Roberto Monteiro, Sérgio Frias e Elói Ferreira falam sobre eleição de 07/11; para o Vasco, assunto está encerrado
Fonte: Povo na Rua/Youtube Careca Vascaíno
Vasco: um ano após mais uma eleição judicializada
7 de novembro de 2020. Sábado. Se em campo o Vasco da Gama mais uma vez flertava com o rebaixamento na Série A do Campeonato Brasileiro, em posição obviamente indigna para sua grandeza, fora do campo o sentimento era de expectativa com a realização das primeiras eleições diretas para presidente do clube.
7 de novembro de 2021. Domingo. Dentro de campo um clássico contra o Botafogo com o rival como favorito e que pode decretar a permanência do Vasco na Série B pela primeira vez em sua história. Fora de campo, o clube é comandado por Jorge Salgado, eleito em um processo cheio de críticas e inconsistências.
Mas o que aconteceu em 7 de novembro de 2020 e nos 365 dias que se sucederam. E qual foi o resultado daquele sábado de votação em São Januário?
Os fatos provam que mais uma vez o Vasco da Gama não conseguiu se livrar de ver suas questões políticas judicializadas, como se fez em diversos fatos de sua história.
Como previa o estatuto do clube, as eleições presenciais do Vasco da Gama estavam marcadas na modalidade presencial para 7 de novembro desde 5 de setembro de 2020. Pouco antes, em 30 de agosto de 2020, a Assembleia Geral Extraordinária oficializou a implementação de eleições diretas no Vasco da Gama.
No dia 7 de outubro as chapas se inscrevem para a realização das eleições, mas logo após as ins-crições das chapas que participariam do pleito, o então presidente da Assembleia Geral do Vasco, Faues Cherene Jassus, o Mussa, divulga, em 28 de outubro, convocação de eleições online, utili-zando a plataforma "Eleja Online", com a pandemia do coronavírus como o grande argumento de sua tese. Vale lembrar que a contratação desta plataforma já era objeto de questionamentos dentro do clube por não ter participado por aprovação e ter sido feita pela pessoa do presidente da Assembleia Geral.
Tal fato foi criticado dentro do clube, na voz no então presidente Alexandre Campello e pelos de-mais candidatos à presidência do clube. "As manobras para a realização de uma eleição on-line, com uma empresa contratada pelo Presidente da AGE e, portanto, pela chapa que ele representa e na qual estão seus dois filhos e dois sobrinhos, são uma afronta ao Estatuto", disse o então presidente em matéria publicada pelo jornal Lance.
Um dia depois, Campello divulga edital com o chamamento para as eleições presenciais de 7 de novembro. Alguns dias depois, ele convoca uma reunião com todos os candidatos e presidentes de poderes do Vasco em 3 de novembro a fim de acertar os trâmites da eleição. Mussa era esperado para falar sobre a convocação das eleições online, mas não esteve presente sobre o argumento de que estava com problemas de saúde.
Durante o encontro duas empresas apresentaram propostas para realizar as eleições online, a serem analisadas por equipes especialistas em Tecnologia da Informação ligadas aos candidatos. Presentes na reunião, os candidatos Alexandre Campello, Sérgio Frias e Luiz Roberto Leven Siano saem do encontro com a certeza de que não havia segurança para a realização da eleição online. A única empresa que se mostrou capaz de fazer a eleição afirmou ser necessário o acesso a uma base de dados íntegra e confiável, sendo que na base de dados do clube aproximadamente 40% dos sócios não têm email nem celular. Dos demais candidatos, o atual presidente Jorge Salgado, buscava ainda a realização da eleição híbrida, e Julio Brant acreditava ser possível realizar a eleição online.
Naquele dia, enquanto a guarda estava baixa, com os candidatos buscando um entendimento a favor do Vasco, o presidente da assembleia geral consegue uma liminar de tutela antecipada que dá plenos poderes para a realização de eleições online no dia 14 de novembro. A eleição do Vasco es-tava mais uma vez judicializada.
No dia 6 de novembro, o desembargador Camilo Ribeiro Ruliere aceita a ação peticionada pelo candidato Leven Siano que pedia que se fizesse valer o estatuto do Vasco, que prevê eleições presenciais. A liminar que autorizava a realização das eleições online para o dia 14 cai e segue tudo normal para a realização das eleições presenciais do dia seguinte, sábado.
"No Vasco, você vota pegando a chapa e colocando na urna. E quem é responsável por imprimir o material e levar para o clube são as respectivas chapas. Todos fizeram isso. Cada um com seu volume de material pronto. No dia seguinte com exceção da minha chapa as outras chapas tinham carro de som em frente a são Januário, camisas dos candidatos, botons, não houve nenhum protesto sobre o início das eleições. No dia anterior, nas mídias sociais os grupos se diziam prontos para ganhar a eleição e a eleição correu ao longo do dia com as devidas medidas sanitárias tomadas", conta Sérgio Frias, então candidato.
