Futuro dos esportes olímpicos dos clubes que aderiram ou pretendem aderir à SAF é incerto
Terça-feira, 25/01/2022 - 05:20
O sol ainda está raiando quando os atletas de Botafogo e Vasco levam seus barcos para a Lagoa Rodrigo de Freitas e se preparam para o treino. Enquanto dirigentes dormem e sonham com a Sociedade Anônima de Futebol (SAF), as pás dos remos cortam o espelho d'água sem noção do que encontrarão no ponto de chegada.

Os clubes, ainda que um bem mais adiantado que o outro, se preparam para abrir mão da receita do futebol. Terão de bancar as outras modalidades sem o socorro do velho carro-chefe. Hoje, o suporte aos esportes olímpicos já é bem escasso. Em alguns casos, resume-se à permissão para o uso das instalações existentes.

Ambos vislumbram, com a SAF, a possibilidade de obterem certidões negativas de débito. Isso abriria caminho para a criação de projetos a serem contemplados pelas leis de incentivo ao esporte existentes.

A ideia é que as modalidades que permanecerem sob a responsabilidade do clube associativo se tornem autossustentáveis. Um caminho é o do subsídio. O outro é a busca por patrocínios.

— O planejamento estratégico dos esportes olímpicos será fomentado sob novo contexto, mais responsável, e com as diretrizes de profissionalização que temos adotado. Começa, por exemplo, com as CNDs que teremos, onde poderá haver captação via Lei de Incentivo ao Esporte. Mas tudo ao seu tempo. A prioridade no momento é a conclusão do negócio da SAF — afirmou o presidente do Botafogo, Durcesio Mello.

— Com as certidões negativas, poderemos ir atrás de projetos incentivados e buscar recursos para esportes como o remo, basquete e outros — explicou Roberto Duque Estrada, vice-presidente geral do Vasco, um dos líderes na montagem do projeto da SAF do clube.

O remo deverá ser a prioridade de ambos, clubes de regatas antes mesmo de se tornarem de futebol. Atualmente, o Botafogo conta com o principal atleta brasileiro da modalidade, Lucas Verthein, 12º colocado nos Jogos de Tóquio, medalhista no Mundial Júnior. Salário e estrutura para treinos deixam a desejar.

Basquete pelo caminho

No Vasco, a tradição do esporte é gigante, mas não condiz com os resultados atuais. A disputa da modalidade consta no estatuto do clube, mas o último título estadual aconteceu ainda em 2008. Tanto tempo de jejum fez com que perdesse a hegemonia na competição para o Flamengo.

A última grande incursão do cruz-maltino nos esportes olímpicos foi a recriação do time de basquete masculino durante a gestão de Eurico Miranda entre 2015 e 2017. Os resultados não vieram, o clube gastou o que não tinha para disputar o NBB e acabou criando novas dívidas, que no fim oneram o futebol. O passivo do projeto foi incluído na lista de credores do Regime Centralizado de Execuções (RCE).

O basquete também trouxe alegria e frustração para o Botafogo. O clube montou um time masculino em 2017, os resultados apareceram, a equipe caiu nas graças da torcida, mas em 2020, por falta de recursos, ela foi desfeita. O investimento de cerca de R$ 4 milhões por ano na modalidade, enquanto o futebol sofria com salários atrasados, gerou atritos no alvinegro.

Atualmente o Vasco direciona seus olhares mais para o esporte paralímpico, com equipes de Futebol de Sete Paralímpico, Natação Paralímpica, Parabadminton, e Vôlei Sentado. O clube teve quatro representantes em Tóquio e Douglas Matera ganhou a medalha de prata na natação. Outros esportes que o Vasco tem hoje são o futebol de areia, o futsal, o judô, o karatê e a natação, além do remo.

Ronaldo mira esports

Em Belo Horizonte, Ronaldo Nazário, ao efetuar a compra de 90% das ações da SAF do Cruzeiro, estabeleceu em contrato que ficaria também com o controle das modalidades de esportes eletrônicos do clube. O ex-atacante é um entusiasta do esporte virtual.

Já o Sada Cruzeiro, time de vôlei masculino tetracampeão mundial, não deverá ser afetado pela nova sociedade anônima. Ele é totalmente estruturado pelo Sada, incluindo uma pessoa jurídica diferente da do clube, com a Raposa cedendo apenas o nome e a marca.



Fonte: O Globo