema que colocará a cordialidade entre Fluminense e Vasco à prova será o Maracanã. O Cruz-Maltino tem enfatizado reiteradamente que deseja participar da administração do estádio no novo consórcio que será colocado à disposição dos pretendentes pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.
Atualmente, o Maracanã é gerido de maneira provisória pela dupla Fla-Flu até que saia o novo leilão, que prevê contrato de 20 anos.
No fim de outubro do ano passado, representantes dos três clubes estiveram presentes na audiência pública para discutir a próxima concessão. Anteriormente, a diretoria vascaína já havia se reunido com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), para ratificar o interesse do clube em administrar o estádio.
A ideia do Vasco é ter o Maracanã para sediar seus jogos de maior apelo, uma vez que São Januário, atualmente, comporta apenas cerca de 20 mil torcedores, segundo permissão do Corpo de Bombeiros.
Entre as principais regras do próximo consórcio, estão a obrigatoriedade de se ter um mínimo de 70 partidas no ano — sendo 54 de campeonatos oficiais — além da responsabilidade em também administrar o ginásio do Maracanãzinho.
Bota cria novas regras para alugar Nilton Santos ao Flu
Após polêmicas e situações que causaram desconforto entre torcedores e integrantes da diretoria, o Botafogo divulgou no mês passado mudanças nas regras de aluguel do Nilton Santos. Sem entrar em maiores detalhes, o clube frisou que os principais pontos dizem respeito às "bases financeiras dos alugueis, regras de controle de acesso, utilização de espaços publicitários, preservação de signos e símbolos do Botafogo".
Os principais episódios que motivaram as mudanças foram em jogos de Flamengo e Fluminense, quando foram flagradas cadeiras quebradas, alguns episódios de violência, além do fato do Rubro-Negro ter colocado bandeirinhas de escanteio com as cores do clube da Gávea.
Após a desistência do aluguel, o Fluminense mandará seu próximo jogo da Libertadores — contra o Olímpia (PAR) — justamente no Nilton Santos.
Confira abaixo a íntegra da nota oficial do Botafogo sobre as novas regras de cessão do estádio:
"Com o intuito de garantir o bom uso do estádio, preservar os símbolos do clube e ciente de sua importância para o futebol carioca na gestão da concessão, o Botafogo concluiu o novo protocolo de uso e cessão do Nilton Santos — que regula a utilização do espaço por terceiros — e o apresentou aos clubes interessados, que deverão respeitar as regras caso desejem firmar contrato de aluguel. A próxima partida confirmada no local é Fluminense e Vasco, no dia 26 de fevereiro, válido pela 9ª rodada da Taça Guanabara.
Entre os itens abordados estão as bases financeiras dos alugueis, regras de controle de acesso, utilização de espaços publicitários, preservação de signos e símbolos do Botafogo, além de outros pontos importantes."
Fonte: UOL