Jornalista Rodrigo Capelo, especializado em finanças do futebol, revela ser torcedor do Vasco
Rodrigo Capelo @rodrigocapelo
Dediquei a coluna desta segunda, no @JornalOGlobo, para dizer para que torço para o Vasco e contar um pouco da minha história como torcedor. Transparência é deixar que as pessoas saibam quem você é, e já fazia tempo que eu queria ter essa liberdade. 🙃
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https://oglobo.globo.com/esportes/futebol/rodrigo-capelo-torce-para-qual-time-25339043
Fonte: Twitter do jornalista Rodrigo Capelo/ge
Rodrigo Capelo torce para qual time?
Eu tinha oito anos de idade, quando ganhei, do meu pai, uma edição especial da revista Placar. Era um guia do Brasileirão de 1998. A capa tinha fotos dos destaques de cada time. A intenção dele era, provavelmente, reforçar minha ligação com o futebol e com o São Paulo — para o qual ele pretendia que eu torcesse. Com Raí na capa, ele imaginava, ficaria fácil.
Não tínhamos o costume, em casa, de assistir a jogos pela televisão. Meu contato dependia mais desses presentes. Revistas, livros. E esse guia, li de ponta a ponta várias vezes. Até hoje lembro que França era elogiado pelo "faro de gol". Dodô era talentoso, mas "sonolento".
É difícil assegurar a razão, mas minha primeira decisão foi contrariar meu pai. Eu não queria torcer para o São Paulo. Talvez tenha sido a pouca proximidade. Ele havia se divorciado da minha mãe. Causei desgosto quando anunciei, para a família, que não seria são-paulino.
A revista teve influência na escolha. O Vasco tinha acabado de ser campeão. Carlos Germano, Mauro Galvão, Juninho Pernambucano, Pedrinho, Edmundo. Felipe estava na capa. Curti tudo o que li sobre o clube. Meu pai cederia, eventualmente. Ele me deu a primeira camisa, preta com faixa diagonal branca, e uma toalha de secar com a cruz de malta. Usei ambas por anos.
Nasci e vivi na capital paulista a vida inteira, então minha experiência de torcedor não tem lembrança de São Januário. Nunca vi um jogo do Vasco lá. Mas estive no Morumbi várias vezes, durante infância e adolescência, para assistir aos confrontos com o São Paulo. Íamos de carro, ouvindo o pré-jogo na rádio. Parávamos várias ruas acima e descíamos conversando.
Nosso primeiro jogo deve ter sido uma vitória do Vasco, em 1999. Não lembro de quase nada; só que Carlos Germano e Mauro Galvão estavam em campo. Noutra vez, Hélton voou para defender o gol, e meu pai disse, impressionado: "parece um gato!" Admito que vi mais derrotas.
Acostumei-me a torcer de jeito tímido na arquibancada, desde o começo. Comemorava gols do Vasco em silêncio, para não complicar meu pai. Ficava quieto, sentado, enquanto todo mundo pulava para festejar um gol tricolor. É difícil a vida do torcedor infiltrado.
Minha relação com o futebol foi mudando ao longo dos anos. Fiquei triste com o rebaixamento em 2008 e doeu ver o choro do Pedrinho. Me animei com a boa fase em 2011. A dedicação de Juninho e Felipe, ambos próximos da aposentadoria, era bonita de ver. Sinto pelo gol que Diego Souza não fez na Libertadores em 2012. Mas devo dizer que nunca fui fanático.
Como jornalista, mudou de vez. Quando você visita os porões dos clubes, fica difícil torcer ingenuamente. O Vasco tem história belíssima, porém não posso dizer que me identifico com as pessoas que mandaram nele nas últimas décadas. Não reclamo. Talvez esse distanciamento me beneficie na profissão. Posso errar por razões diversas, mas clubismo não é uma delas.
Compreendo que colegas não queiram abrir preferências, por receio dos riscos. No meu caso, quero estabelecer uma relação de confiança com o público. Transparência é deixar que as pessoas saibam quem você é, ainda que certas características possam desagradar.
Lamento dizer aos vascaínos que não coloco o clube acima do trabalho. E espero que outros não deixem de confiar no que faço. O Vasco faz parte da minha vida por escolha, não por obrigação. O Vasco ajudou a construir a relação com meu pai. Eu torço para o Vasco.
Fonte: O Globo