Com o passar do tempo e da votação, ficava cada vez mais claro, pela quantidade de votantes utilizando a camisa do candidato Leven Siano e pelo movimento fora da sede de seus apoiadores que a vitória se aproximava. A pesquisa boca de urna também confiava o fato. Até que movimentos estranhos aconteceram.
"Uma imagem que me doeu bastante. Eles comemoraram a chegada da liminar como se fosse um gol. Pessoas estavam no restaurante do almirante e no momento que chegou a liminar os roxos e amarelos se abraçaram e começaram a comemorar. A gente olhou e questionou o que está acontecendo. O que eles estão pulando, comemorando", conta o Youtuber Leo Valente, presente em São Januário.
A tal liminar chegava para sacudir a primeira eleição direta para presidente do Vasco da Gama em cem anos. Concedida pelo então presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o minstro Humberto Martins, em plantão judicial, em um dia em que há afirmações de que a justiça estava fora do ar, a tutela provisória em razão de Mussa, suspende os efeitos daquela eleição que já estava para aca-bar, derrubando a edição anterior de Camilo Ruliere.
"O que aconteceu na noite de 7 de novembro de 2020 foi uma vergonha. Não tem adjetivo para falar que não seja esse. Vergonha. Entrando num plantão no STJ. O STJ estava fechado. Não tinha funcionamento. Tinha tido um hackeamento dentro do STJ ele estava parado. Conseguir essa liminar no transcurso do dia com segundas intenções. Se o Salgado tivesse na frente, se o Brant tivesse na frente nada ia acontecer", argumenta Eloi Ferreira, fundador do grupo Templários do Almirante.
O então candidato Sérgio Frias narra que a mesa diretora optou por continuar a votação, já que a liminar suspendia o resultado, mas não impedia a votação. "Eu tomei o cuidado de na época, naquele momento, lacrar aquela urna para que abrisse uma nova urna só para o período pós liminar. Naquele momento era absolutamente evidente para as pessoas que estavam no ginásio de votação a vitória do Leven Siano. Ao longo do dia foi visto que ele era o candidato que tinha mais votos. Isso era visível".
Ele completa que o atual presidente Jorge Salgado, depois de conversar com ele, o cumprimenta e logo depois sai junto com o então presidente e candidato à reeleição Jorge Salgado. Cerca de cinco minutos depois as luzes se apagam, mas os presentes esperam a energia voltar para finalizar a votação. O resultado aponta, como era esperado, a vitória de Leven Siano, mas infelizmente para o judiciário aquela eleição direta presencial não tinha valor.
"Tungaram o vencedor da eleição do Vasco da Gama. 3,7 mil pessoas compareceram presencial-mente para votar em um cenário de muita participação dos sócios, legitimando um determinado candidato, mas os poderosos do judiciário tiveram outra interpretação", conta Roberto Monteiro, então presidente do Conselho Deliberativo do Vasco da Gama.
Sob a liminar concedida pelo STJ, o presidente da Assembleia Geral convoca as eleições online para 14 de novembro, a serem organizadas pela mesma "Eleja Online" que já era questionada, em um sistema que já havia se mostrado sem credibilidade. Campelo, Leven Siano e Frias não participam.
"O resultado da popularmente conhecida como enquete virtual e não eleição, com 1/3 do quadro eleitoral votando, é a vitória de Jorge Salgado", narra Sérgio Frias".
E é nesse mesmo dia 14 que o ministro Humberto Martins enfim solta sua decisão para que ela siga os trâmites normais, coisa que deveria ter acontecido desde o dia 9. O ministro relator Ricardo Villas Bôas Cueva extingue a decisão de Humberto Martins. Mas o resultado do dia 7 não se fez valer e em janeiro, mesmo com apresentações de irregularidades no pleito online do dia 14 de novembro, com ações que feriam artigos da Lei Pelé, o atual presidente do Vasco Jorge Salgado tomaria posse.
No fim de setembro deste ano a Primeira Câmara Cível do TJ-RJ analisou recursos e manteve o resultado. A luta de grupos que não aceitam que o candidato que venceu nas eleições previstas no estatuto continua. E o sentimento é o mesmo, resumido pelo sócio estatutário Marcelo Santos: "O Judiciário sequestrou o Vasco".
Procurada para comentar os questionamentos, a atual gestão do clube se pronunciou via assessoria de imprensa: "O Vasco da Gama não vai se posicionar sobre o assunto, que considera encerrado".
Fonte: Povo na Rua